Gastronomia internacional reconhece valor da cachaça de Minas

Madrid Fusión, maior festival do setor no mundo, teve amostras da bebida em última edição

por Estado de Minas 28/02/2013 09:28
Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Culinaristas exploram possibilidades da bebida como no lombo feito com dose da cachaca Senzala, servido no Bar do Bigode (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Famosa nas mesas de bares e botequins de todo o país, onde ganhou dezenas de apelidos, aos poucos a cachaça conquistou espaço também na cozinha de restaurantes renomados. Seguindo os passos da vodca e do uísque, a mineiríssima dá mostras de que pode, sim, mesclar tradição e sofisticação em pratos da alta gastronomia.

 

Não à toa, esteve presente, com status de celebridade, no maior festival de gastronomia do planeta– o Madrid Fusión –, onde, ao lado do café e do queijo, representou a culinária mineira, homenageada este ano. A participação de Minas no evento foi viabilizada com parceria do Governo de Minas e entidades empresariais.


Seja na feijoada, na paella mineira ou na costelinha, fato é que a principal harmonização da iguaria se dá com a carne de porco, outro ingrediente típico da cozinha mineira, segundo especialistas no assunto. Mas outras carnes – vermelhas e brancas – também podem ser combinadas com a bebida.

 

A chef Rosângela Carneiro, do restaurante Jardim de Minas, por exemplo, criou uma rabada embebida na cachaça, receita segunda colocada na preferência do público do Festival Cachaça Gourmet. Ela avalia que a introdução da bebida no prato garante a ele maior requinte, exatamente por ser um ingrediente original da terra.

 

“O álcool evapora e ficam os aromas. Resta apenas o buquê”, explica Rosângela, com experiência na cozinha de restaurantes da França, Espanha e até Venezuela. Mas ela acrescenta que dependendo do prato não podem ser usadas cachaças muito destiladas, para evitar alterar tanto o sabor da carne.


Assim como o do uísque e o do vinho, o período de envelhecimento da cachaça em barris de madeira confere a ela sabores e aromas. Por isso, a variedade da madeira e o tempo de descanso são essenciais na formação da bebida. Ao longo do tempo, a coloração ganha aspecto dourado e detalhes sentidos na gustação, que vão desde o aroma frutado ao adocicado. Por isso, a gastrônoma Rosilene Campolina, idealizadora do Festival Cachaça Gourmet, no qual todos os pratos são feitos tendo a bebida como componente, diz ser essencial saber selecionar o tipo de bebida a ser usada na cozinha.

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Matheus Naranjo desenvolveu drink vencedor da 5ª edição do festival Cachaça Gourmet (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Além do boteco

A especialista acredita que bem ao jeitinho mineiro a pinga desfez tabus e adquiriu status similar ao de produtos requintados, como o vinho. “Tinha-se ideia da cachaça no boteco. Mas ela foi parar na gastronomia. Deu um upgrade. E mostra vontade de alcançar o nível gourmet”, afirma Rosilene, que, em 2007, foi segunda colocada no concurso sul-americano Les chefs Sofitel, com um bacalhau flambado na cachaça.


Como a culinária não se restringe ao que se faz para comer, outra opção é usar a cachaça na elaboração de drinques variados. Até porque não é só caipirinha que se pode fazer com o destilado. O barman Matheus Naranjo comprovou a versatilidade quando criou um short drink feito com a simples mistura de cachaça, licor e leite de coco. “Tem a leveza do licor, mas causa o efeito da cachaça”, brinca. Talvez por isso se chame Cachaça fest, vencedor do concurso de drinques da 5ª edição do Festival Cachaça Gourmet.

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