Concursos e leis de incentivo inspiram os novos escritores

Premiações literárias tradicionais e até mesmo as que recorrem a financiamentos coletivos viram porta de entrada para autores estreantes

Guilherme Augusto 27/01/2021 04:00
Os concursos são, desde sempre, uma ótima porta de entrada para o mundo das artes. E têm se mantido como alternativa a um mercado literário com restrições para publicação e distribuição de obras, especialmente as ligadas a autores iniciantes. Em alguns deles, editoras recorreram a financiamentos coletivos para ajudar a viabilizar os projetos. Já outros consagrados, como o Prêmio Sesc, tiveram mais de 16 mil livros inscritos e 31 escritores revelados desde sua criação, em 2003. Noutra ponta, as leis de incentivo vêm também assegurando a produção no universo da literatura nacional, seja por meio de publicações, seja alimentando as reflexões sobre a cena cultural do país.
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Vaquinha em nome da poesia

Desde 2014, a Crivo Editorial realiza o Poesia InCrível, concurso que seleciona poetas para terem suas obras inéditas publicadas. A iniciativa tem como objetivo estimular o surgimento de novos autores e autoras de poesia em Belo Horizonte e região metropolitana. Na última edição, foram publicados os livros Ano bissexto (2018), de Neilton dos Reis, e Estar onde eu não estou (2018), de Olivia Gutierrez.

Em outubro de 2020, as poetas Luiza Camisassa e Cibelih Hespanhol foram selecionadas pelo concurso. A primeira receberá um prêmio em dinheiro e terá 1 mil exemplares de seu livro impressos. Já a segunda terá garantida a impressão de 500 exemplares. A seleção das obras foi feita por uma banca curadora composta pelos editores da Crivo e convidados.

Camisassa foi selecionada pelo livro Coração à larga, sua primeira publicação, que se desdobra como uma espécie de diário-poema pensado como exercício de escrita.

Já o trabalho de Hespanhol é o livro Barulhos da chuva, que marca também sua estreia no universo das letras. A obra fala sobre a solidão e faz uma comparação entre esse sentimento e os sons produzidos por um temporal.

Para viabilizar os lançamentos, a editora abriu uma campanha de financiamento coletivo por meio da plataforma Evoé (evoe.cc/poesia-incrivel) com o objetivo de arrecadar R$ 23 mil. O valor cobre a impressão dos dois títulos, a remuneração das autoras e da equipe envolvida no concurso, além dos custos de divulgação e edição.

A campanha segue até domingo (31 de janeiro) e os interessados podem doar de R$ 10 a R$ 400. Cada valor corresponde a uma recompensa. Quem doar R$ 50, por exemplo, ganha os dois livros e um marcador de páginas.

O lançamento de Coração à larga e Barulhos da chuva está previsto para ocorrer entre fevereiro e março, em evento on-line, com a participação das autoras e convidados. No mesmo contexto, a Crivo pretende realizar uma oficina e sarau literário.

Crônicas sobre a pandemia vêm aí

Membro da Academia Marianense de Letras e escritora do Movimento de Arte Aldravanista, Andreia Donadon Leal foi selecionada no edital estadual da Lei Aldir Blanc para publicar o livro Impressões sobre a pandemia – Crônicas, que será editado pela Aldrava Letras e Artes.

Trata-se de uma coletânea de crônicas produzidas ao longo de 2020 que trazem reflexões sobre as preocupações da sociedade diante do novo coronavírus, além de criticar políticas públicas e expor dúvidas, angústias, experiências e dilemas sobre o cotidiano pandêmico.

A publicação é dedicada às vítimas da COVID-19, aos profissionais da saúde e à memória do médico e escritor Gilberto Madeira. José Luiz Foureaux de Souza Júnior, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), assina a apresentação do livro, que conta com prefácio do presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares.

O projeto prevê o lançamento em bibliotecas de Mariana e em academias de letras, além da opção virtual, com previsão de aulas remotas para alunos das redes de ensino público e particular.

Prêmio clássico, porta de entrada

Um dos concursos literários mais importantes do Brasil, o Prêmio Sesc de Literatura está com inscrições abertas para a edição 2021. Obras ainda não publicadas podem ser inscritas até 19 de fevereiro nas categorias romance e conto. Todo o processo de inscrição é gratuito e on-line.

Os vencedores terão as obras publicadas e distribuídas pela editora Record, com tiragem inicial de 2 mil exemplares. Desde a criação do prêmio, em 2003, mais de 16 mil livros foram inscritos e 31 novos autores foram revelados, a exemplo de Juliana Leite, Tobias Carvalho, Rafael Gallo, Luisa Geisler, André de Leones e Sheyla Smanioto, entre outros.

A curadoria e seleção das obras obedece a um sistema criterioso e democrático. Os livros são inscritos por meio da internet e protegidos por pseudônimos.

Os romances e contos são julgados por escritores profissionais, que selecionam as obras vencedoras pelo critério da qualidade literária. O regulamento completo pode ser acessado no site oficial do Prêmio Sesc (sesc.com.br/premiosesc).

Em 2020, os laureados foram Caê Guimarães, do Espírito Santo, na categoria romance, por Encontro você no oitavo round; e Tônio Caetano, do Rio Grande do Sul, na categoria conto, por Terra nos cabelos.

Sarau virtual, por que não?

Em março de 2020, a edição que encerraria a temporada do Sarau libertário foi cancelada por causa da pandemia de COVID-19. O evento, cujo tema era 'O que virá dos anos 20?' estava marcado para ocorrer na Casa Kubitschek e foi prejudicado pelo fechamento dos aparelhos culturais de Belo Horizonte.

Percebendo que promoções de natureza aglomerativa não serão retomadas tão cedo, os organizadores do sarau decidiram levá-lo para o mundo virtual. Nasceu assim o podcast Sarau libertário, disponível no Spotify. Os seis episódios da primeira leva reúnem entrevistas com artistas da cena cultural de Belo Horizonte.

No primeiro, Octavio Cardozzo entrevista o Grupo Galpão sobre a produção da companhia de teatro durante a pandemia e as perspectivas para o teatro contemporâneo. O músico retorna no terceiro episódio, só que como entrevistado, para falar sobre suas influências musicais.

No segundo, a escritora Laura Cohen reflete sobre a escrita durante o isolamento social. O podcast traz também entrevistas com Bruna Kalil Othero e os grupos Interioranas e Enversos.

O Sarau libertário é um projeto realizado gratuitamente com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

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