Assim como no primeiro jogo da série, o protagonista é capaz de fazer praticamente tudo com seu smartphone: mudar semáforos, hackear câmeras de segurança, invadir conversas de outros celulares e por aí vai. A chamada “internet das coisas” testa seus limites e deixa o jogador pensativo sobre como tudo aquilo que é mostrado na tela é completamente possível de ser feito.
O que está em jogo aqui é a grande moeda de troca do século 21: a informação. Gigantes da indústria obtêm dados sobre praticamente tudo o que você consome. Seu seguro de vida sabe das muitas pizzas que você comeu e vai encarecer o seu plano de saúde. Seus hábitos de compra se tornam algoritmos para lhe oferecer outros produtos – algo que já é visto hoje em qualquer navegador. É neste contexto, bastante próximo das discussões éticas que tomaram conta não só de enredos no entretenimento, mas também do debate filosófico sobre o futuro da humanidade, que o jogo se concentra.
DEADSEC Diferentemente da primeira versão, em que um drama pessoal estava no centro de toda a história, desta vez você é Marcus Holloway, um hacker jovem e bem-humorado que se une a um grupo de experts no ramo – o Deadsec, algo como um Anonymous potencializado – para combater o “mal” do sistema que usa seus dados.
Sua missão principal é uma só: conseguir o máximo de “curtidas” possíveis para o aplicativo da gangue Deadsec nas redes sociais, para ganhar mais poder nesta sociedade que valoriza tanto os dados de usuários.
E para atingir tal objetivo, vale lançar mão de tudo – até fazer selfies. O nível de detalhes da trama para fazer com que você realmente pense que está naquele universo é bastante divertido. O smartphone do protagonista pode ser aberto como se fosse um menu do jogo e permite ao jogador acionar músicas (parece, mas não é Spotify), chamar um carro (mas não é Uber), buscar missões e, sim... fazer fotos suas em meio a uma briga ou em um cenário bonito e publicá-las nas redes sociais (em uma rede social que também não é Facebook).
Você se verá cumprindo missões que certamente caberiam em uma série de TV. Em uma delas, por exemplo, terá de invadir a sede de uma falsa igreja para provar que ela mente para seus fiéis e até utiliza relíquias de mentira para fidelizá-los. E como provar isso? Quebrando as relíquias e postando o vídeo na internet, é claro.
A história do jogo flui como uma comédia americana para assistir sem compromisso. A localização dos diálogos para o português ficou ótima e muitas expressões usadas pelos personagens são bem próximas da realidade. É possível que um jogador com seus 30 e tantos anos possa estranhar algumas gírias, mas, acredite – alguém mais novo provavelmente as utiliza no dia a dia. Palavrões e piadinhas entre os hackers acontecem o tempo todo – eles se comunicam constantemente entre as missões – e deixam o jogador, ainda que no modo single player, com uma sensação de estar acompanhado o tempo todo.
(Luiz Fernando Toledo/Estadão Conteúdo)
WATCH DOGS 2
Da produtora e publisher Ubisoft
Plataformas: PS4, Xbox One e PC
Preço: R$ 200