São Francisco – Pessoas perseguindo Pikachus e Bulbassauros em um hospital de Amsterdã, desafios de Pokémon em Sidney, jovens que se arriscam em áreas privadas nos Estados Unidos: a febre de Pokémon Go, o jogo de realidade aumentada que permite capturar essas criaturas, se espalhou pelo mundo. Em parques, estações de metrô, cafeterias, em todas as partes pode-se ver a mesma cena: “caçadores” com o rosto grudado nas telas de seus smartphones tentam capturar esses pequenos personagens da ficção, escondidos – graças à tecnologia – no mundo real. É quase meia-noite, mas Roland James Rodas não hesita em pular da cama e sair de casa com um único objetivo: capturar um Pokémon noturno que ronda nos arredores. Já Edith Duro interrompeu seu jantar para caçar os pequenos personagens em San Francisco.
Desde a semana passada, a versão gratuita de Pokémon Go, baseada na tecnologia de realidade aumentada que acrescenta elementos virtuais às imagens do mundo real focadas pelas câmeras dos celulares, está disponível nos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. A versão século 21 desse jogo, cujo desenho animado conquistou o mundo inteiro há 20 anos, não se joga com cartas, mas com um smartphone. O aplicativo utiliza a geolocalização e câmeras dos aparelhos para trazer as pequenas criaturas para o mundo real. O Pokémon Go usa a localização por satélite dos smartphones e as capacidades de gráfico e câmera para cobrir o mundo real com monstros animados, desafiando os jogadores a capturar e treinar as criaturas para batalhas.
O sucesso do jogo, baixado até essa data mais de 7 milhões de vezes, se baseia na combinação entre real e virtual. “Tinha ouvido falar do jogo de realidade aumentada, mas não tinha compreendido bem o que isso significava antes do jogo ser lançado”, conta Roxanne Cook, enquanto caça em um parque durante seu intervalo de almoço.
Rodas, de 23 anos, passou o último final de semana jogando, parando apenas para dormir (um pouco), comer e, sobretudo, carregar o celular para poder continuar a caça. “Todo o mundo quer jogar”, afirma, acrescentando: “fazia muito tempo que eu não passava tanto tempo com meus colegas. Agora nos encontramos com frequência só para passear e jogar”.
De fato, o Pokémon Go parece priorizar a socialização e a atividade física. “É muito legal ter um jogo que realmente te obrigue a caminhar em vez de ficar sentado na frente de uma tela de televisão com um controle na mão”, conta Lucas García, de 17 anos, da Califórnia, nos EUA.
Roxanne Cook, que é mãe, reconhece que tem levado mais tempo para chegar ao trabalho de bicicleta, “porque para a cada PokéStop”, os locais de abastecimento. Roxanne, como muitos jogadores, afirma que “há um pouco de saudade e, como tudo o que é viral, todo mundo quer saber do que se trata”, afirma.
Quase uma semana depois de seu lançamento, Pokémon Go já conquistou números positivos nas plataformas da Google e da Apple onde os aplicativos são baixados. Pokémon Go já gerou milhões de dólares e, no começo da semana, ajudou a ação da Nintendo a aumentar em 25%.
O inusitado sucesso do jogo, que em algum momento foi visto como exclusivo para os pré-adolescentes, se converteu em uma loucura quase generalizada. Os incidentes aumentaram nos EUA até o ponto de as autoridades pedirem que os jogadores não invadam propriedades ou ultrapassem zonas cercadas apenas para capturar um Pokémon. Bicicletas e carros param de repente para capturar um Pokémon, correndo o risco de causar acidentes.
Neste contexto, o museu do Holocausto em Washington pediu aos jogadores que não joguem no local. O jogo ainda não está disponível em todos os países. A Niantic, a startup dissidente da Google que criou Pokémon Go juntamente com a Nintendo, e a The Pokémon Company, têm retardado até agora o lançamento mundial.
Auschwitz proíbe o Pokémon Go
O Museu de Auschwitz, na Polônia, pediu aos responsáveis pelo Pokémon Go que retirem o local do jogo para celulares. “Na terça-feira enviamos carta à empresa Niantic pedindo que retirem a geolocalização do campo de seu aplicativo”, afirmou Pawel Sawicki, porta-voz da instituição. “Consideramos estas práticas fora de contexto. Foi aqui que milhares de pessoas sofreram, judeus, poloneses, ciganos, russos e pessoas de outras nacionalidades”, explicou, acrescentando que a instituição quer “sensibilizar de maneira geral todos os produtores de jogos sobre o respeito à memória das vítimas do maior campo de concentração nazista da Segunda Guerra Mundial”.
O campo de Auschwitz receberá a visita do papa Francisco e de ao menos 300 mil jovens durante a Jornada Mundial da Juventude, que irá ocorrer entre 26 e 31 deste mês na Cracóvia, Sul da Polônia.