A pandemia do novo coronavírus afetou a vida de um dos ícones da história da música. Devido às dificuldades financeiras, dívidas, o mutante cantor e compositor Arnaldo Baptista está rifando seu lendário casaco inglês ‘battle-dress’. Além disso, ele colocou seus trabalhos de artes plásticas à venda com desconto.
saiba mais
Os Mutantes fazem show sábado em Itabira
Descoberta parceria inédita de Tim Maia com a banda Os Mutantes
Em ´Pra quem está vivo', Raul Mariano mistura Mutantes, Gilberto Gil, Paul McCartney e Clube da Esquina
Sérgio Dias tem infecção rara e show dos Mutantes em BH é cancelado
O segredo de Among Us: por que o game faz tanto sucesso
Arnaldo Baptista, com seu irmão Sérgio Dias e Rita Lee fundaram ‘Os Mutantes’, uma das principais bandas de rock brasileiro em 1966. Os Mutantes também protagonizaram a Tropicália - movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência de correntes artísticas de vanguarda.
A Tropicália teve participações de artistas como Torquato Neto, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Tom Zé.
“Num sentido, de comprar e trilhar; eu compartilho, um Battle-Dress inglês. Para desapegar; das coisas materiais, que me dão prazer”, anuncia Arnaldo.
A rifa virtual tem como prêmio uma farda emblemática do rock, o lendário e icônico casaco vermelho que ilustra a capa do disco solo de Arnaldo Baptista, o ‘Singin’ Alone’, de 1982. O casaco também foi usado em seu clipe de lançamento do álbum “Loki?”, com a música “Será Que Vou Virar Bolor”.
Com a pandemia de COVID-19, os shows e participações de Arnaldo em editais de incentivo à cultura foram suspensos. Sendo assim, a receita do artista caiu cerca de 70%. Arnaldo e a esposa Lucinha Barbosa moram em um sítio em Juiz de Fora (MG), interior de Minas Gerais, e mesmo vivendo de forma modesta, a situação ficou crítica até mesmo para sobreviver, compras do dia a dia.
A crise financeira atinge Arnaldo há bastante tempo, mesmo ele vivendo de forma simples, mas desta vez a situação dicou crítica. O artista, de 72 anos, tinha os shows como principal fonte de renda. Além disso, recebia por direitos autorais em trilhas publicitárias e filmes. Tais produções diminuíram drasticamente após a pandemia. Com relação aos direitos autorais, ele não recebe o suficiente para se sustentar, pois, segundo a assessoria, 70% da obra musical estão nas mãos das gravadoras, portanto, o valor é irrisório.
Além de musicista, Arnaldo é artista plástico e já soma cerca de cinco mil pinturas no portfólio. Com produção de no mínimo, dois quadros por dia, as obras estão espalhadas pelas paredes da casa e muitas outras guardados em armários.
A pintura é uma necessidade criativa que também foi afetada durante a pandemia, pois o custo das telas e tintas é elevado. Dessa forma, o artista precisou trocar as telas por papelão paraná - material mais barato - como forma de economizar e manter a produção. Além disso, o artista tenta vender as obras com 30% de desconto.
Casaco tem história
Arnaldo conta que comprou o casaco em Portobello Road - famosa rua de feira ao ar livre e lojas em Londres - quando em viagem com Os Mutantes.
“Meu maior desejo era ter um casaco igual ao do Jimi Hendrix, aquele que ele usou em Woodstock cheio de franjas, mas aí, eu vi esse numa loja e resolvi comprar”, explica Arnaldo.
O modelo é inspirado nos uniformes do exército inglês marcados pela cor vermelha e a partir dos figurinos de 1840. Essa referência estética ficou famosa na capa do “Sgt. Peper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, de 1967.
A rifa on-line tem dois mil números a R$ 50,00 cada, sendo assim, a arrecadação pode chegar a R$ 100 mil. O dinheiro será usado para quitar dívidas e custear os gastos por cerca de seis meses. O sorteio acontecerá quando, pelo menos, 80% dos números forem adquiridos.
O casaco é uma das poucas peças que Arnaldo conseguiu guardar da época.
Questionado sobre o que diria a quem fosse o sorteado, Arnaldo sintetiza falando, “dê uma chance ao suficiente, eu penso no que é suficiente pra mim hoje”. Segundo ele, a frase relaciona o casaco a um tijolo, objeto básico (suficiente) para construir uma casa.
A vida em um sítio no interior
Arnaldo vive discretamente com sua companheira em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, desde 1982. ‘Antes, quando eu morava em São Paulo, eu ligava o amplificador um pouco alto e isso incomodava o síndico do prédio que vinha reclamar comigo. Já em Juiz de Fora, no sítio, eu posso colocar o volume que eu quiser, sem problemas. A minha casa é um lugar campestre, tem muitas árvores e rio, então, eu me sinto em contato com a natureza. A liberdade é o quanto você consegue, o melhor é o que você consegue abranger, eu estou começando’, explica o mutante.
Com produção intensa em casa e sem fazer shows, apresentações, Arnaldo passa o tempo compondo músicas para seu próximo álbum, ‘Esphera’. ‘Varia muito, às vezes faço umas quatro músicas de uma vez, e tem vez que eu fico estudando, tocando bateria… E vou levando assim’, comenta sobre sua rotina de artista.