Eles já foram vistos como um simples divertimento de crianças e adolescentes. O tempo passou, a prática se popularizou, as quantias de dinheiro envolvidas cresceram e os games se tornaram assunto importante no mercado tecnológico. Nesse processo, se tornaram até esporte na visão de alguns, a ponto de pleitear uma vaga no programa olímpico, redefinidos como e-sport, modalidade cujas competições lotam ginásios e atingem grandes índices de audiência, quando transmitidas pela TV ou pela internet. Se para a sociedade o lugar do game ainda é confuso, para seus desenvolvedores fica claro que se trata de uma expressão cultural cada vez mais importante. Fortalecidos pelo aporte financeiro recorde prometido pelo Ministério da Cultura para o setor, profissionais dos jogos eletrônicos no Brasil defendem a importância da atividade como narrativa audiovisual.
Criada por mineiros, Dandara é a história de uma heroína negra que tem a missão de libertar seu povo, escravizado por um exército opressor. Poderia ser um longa-metragem ou uma peça de teatro, mas é um videogame. As ações da protagonista são controladas pelo espectador, que testemunha e participa da narrativa em questão. Em umas das passagens, ela se encontra com a artista modernista Tarsila do Amaral, que desbloqueia uma de suas habilidades.
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Em abril, o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, encontrou-se com a diretoria da Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Games (Abragames) e representantes do Conselho Superior de Cinema (CSC) e da Agência Nacional do Cinema (Ancine) em São Paulo. O objetivo era começar a definir as novas linhas de investimento que utilizarão recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) para incentivar a expansão da indústria de jogos eletrônicos no país. O valor total, de acordo com o MinC, será de R$ 100 milhões, via editais a serem divulgados.
Presidente da Abragames, o gaúcho Sérgio Manfredini explica que, apesar de ainda estar em fase inicial, o investimento será muito importante. “Estamos trabalhando em como esses investimentos vão ocorrer. Hoje, existe um grupo de games no CSC, no qual o próprio ministro se envolve. Há um esforço para fomentar esse setor.
Manfredini destaca que os games são o “audiovisual interativo”. “É também uma manifestação cultural, como o filme, como uma animação ou quadrinhos. A gente vê isso com bastante tranquilidade e naturalidade. Se a gente fosse enterrar uma cápsula para outra civilização encontrar algo nosso, filmes estariam, livros estariam, e os games também. Por isso interagimos muito bem com o MinC. Por mais que tenha essa questão da tecnologia, é uma expressão muito mais narrativa e cultural”, argumenta.
Em Minas Gerais, os envolvidos com o desenvolvimento de jogos já procuram se fortalecer há um tempo, compartilhando experiências e conhecimentos.
“Jogo é cultura. É um filme em que é possível interagir, tomar decisões, mudar o rumo da história e essa construção envolve vários artistas, desde o roteirista que escreve, a arte gráfica conceitual, os músicos que dão a contribuição deles nas trilhas sonoras, além dos dubladores, que são atores e interpretam. Até pouco tempo atrás, ninguém via o game como cultura, mas o jogo transforma, marca a vida de uma pessoa e cria referências”, defende o professor, que, além do Dandara, lembra de Mr. Square, de 2015, do estúdio Ludic Side, como um importante produto lançado pelo mercado mineiro de games recentemente. Jogável em smartphones, tem uma temática mais simples, possível para o público infantil, mas já atingiu mais de 5 milhões de downloads.
Há 15 anos envolvido no setor, Raoni já lançou quatro jogos pela Mopix. O principal deles foi Magic master, também disponível para IOS e Android, em que o personagem tem que derrotar hordas inimigas com poderes mágicos. Desde que começou a se dedicar à produção de games, passando por cursos no exterior com referências mundiais do ramo, a exemplo dos fundadores da gigante EA Games, ele reforça que é importante que os investimentos do MinC privilegiem quem está começando. “Até pouco tempo atrás, a política cultural do Brasil via os jogos como coisa de criança, de gente desocupada, mas isso está mudando. Produzir um game exige muita dedicação, muito trabalho, não é 100% prazeroso como alguns imaginam.
Abaixo, confira o trailer do jogo Dandara: