Pesquisa aponta qual é a maior saudade do consumidor de cultura

Levantamento aponta que os frequentadores de biblioteca são os mais saudosos e que o retorno do cinema é o mais amplamente desejado

Estado de Minas 11/10/2020 04:00
Leandro Couri/EM/D.A Press
A atividade cultural ligada à literatura está bem cotada no interesse popular (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A expectativa pela retomada de eventos culturais com a presença do público é grande por parte dos produtores e artistas, fortemente afetados pela paralisação. Mas o consumidor de atividades culturais também está ansioso por essa volta, segundo dados da pesquisa “Hábitos Culturais pós pandemia e reabertura das atividades culturais”, realizada em conjunto pelo Itaú Cultural e Datafolha. 

O levantamento mostra que 66% da população tem intenção de voltar a participar de atividades culturais nos próximos meses. Foram ouvidas 1.521 pessoas, de 16 a 65 anos, em todas as regiões do país, entre os dias 5 e 14 de setembro. Os dados foram divulgados na quinta-feira passada (8).

A pesquisa não especifica até quando seriam esses “próximos meses”, referindo-se apenas a esse período imediato de flexibilização de diversas atividades comerciais, enquanto a pandemia ainda não está encerrada.

A atividade cultural ligada à literatura está bem cotada no interesse popular. Em questionamento estimulado e de múltipla escolha, a ida às bibliotecas foi apontada como o retorno mais desejado por 36% do entrevistados, atrás apenas de cinema (44%), shows musicais (40%) e atividades infantis (38%). 

As respostas ainda incluíram teatro (30%), museus (29%), dança (29%), circo (29%) e saraus (25%). No questionamento de resposta única, 30% apontaram o cinema como atividade de que mais sentem falta, 24% os shows e as bibliotecas apareceram em terceiro lugar, com 7%. 

“Essa tendência favorável às bibliotecas, pensando no Brasil e nas nossas adversidades, em que pese um gap existente na quantidade, demonstra que elas estão muito bem distribuídas em relação a museus e outros equipamentos. Isso reforça a necessidade de uma cena cultural local mais forte”, afirma Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, que ainda destaca que bibliotecas não são apenas um local de circulação de livros, mas também um ponto de encontro para muitas pessoas. 

INTERESSE

Paulo Alves, gerente de pesquisa de mercado do Datafolha, ressalta outro ponto em relação ao interesse pelas bibliotecas. “O interesse do público que já frequentava é o mais alto de todos”, diz, referindo-se ao item que mediu o interesse dos indivíduos em voltar às atividades já realizadas nos últimos 12 meses. 

Entre os que estiveram em bibliotecas, a intenção declarada de retorno foi de 65%. Centros Culturais tiveram 59%, seguidos por cinema (58%), shows musicais (56%) e atividades infantis (55%).

Por outro lado, a pesquisa mostra que, apesar do interesse do público em retornar às atividades culturais, também há preocupação em relação às condições sanitárias adequadas para isso ocorrer. 

Em questionamento espontâneo e de múltiplas respostas, ‘“manter distanciamento, ter espaço e evitar aglomerações” é o procedimento mais mencionado pelos entrevistados como condição para o retorno, com 58%. 

Em seguida aparece obrigatoriedade do uso de máscara e adoção correta do equipamento de proteção, com 55%, e  disponibilização de equipamentos para higienização dos visitantes (53%). Para 17%, apenas a disponibilização de uma vacina para a COVID-19 poderia gerar segurança.


MÁSCARAS

“O que a pesquisa indica de forma clara é que é necessário mostrar aos frequentadores de modo tangível que se está cuidando da segurança deles. Essa demonstração precisa ficar expressa para as pessoas”, comenta Paulo Alves, sobre as expectativas de medidas de proteção.

Segundo Eduardo Saron, fica “evidente que as pessoas querem o uso de máscaras, o distanciamento e que esse conjunto de coisas precisa não só ser oferecido, mas dito que estão sendo cumpridas as medidas, para que as pessoas de fato se sintam confortáveis para retornar às atividades”.



Festivais literários 
têm edição virtual


Acostumadas a receber grandes aglomerações de autores, pessoal de editoras e, especialmente, do público ávido por lançamentos, debates, encontros e sessões de autógrafos, as feiras e eventos literários encontram uma nova realidade neste 2020 marcado pela pandemia do novo coronavírus.

Para não saltar este ano no calendário, o setor se adequou à realidade do distanciamento social migrando para o universo digital, assim como fizeram festivais de cinema, eventos musicais e teatrais.

Para este mês, está prevista a realização do Festival Literário de Araxá  (Fliaraxá), cuja nona edição será em formato exclusivamente virtual, do próximo dia 28 a 1º de novembro. O evento promete transmissão dos conteúdos 24 horas por dia, pelo Youtube e Facebook. 

Inicialmente previsto para julho, com programação que vinha sendo montada desde 2019, a expectativa é que 100 autores de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique participem, numa grande celebração da língua portuguesa. 

Estão previstas também homenagens para Conceição Evaristo e José Eduardo Agualusa. João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Clarice Lispector (1920-1977) e Calmon Barreto (1909-1994) são os patronos escolhidos.

FEIRA

Também em Minas, o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços) foi outro a confirmar edição excepcional via internet, de 11 a 15 de novembro. O evento vai promover ainda a Feira do Livro. 

Tudo acontecerá em uma plataforma própria, desenvolvida para a ocasião, hospedada no site www.flipocos.com. “Este ano é muito importante para nós, pois completamos 15 anos. Uma edição preparada com muita atenção, muita curadoria e grande amplitude de temáticas, especialmente as ligadas às mulheres. Esse foi o primeiro motivo para insistir na realização, mesmo que virtual. O segundo é a continuidade de um evento muito importante, já reconhecido no Brasil”, afirma a curadora da Flipoços Gisele Ferreira.

Ela ainda afirma que “nada substitui o presencial, mas estamos nos adaptando e o grande diferencial é que tivemos uma rapidez para tomar essas decisões, procurando estudar e investir na melhor forma de levar tudo que fazemos no presencial para o virtual”. 

Outro evento mineiro ligado ao livro e ao mercado editorial vai esperar 2021 para a realização em modos tradicionais. Inicialmente adiada de maio para setembro, apostando que neste segundo semestre as coisas estariam melhores em relação à pandemia, a Bienal Mineira do Livro  foi novamente postergada, agora para agosto do ano que vem. Até lá, um calendário de eventos virtuais de menor porte deverá ser cumprido. 

FLIP Na última semana, a Flip - Festa Literária Internacional de Paraty confirmou que sua 18ª edição será realizada entre 3 e 6 de dezembro, em formato virtual. Um dos grandes eventos do ramo no mundo lusófono, que anualmente atrai milhares de pessoas para a cidade histórica no litoral fluminense, neste ano poderá ser acompanhado apenas pelas telas, com mesas transmitidas ao vivo em plataforma própria e nas redes sociais da Flip, além de outros vídeos gravados. 

A edição se dá sem uma curadora, já que Fernanda Diamant, que anunciou sua saída em agosto, sugerindo que o posto deveria ser ocupado por uma mulher negra, ainda não foi substituída. A homenagem anteriormente planejada para a poeta americana Elizabeth Bishop, que foi alvo de críticas e ameaças de boicote quando anunciada, deixará de ocorrer.  

"Este é um ano atípico, por isso optamos por este formato. A Flip Virtual contará com uma linguagem própria que respeita o sentido original e o espírito da festa: ser mais do que um mero evento, estabelecendo uma relação duradoura e permeável com Paraty", disse Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip, em comunicado enviado à imprensa.

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