Irmandade Os Carolinos é destaque no Memorial Vale

Fotografias de Patrick Arley registram festejos de um dos reinados mais antigos de Belo Horizonte. Exposição on-line entra em cartaz nesta terça-feira

Guilherme Augusto 03/11/2020 04:00
fotos: Patrick Arley/divulgação
Exposição mostra os festejos da Irmandade Os Carolinos (foto: fotos: Patrick Arley/divulgação)
Fundada em 1917, a Guarda de Moçambique e Congo Sagrado Coração de Jesus – Irmandade Os Carolinos é um dos mais antigos reinados negros de Belo Horizonte. Por meio de festejos em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, aos demais santos congadeiros e à ancestralidade, ela mantém viva a tradição afro-mineira, apesar de ainda ser pouco reconhecida como expressão cultural de Minas Gerais.

Com o objetivo de combater essa realidade, o fotógrafo e antropólogo Patrick Arley realizou a série fotográfica d'Os Carolinos, reunida na exposição Reinado de Chico Calú, em cartaz a partir desta terça-feira (3), às 11h, no Memorial Minas Gerais Vale. Ela integra o projeto Mostra de Fotografia do Memorial Vale, disponível para visita virtual no site do museu, que segue fechado por conta da pandemia.

O fotógrafo conta, por meio de 30 imagens, um pouco da história da irmandade. Elas mostram festejos, ritos e o cotidiano da tradição.

“A ideia da exposição nasceu no centenário da Guarda. São mais de 100 anos para provar a existência desse povo que estava por aqui muito antes do projeto de cidade moderna que construiu Belo Horizonte. É uma história que mostra como BH é cidade preta feita por pretos”, afirma o artista.

Arley, que integra Os Carolinos desde 2014, explica que a exposição valoriza e divulga a cultura congadeira. Pensada coletivamente, foi a maneira encontrada para ampliar o alcance e valorizar uma das irmandades mais antigas e representativas de Minas Gerais.

“Apesar da importância dos reinados e congados mineiros, as guardas ainda são desconhecidas nas partes centrais de Belo Horizonte. Elas encontram diversas dificuldades para acessar espaços, mecanismos e políticas públicas e privadas de incentivo à cultura, tão importantes para a continuidade da tradição”, pontua.

De acordo com ele, isso ocorre porque, no Brasil, tudo relativo à África e ao negro é desvalorizado. “O discurso que reconstitui a história do Brasil aponta para um projeto de embranquecimento. Não estudamos a história de África, e isso faz parte de um projeto que eclipsa uma série de questões e destaca outras. No caso dos reinados, eles sofrem uma série de questões por se enquadrarem num tipo de cultura tradicional que vem para Minas com os negros escravizados”, observa.
None


EDUCAÇÃO 

Enquanto antropólogo, Patrick Arley entende que exposições como esta são educativas, ao apresentar para o público a cultura dos reinados por meio de seus próprios integrantes.

“A escolha das imagens foi coletiva. Do ponto de vista ético e epistemológico, isso é fundamental, porque a história da fotografia mostra o quanto essas pessoas foram expropriadas de suas próprias imagens”, ressalta.

“Se não estudamos a história dos reinados e congados na escola, teremos de criar artifícios para entrar em contato com essas culturas e mudar a maneira como concebemos a nossa própria história'', conclui.

Em novembro, Mês da Consciência Negra, o Memorial Vale programou eventos alusivos ao tema. Na quarta-feira (4), às 19h30, será apresentado o curta O bastão e o rosário (2017), de Ana Luísa Cosse, que também retrata o Reinado.

REINADO DE CHICO CALÚ
Exposição de fotos de Patrick Arley. Disponível no site do Memorial Minas Gerais Vale a partir desta terça-feira (3), às 11h. Informações: memorialvale.com.br 

MAIS SOBRE E-MAIS