Madri – Foi a legítima chave de ouro. Depois das participações de alto nível de chefs mineiros no Madrid Fusión, na capital espanhola, o cozinheiro mais famoso do Brasil, o paulistano Alex Atala, fez palestra brilhante no encerramento do congresso de gastronomia, ontem à tarde. O chef falou de ingredientes nacionais de que muitos brasileiros jamais ouviram falar e – o mais importante – destoou dos demais convidados ao adotar discurso politicamente engajado, explicando como a cena gastronômica pode ter papel transformador.
“Em comunidades do Vale do Paraíba, em São Paulo, já conseguimos mudar a vida de muita gente com o arroz preto. Cozinha é ferramenta importante. A baunilha do cerrado, por exemplo, tem a virtude de nascer da orquídea, planta que todas as mulheres querem em casa. Seu preço pode ser mais alto do que o da baunilha estrangeira, cujo quilo compramos por US$ 500. Cada planta dá 12 favas por estação, ou seja, 1kg de baunilha”, calculou Alex.
Além de exibir vídeo contundente, sintetizando por meio do enfoque gastronômico o conceito de sustentabilidade em seu sentido mais amplo (meio ambiente, cadeia produtiva e consumo), o talentoso proprietário do Restaurante D.O.M. preparou quatro receitas ligadas ao tema de sua palestra, “Brasil pré-Portugal”. Usou maçã de coco (espécie de embrião da fruta, com textura esponjosa), cumaru, baunilha do cerrado, requeijão, mel de abelha selvagem nacional, mandioca, ervas marinhas e alga comestível retirada da costa brasileira. Sobre essa última, o chef confessou: “Nem imaginava que isso existia”.
A baunilha de Atala é especiaria preciosa: extraída de orquídeas do cerrado mineiro, costuma ser comida por macacos. “Ela se tornou mais difícil do que caviar ou trufa. Não devo ter nem 10 em meu restaurante”, contou. O chef a usou num vinagrete para o prato com maçã de coco, que leva alga comestível, cumaru, alho negro e picles de legumes. “São ingredientes distintos e potentes. Na boca, dá-se uma briga de sabores para ver qual deles se sobressai”.
Atala criticou o governo brasileiro pelo fato de, há poucos anos, ele ter feito palestra no Madrid Fusión sem contar com qualquer apoio institucional. O chef aprovou a iniciativa do governo de Minas Gerais de viabilizar, em parceria com o setor privado, a promoção da gastronomia do estado no congresso europeu. Afinal de contas, Minas foi a grande homenageada desta edição, que até então havia destacado apenas países, como Peru e Coreia. “Espero que isso provoque os outros estados e até estimule a nossa união. Os peruanos ultrapassaram o Brasil na gastronomia não por serem melhores, mas porque trabalharam bem”, lembrou o chef.
Apoio
Chefs mineiros estão ansiosos por continuar a receber apoio oficial para divulgar a gastronomia do estado. O governador Antonio Anastasia prometeu: “Vamos participar e até apoiar financeiramente, pois gastronomia é política pública do estado. Só que a execução disso caberá à sociedade civil”. Segundo ele, o condutor do processo será o secretário de Turismo, Agostinho Patrus Filho.
A missão de Anastasia na Espanha incluiu encontros com políticos e empresários. “Organizaremos missão espanhola para visitar Minas Gerais e identificar oportunidades”, anunciou o governador. Os espanhóis têm interesse em investir em infraestrutura (estradas e ferrovias), energia solar, eólica e gás, além dos setores de restauração de patrimônio e hotelaria. BH, aliás, já está na agenda de representantes da companhia aérea Iberia.
Conexão Minas-Madri
» Ao parabenizar os jovens chefs mineiros que se apresentaram no Madrid Fusión, o criador do congresso, José Carlos Capel, não se acanhou. Pediu, descaradamente, uma das manteigas de garrafa levadas do Brasil. Ele se apaixonou pelo ingrediente quando visitou Minas Gerais, no ano passado.
» Ciente dos riscos na alfândega, cada chef mineiro levou, em média, 40kg de ingredientes para aulas e jantares espanhóis. Palmito, queijo e jiló foram alguns deles. Mesmo as matulas descobertas por fiscais puderam entrar na Espanha, graças à carta emitida pela organização do Madrid Fusión.
» Durante o coquetel de abertura do congresso, chamou a atenção a trilha sonora que soou pelo imponente Casino de Madrid. A boa música brasileira, tocada com alegria e leveza, partiu do grupo de choro Flor de Abacate. Até os engravatados dançaram.
“Em comunidades do Vale do Paraíba, em São Paulo, já conseguimos mudar a vida de muita gente com o arroz preto. Cozinha é ferramenta importante. A baunilha do cerrado, por exemplo, tem a virtude de nascer da orquídea, planta que todas as mulheres querem em casa. Seu preço pode ser mais alto do que o da baunilha estrangeira, cujo quilo compramos por US$ 500. Cada planta dá 12 favas por estação, ou seja, 1kg de baunilha”, calculou Alex.
saiba mais
Jovens chefs apresentam ao público do Madrid Fúsion releituras sofisticadas de pratos da tradicional cozinha mineira
Lombo, farofa e umbigo de bananeira foram estrelas no Madrid Fusión
Culinária mineira está no centro da programação da 11ª edição do Madrid Fusión
Casa de Alex Atala é segunda colocada em lista de melhores restaurantes da América Latina
Revista britânica prepara lista dos 50 melhores restaurantes na América Latina
A baunilha de Atala é especiaria preciosa: extraída de orquídeas do cerrado mineiro, costuma ser comida por macacos. “Ela se tornou mais difícil do que caviar ou trufa. Não devo ter nem 10 em meu restaurante”, contou. O chef a usou num vinagrete para o prato com maçã de coco, que leva alga comestível, cumaru, alho negro e picles de legumes. “São ingredientes distintos e potentes. Na boca, dá-se uma briga de sabores para ver qual deles se sobressai”.
Atala criticou o governo brasileiro pelo fato de, há poucos anos, ele ter feito palestra no Madrid Fusión sem contar com qualquer apoio institucional. O chef aprovou a iniciativa do governo de Minas Gerais de viabilizar, em parceria com o setor privado, a promoção da gastronomia do estado no congresso europeu. Afinal de contas, Minas foi a grande homenageada desta edição, que até então havia destacado apenas países, como Peru e Coreia. “Espero que isso provoque os outros estados e até estimule a nossa união. Os peruanos ultrapassaram o Brasil na gastronomia não por serem melhores, mas porque trabalharam bem”, lembrou o chef.
Apoio
Chefs mineiros estão ansiosos por continuar a receber apoio oficial para divulgar a gastronomia do estado. O governador Antonio Anastasia prometeu: “Vamos participar e até apoiar financeiramente, pois gastronomia é política pública do estado. Só que a execução disso caberá à sociedade civil”. Segundo ele, o condutor do processo será o secretário de Turismo, Agostinho Patrus Filho.
A missão de Anastasia na Espanha incluiu encontros com políticos e empresários. “Organizaremos missão espanhola para visitar Minas Gerais e identificar oportunidades”, anunciou o governador. Os espanhóis têm interesse em investir em infraestrutura (estradas e ferrovias), energia solar, eólica e gás, além dos setores de restauração de patrimônio e hotelaria. BH, aliás, já está na agenda de representantes da companhia aérea Iberia.
Conexão Minas-Madri
» Ao parabenizar os jovens chefs mineiros que se apresentaram no Madrid Fusión, o criador do congresso, José Carlos Capel, não se acanhou. Pediu, descaradamente, uma das manteigas de garrafa levadas do Brasil. Ele se apaixonou pelo ingrediente quando visitou Minas Gerais, no ano passado.
» Ciente dos riscos na alfândega, cada chef mineiro levou, em média, 40kg de ingredientes para aulas e jantares espanhóis. Palmito, queijo e jiló foram alguns deles. Mesmo as matulas descobertas por fiscais puderam entrar na Espanha, graças à carta emitida pela organização do Madrid Fusión.
» Durante o coquetel de abertura do congresso, chamou a atenção a trilha sonora que soou pelo imponente Casino de Madrid. A boa música brasileira, tocada com alegria e leveza, partiu do grupo de choro Flor de Abacate. Até os engravatados dançaram.