Aos 45 anos, a estudante de gastronomia Mônica Lambertucci deveria ser um exemplo para os colegas, o mercado e mesmo para as instituições que ensinam gastronomia. Explica-se: ela já é proprietária de uma empresa do ramo alimentício em Cabo Frio, litoral do Rio de Janeiro, de onde distribui salgados famosos entre os que frequentam principalmente a Praia do Forte. É também formada em ciências contábeis. Ainda assim, de volta à Belo Horizonte, decidiu tirar o segundo diploma, na área em que sempre gostou de trabalhar: culinária. Uma vez na escola, fica de olho em qualquer possibilidade de crescimento. Dia desses, ficou sabendo que haveria um festival gastronômico em Pipa, no Rio Grande do Norte, com o tema “caju”. Apaixonada principalmente por confeitaria, criou uma receita de sobremesa, e inscreveu-se. “Nem sou doceira de comer doce, mas fico encantada com a beleza das montagens, composições, texturas, criações em cima do chocolate”.
A partir da iniciativa, Mônica foi selecionada e disputa o título da categoria com três concorrentes. “É gratificante constatar que estou indo pelo caminho certo. Fui selecionada entre participantes de todo o Brasil, estudantes de gastronomia e profissionais formados neste ano”. Esposa, mãe, empresária e estudante entusiasmada, Ela só lamenta a falta de apoio e de patrocínio para a viagem (nem a instituição em que estuda demonstrou interesse). Mesmo assim, ela embarca logo no início do mês que vem para participar do 9º Festival Gastronômico da Pipa, realizado de 4 a 12 de outubro, no litoral do Rio Grande do Norte, a 80 km da capital Natal.
Na bagagem, a receita que disputa o título (e que deve ser mantida em segredo, em respeito ao regulamento do festival). “Nunca havia feito um sobremesa à base de caju antes, mas quando me vi desafiada pelo tema já comecei a pensar e a bolar possibilidades. Entre erros e acertos, cheguei ao resultado que parece ter agradado em cheio ao júri do concurso”, conta. Nomeada perfeição de caju, a sobremesa da estudante mineira irá concorrer com mais três opções: cartola da caju, bolo de castanha com sorvete de caju e delícia de caju. “Primeiro, deveríamos apresentar uma pesquisa completa sobre o tema. Em sequência, elaborar uma receita que privilegiasse a pseudofruta, a castanha ou o suco do caju. Mas acabei criando uma receita que leva as três partes”, adianta.
Descobertas A partir do desafio, Mônica diz estar mais atenta para um tipo de confeitaria ainda pouco explorada, a que privilegia ingredientes regionais. Tanto que para o Degusta ela criou uma sobremesa inédita, batizada de sonho de caju (veja receita na página). O doce mistura mousse de caju, chantili, biscoito champanhe e chocolate meio amargo. “Trata-se de uma reeleitura do pavê tradicional, em que substituo ingredientes habituais pelo caju, cujo frescor contrasta com o chocolate e o biscoito. A mistura ficou bem interessante”, avisa.
A partir do concurso do festival de Pipa, a estudante reforçou a ideia de que o Brasil tem uma infinidade de ingredientes que ainda não são usados na confeitaria. “No entanto, ninguém divulga tais produtos, vivem trazendo matéria-prima de fora, enaltecendo a confeitaria francesa”, critica.
A falta de holofotes sobre tais ingredientes também configura um problema de mercado, segundo Mônica. “Agora mesmo, com essa história do caju, precisava da fruta fresca, mas não a encontrava com facilidade. Perdi um tempão ligando todos os dias para o Mercado Central e nada de achar o produto. Avalio que tal escassez seja justificada pela pouca procura, em consequência da falta de iniciativas de divulgação, para o uso em cozinhas sofisticadas e mesmo no dia a dia”, desabafa.
Por outro lado, ela aplaude inciativas dos chefs brasileiros que têm dado visibilidade a ingredientes regionais, caso de Alex Atala e Manu Bufara, entre outros. “Muitos agem como os italianos, por exemplo, que privilegiam os produtos da época nas receitas”, lembra. Para Mônica, a confeitaria é uma área que permite inúmeras possibilidades de explorar frutas e castanhas típicas, como cajá, graviola, jabuticaba, castanha-de-baru, entre outras. “Tudo é possível. Basta pensar, criar, fazer acontecer.”
Sonho de caju
(Mônica Lambertucci)
Ingredientes
(para seis porções)
1 lata de de leite condensado (270g), 1 lata de creme de leite (200g), 1 medida da lata de creme de leite de suco de caju concentrado, meio sachê de gelatina em pó sem sabor (dissolvida em 2 colheres de sopa de água), 150g de biscoito champanhe, 50g de chocolate meio amargo em barra, 250ml de creme de leite fresco, 1 colher (sopa) de açúcar refinado, 1 colher (café) de baunilha, 100g de castanha de caju triturada, unidades de caju fresco (opcional).
Modo de fazer
Mousse: misture o leite condensado, creme de leite, suco de caju e a gelatina dissolvida (em banho-maria ou micro-ondas por 15 segundos), até que fique bem homogêneo. Reserve. Corte os biscoitos em cubinhos pequenos. Reserve. Rale o chocolate no ralo grosso. Reserve. Bata o creme de leite fresco com o açúcar e a baunilha até formar um chantilly leve. Reserve. Montagem: em taças individuais ou se preferir em uma taça grande transparente, coloque em camadas a mousse, os biscoitos, o chantilly e o chocolate ralado. Repita essas camadas mais uma vez, terminando com o chantilly. Salpique chocolate ralado e castanhas-de-caju trituradas. Decore com fatias de caju fresco ou como preferir.
A partir da iniciativa, Mônica foi selecionada e disputa o título da categoria com três concorrentes. “É gratificante constatar que estou indo pelo caminho certo. Fui selecionada entre participantes de todo o Brasil, estudantes de gastronomia e profissionais formados neste ano”. Esposa, mãe, empresária e estudante entusiasmada, Ela só lamenta a falta de apoio e de patrocínio para a viagem (nem a instituição em que estuda demonstrou interesse). Mesmo assim, ela embarca logo no início do mês que vem para participar do 9º Festival Gastronômico da Pipa, realizado de 4 a 12 de outubro, no litoral do Rio Grande do Norte, a 80 km da capital Natal.
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Descobertas A partir do desafio, Mônica diz estar mais atenta para um tipo de confeitaria ainda pouco explorada, a que privilegia ingredientes regionais. Tanto que para o Degusta ela criou uma sobremesa inédita, batizada de sonho de caju (veja receita na página). O doce mistura mousse de caju, chantili, biscoito champanhe e chocolate meio amargo. “Trata-se de uma reeleitura do pavê tradicional, em que substituo ingredientes habituais pelo caju, cujo frescor contrasta com o chocolate e o biscoito. A mistura ficou bem interessante”, avisa.
A partir do concurso do festival de Pipa, a estudante reforçou a ideia de que o Brasil tem uma infinidade de ingredientes que ainda não são usados na confeitaria. “No entanto, ninguém divulga tais produtos, vivem trazendo matéria-prima de fora, enaltecendo a confeitaria francesa”, critica.
A falta de holofotes sobre tais ingredientes também configura um problema de mercado, segundo Mônica. “Agora mesmo, com essa história do caju, precisava da fruta fresca, mas não a encontrava com facilidade. Perdi um tempão ligando todos os dias para o Mercado Central e nada de achar o produto. Avalio que tal escassez seja justificada pela pouca procura, em consequência da falta de iniciativas de divulgação, para o uso em cozinhas sofisticadas e mesmo no dia a dia”, desabafa.
Por outro lado, ela aplaude inciativas dos chefs brasileiros que têm dado visibilidade a ingredientes regionais, caso de Alex Atala e Manu Bufara, entre outros. “Muitos agem como os italianos, por exemplo, que privilegiam os produtos da época nas receitas”, lembra. Para Mônica, a confeitaria é uma área que permite inúmeras possibilidades de explorar frutas e castanhas típicas, como cajá, graviola, jabuticaba, castanha-de-baru, entre outras. “Tudo é possível. Basta pensar, criar, fazer acontecer.”
Sonho de caju
(Mônica Lambertucci)
Ingredientes
(para seis porções)
1 lata de de leite condensado (270g), 1 lata de creme de leite (200g), 1 medida da lata de creme de leite de suco de caju concentrado, meio sachê de gelatina em pó sem sabor (dissolvida em 2 colheres de sopa de água), 150g de biscoito champanhe, 50g de chocolate meio amargo em barra, 250ml de creme de leite fresco, 1 colher (sopa) de açúcar refinado, 1 colher (café) de baunilha, 100g de castanha de caju triturada, unidades de caju fresco (opcional).
Modo de fazer
Mousse: misture o leite condensado, creme de leite, suco de caju e a gelatina dissolvida (em banho-maria ou micro-ondas por 15 segundos), até que fique bem homogêneo. Reserve. Corte os biscoitos em cubinhos pequenos. Reserve. Rale o chocolate no ralo grosso. Reserve. Bata o creme de leite fresco com o açúcar e a baunilha até formar um chantilly leve. Reserve. Montagem: em taças individuais ou se preferir em uma taça grande transparente, coloque em camadas a mousse, os biscoitos, o chantilly e o chocolate ralado. Repita essas camadas mais uma vez, terminando com o chantilly. Salpique chocolate ralado e castanhas-de-caju trituradas. Decore com fatias de caju fresco ou como preferir.