Assim como as lives explodiram no mundo da música e do entretenimento em geral, a fotografia remota feita com auxílio de aplicativos de videoconferência virou tendência e alternativa para os profissionais do ramo, até então, dependentes do contato ao vivo. Nesse novo modo, os fotógrafos apostam na criatividade e no olhar diferenciado, conquistado ao longo da carreira, para produzir ensaios que registram afeto em um momento difícil como a pandemia provocada pela covid-19. “O grande lance dessa história toda da quarentena é de evidenciar aquilo que realmente importa. Passar por uma limitação dessa de contato, evidenciou o mais importante, que é o olhar do fotógrafo e não do dispositivo. Dá para ver a identidade do fotógrafo nos ensaios”, comenta a brasiliense Tainá Frota, responsável pelo projeto Afeto remoto.
Para isso, os profissionais contam com o apoio da tecnologia. O Facetime é o aplicativo preferido e mais usado por possuir um comando de foto, em que o fotógrafo aciona da própria casa, enquanto o modelo faz as poses de outro local — ocupando o lugar da máquina. A única limitação é que só está disponível para iPhone. O que não impede os ensaios à distância. Quando necessário, apps como Skype são outra opção. Antes dos cliques, os fotógrafos fazem um tour na casa dos modelos para buscar cenários e locais para colocar o celular, além de avaliar a iluminação.
O Correio Braziliense buscou artistas que estão compartilhando nas redes sociais ensaios feitos remotamente e conta a história por trás das fotografias e desse novo modo de fotografar.
Iude Richele — A distância de um click (@iude)
“Fotógrafo não trabalha em home office, o que eu vou fazer?”. Esse foi o questionamento que levou Iude Richele a ter a ideia de investir na fotografia remota. Inicialmente, teve desconfiança. Não gostava do resultado das fotos. Até que, após dois ensaios, encontrou uma técnica própria, em que conseguiu imprimir a identidade às imagens. Assim deu início ao projeto intitulado À distância de um click, em que registra a quarentena de nomes como Claudia Raia, Duda Beat e Juliana Paes. “O meu objetivo era que isso despertasse um desejo nas pessoas pelo meu trabalho, pela estética que eu estava desenvolvendo. Nunca estivemos tão conectados. Essa história está nas fotos”, revela. Sobre o futuro da fotografia remota, diz: “Tem sido uma forma de trabalho real agora. Acredito que no momento em que a gente está ressignificando tantas coisas na vida, não seria diferente profissionalmente. Acho que isso vai durar mais tempo, talvez se não ficar a longo prazo, porque é uma forma mais cômoda por diversos fatores, como agenda, por exemplo.”
Jorge Bispo — (@jorgebispo)
Conhecido por fotografar celebridades, Jorge Bispo conta que sempre fez prints ou fotos por Facetime de amigos e parentes, apenas como registro afetivo. “Com a pandemia isso se tornou mais frequente com os amigos, até o dia que me vi dirigindo as fotos e pensei: ‘Vou organizar isso e pensar um retrato’”, conta. De forma orgânica passou a clicar amigos, colegas de trabalho até passar a receber pedidos e encomendas profissionais de marcas e artistas. “Mais do que nunca, para mim, fica claro que fotografia é olhar. Isso é o mais importante. É entender a limitação técnica e aproveitar como um registro de um tempo nas nossas vidas. Entender que durante meses nosso mundo imagético vai se resumir as nossas casas e os registros não serão em full HD”, afirma.
Tainá Frota — Afeto remoto (@tainafrota)
Especializada em fotografar famílias, a brasiliense sempre teve uma gama de clientes fora do Brasil e se viu sem opção quando a quarentena começou. A ideia de criar o projeto Afeto remoto veio como forma de dar um alento a uma família em Genebra, que estava na quarentena, quando isso ainda não era realidade no Brasil. “A partir daí, enxerguei a possibilidade de ampliar para mais pessoas e acabou surgindo a demanda. Pessoas que queriam fotografar momentos especiais que não podiam esperar, como um aniversário de um ano, uma gravidez”, comenta. Para ela, os ensaios durante o isolamento social têm um papel muito importante. “O principal é ser uma lembrança para as pessoas, de quando elas estavam passando por isso juntas. Esse é o grande valor da fotografia”, avalia.
Felipe Souto Maior, Morgana Narjara e Thayanne Sales — Vejo você daqui (@vejovocedaqui)
Para o trio pernambucano Felipe Souto Maior, Morgana Narjara e Thayanne Sales, os registros virtuais ganharam uma perspectiva social com a criação do projeto Vejo você daqui, em que realizam ensaios remotos em que os fotografados precisam ajudar com doações que, atualmente são doadas para o NAC (Núcleo de Apoio a Crianças com Câncer), em Pernambuco. “Por conta da quarentena veio a necessidade de se reinventar nesse mercado. Não sei de onde surgiu a fotografia por videochamada, mas virou febre, muita gente está fazendo. Sempre tive vontade de fazer um projeto social. Pensei: ‘por que não fotografar e pedir doações em troca?’”, lembra Felipe. O perfil no Instagram surgiu primeiramente com fotos feitas por Morgana Narjara com amigos, por hobby, até que começaram as interações. “Botamos no ar e começaram a aparecer as doações. A experiência tem sido espetacular. Acho que estamos conseguindo transmitir a emoção das pessoas”, comenta. A ideia é continuar com o projeto após a pandemia e também ampliar para outras instituições, como um abrigo de idosos e para estoques de sangue.
Sergio Zalis — #ProjetoPausa (@sergiozalis)
Durante um mês, o fotógrafo Sergio Zalis viajou remotamente pelo mundo para clicar amigos e conhecidos no #ProjetoPausa. Personalidades famosas como Paulo Coelho, Cissa Guimarães e Carolina Dieckmann, e anônimos estrelaram o projeto que teve duração de um mês, se encerrando com a tocante imagem da filha médica Laura, em um corredor de um hospital em Salvador, na Bahia. “Acho que são imagens que representam o momento comum que todos estavam passando juntos.
Em qualquer parte do mundo, estávamos todos em quarentena”, explica. Nas imagens, Sergio buscava mostrar um pouco de como estava sendo a experiência de cada um dos fotografados. As imagens foram publicadas no perfil do fotógrafo no Instagram seguidas de um texto. “O texto é parte fundamental, porque eu estava contando essas histórias. Foi interessante ver todo mundo no mesmo barco, ver que as pessoas sentiam as mesmas dificuldades, os mesmos sentimentos. Eram os mesmos problemas que afligiam”, completa.
Em qualquer parte do mundo, estávamos todos em quarentena”, explica. Nas imagens, Sergio buscava mostrar um pouco de como estava sendo a experiência de cada um dos fotografados. As imagens foram publicadas no perfil do fotógrafo no Instagram seguidas de um texto. “O texto é parte fundamental, porque eu estava contando essas histórias. Foi interessante ver todo mundo no mesmo barco, ver que as pessoas sentiam as mesmas dificuldades, os mesmos sentimentos. Eram os mesmos problemas que afligiam”, completa.