“É uma fruta ainda muito desconhecida e ainda não chegou à cozinha dos grandes chefs. Quem sabe um dia”, afirma a sorveteira Rita de Medeiros. Autora do livro 'Sorbets e sorvetes: uma festa de frutas brasileiras', ela ensina como preparar sobremesas geladas com o fruto. É possível usá-lo também no preparo de outros doces e a chef faz experiência com o petit gateau. Com sabor bem característico, é o tipo de fruta que as pessoas amam ou odeiam.
É o que percebe o feirante Reinaldo Belchior Álves que deixa sempre um fruto aberto para quem deseja experimentar. “É muito procurado. O nosso vem direto de Montes Claros, é o mais tradicional”, garante. Ao falar dos benefícios da fruta, Reinaldo elenca que ela é rica em vitaminas, bem como tem função afrodisíaca.
O araticum é umas da frutas do cerrado que apresenta muita personalidade. A exemplo do pequi, seu aroma e o seu perfume são fortes, exuberantes e muito doce. “Quando suas frutas estão maduras, os visitantes logo reconhecem o cheiro, que de longe já chama a nossa atenção”, pontua. O mais comum é saboreá-lo in natura. Mas ele pode ser usado em doces, salgados e uma infinidade de experiências gastronômicas ainda podem ser feitas.
Como lembra Rita, uma das peculiaridades das frutas do cerrado é que os perfumes e os aromas se misturam mesmo entre espécime diferentes. Quando se prova o fruto murici ou o pequi, é possível perceber um toque parecido do araticum. Ao consumir qualquer um dos frutos, o apreciador se remete ao universo do Cerrado. “A gente consegue perceber o perfume de uma na outra. Isso é próprio de uma natureza em que nada foi mexido. As sementes não foram manipuladas. Por isso, ainda temos o perfume integral desde quando as primeiras sementes surgiram, há mais de 1 mil anos.”
Rita ressalta que não há pesquisas científicas em torno disso e a forma de entender por que os aromas se misturam pode ser explicada pela poesia. “Pela ciência a gente ainda não chegou lá”, brinca. “A meu ver, a gente tem que entender as frutas do cerrado pelo lado da poesia. Elas, como nenhuma outra, aprenderam a dividir o território e as suas raízes acabam mesmo se misturando, gerando um bloco único e fantástico de espécie tão diversas.”
No Guia Ilustrado de Plantas do Cerrado de Minas Gerais, o araticum aparece com destaque. De acordo com a publicação, os sertanejos não se desfazem da árvore em virtude de seus frutos. Por essa razão, é uma das espécies poupadas do carvoejamento, o que ocorre com outras espécies. Também é conhecido popularmente como cabeça-de-negro, nome esse derivado do aspecto e forma de seus frutos.
A árvore costuma ter tronco ereto e pode alcançar até oito metros de altura. A casca é clara e se descama como cortiça. O fruto é carnoso e com várias sementes. Pesa em média 1 quilo. A parte externa é dura e escura. A polpa é dourada, de cheiro forte. Nativo do Planalto Central brasileiro, o araticum pode ser encontrado nas áreas de cerradão, cerrado, cerrado denso, cerrado ralo e campo rupestre. Sua distribuição ocorre no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí e Tocantins.
Petit gateau de araticum (para 1 unidade)
Ingredientes
10 gemas, 200g de chocolate branco picado (não pode ser o fracionado), 200 gramas de manteiga de leite sem sal, 50 gramas de polpa de araticum passada por uma peneira, 100 gramas de farinha de trigo, uma pitada de sal
Derreta o chocolate com a manteiga em um microonda, cuidando para não queimar. Use a potência baixa por quatro minutos, se for necessário coloque por mais um minuto. Acrescente à mistura de chocolate e manteiga 10 gemas e cinco claras mexidas com um garfo muito bem. Nesta receita você vai descartar 5 claras que podem ser usadas em um bolo ou pudim de claras. Acrescente o açúcar e a polpa de araticum e a farinha de trigo. Leve essa mistura para uma geladeira. Reserve por uma hora.
Enquanto isso, prepare as forminhas de petit gateau ou de empadinhas da seguinte maneira: unte todas elas e sobre elas polvilhe chocolate em pó. Leve as forminhas vazias para um freezer por mais ou menos uma hora. Preencha cada uma delas com a mistura de petit gateau. Mantenha-as na geladeira até a hora de assar. Para assá-las faça assim: esquente o forno convencional até 250 a 300 graus. Quando estiver bem quente. Coloque as forminhas e asse-as por apenas 7 minutos. Retire-as do forno e espere alguns segundos para desenformar. Sirva imediatamente.