Símbolo da resistência à ditadura dos coronéis e famoso pela trilha sonora do filme "Zorba, O Grego", o grande compositor grego Mikis Theodorakis faleceu em Atenas aos 96 anos, informaram nesta quinta-feira (2/9) fontes do hospital em que ele estava internado.
Embora tenha conquistado fama mundial com o filme de 1964 protagonizado por Anthony Quinn, Theodorakis é autor de uma obra prolífica que vai de sinfonias até oratórios, com uma importante contribuição para a renovação da música popular.
Ele é o compositor das trilhas sonoras de quase 20 filmes, incluindo "Z", "Estado de Sítio" e "Sérpico".
Ele sofria de problemas cardíacos há alguns anos e teve que ser hospitalizado.
"Mikis Theodorakis passa agora à eternidade. Sua voz foi silenciada e com ele todo o helenismo", afirmou o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, que decretou três dias de luto nacional.
"Hoje perdemos uma parte da alma da Grécia. Mikis Theodorakis, nosso Mikis, o professor, o intelectual, o resistente, se foi. Ele, que fez com que todos os gregos cantassem os poetas", declarou a ministra da Cultura, Lina Mendoni.
O presidente da República, Eikaterini Sakellaropoulou, elogiou um "grande criador grego e universal, um valor inestimável para toda nossa cultura musical que dedicou sua vida à música, à arte, ao nosso país e a seus habitantes, às ideias de liberdade, justiça, igualdade e solidariedade".
Nascido em 29 de julho de 1925 em Chios, no Mar Egeu, em uma família de origem cretense, Mikis Theodorakis participou muito jovem na resistência contra os nazistas e, com o passar dos anos, se tornou um símbolo nacional da Grécia.
Muito ativo ao lado dos comunistas durante o conflito civil que explodiu na Grécia após a Segunda Guerra Mundial, ele foi deportado para a ilha prisão de Makronisos, onde foi torturado. Depois viajou a Paris com o objetivo de estudar no Conservatório.
Ao retornar a Atenas, se vinculou a Grigoris Lambrakis, deputado do partido de esquerda EDA, assassinado em novembro de 1963 em Tessalônica pela extrema-direita, com a cumplicidade do aparelho do Estado. O filme "Z", do cineasta Costa Gavras, é dedicado a este caso.
Theodorakis foi detido desde o início da ditadura dos coronéis, que começou em 21 de abril de 1967.
Exílio e popularidade
Anistiado um ano mais tarde, ele liderou um movimento clandestino e foi colocado em prisão domiciliar. Sua popularidade não parou de crescer e, para tentar silenciá-lo, os coronéis voltaram a determinar sua detenção e proibiram sua obra.
Ele virou o símbolo da resistência à ditadura e a junta militar se viu obrigada a permitir sua saída, a Paris, diante da pressão da comunidade internacional.
Quando a ditadura caiu em 1974, ele foi recebido por uma multidão em 24 de julho no aeroporto de Atenas, que gritou seu nome.
Na ocasião, ele decidiu oferecer apoio de maneira surpreendente a Constantin Caramanlis, o estadista de direita que organizaria a volta da democracia. Uma frase atribuída ao compositor, "Caramanlis ou os tanques", provocou durante muito tempo a irritação de seus colegas de esquerda.
Durante a crise financeira que afetou a Grécia há alguns anos, ele se manifestou contra as medidas de austeridade impostas pelos credores do país (Banco Central Europeu, União Europeia e Fundo Monetário Internacional).
Em 2012, foi alvo de gás lacrimogêneo quando protestava diante do Parlamento em Atenas.
Nos últimos anos, Theodorakis militava contra o acordo assinado por Grécia e Macedônia sobre o novo nome do país vizinho, que se tornou Macedônia do Norte.
O compositor era casado com Myrto, sua companheira de toda a vida, e tinha dois filhos, Marguerite y Georges.