“A maioria de nós nem pensava em passar por este momento histórico. O foco dele (coronavírus) está nos humanos. Então, tem muito espaço para a gente refletir e pensar sobre isso: qual é o recado que a pandemia tá dando para nós, principalmente para o nosso querido e amado Brasil?”, afirma a dançarina, coreógrafa, escritora e professora Dudude Herrmann.
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Dudude se define como uma “mulher vivida” e pondera que é graças a isso que está tranquila durante esse período de isolamento social. “Estou agradecendo a essa quarentena porque eu posso. Já tenho mais de 60 anos e recebo meu benefício, meu sagrado benefício. Se eu tivesse meus 40, 50 anos, estaria bem desesperada para fazer o meu dinheiro”, conta.
Dudude alerta que a “economia também está doente”. “Com toda essa ganância, o mundo humano vai deixar de existir.” Para ela, a pandemia mostra o quanto o mundo humano é frágil. “Qual seria o antídoto dessa pandemia? Talvez o acordar de cada um de nós e perceber que desse jeito não dá”, ressalta, ao se referir aos modos de consumo da população, à preservação da natureza e ao uso de recursos naturais.
Outra reflexão de Dudude é que as pessoas precisam deixar de ser gananciosas e passar a olhar para si mesmas e para o outro. “São várias oportunidades: leia livros, escreva, treine suas capacidades. Todos nós somos capazes e temos condições de mudar a rota da nossa vida”, afirma. “Não existe volta, só continuação. Quando você voltar a abrir a porta da sua casa, espero que seja com mais senso comum.”
As mortes por causa da COVID-19 também têm tocado as emoções da escritora: “Quantas pessoas estão desencarnando sem o direito de ser veladas, de ter a última despedida, o último abraço. E eu fico sem palavras para falar sobre isso, é um absurdo”.
Segundo Dudude, as pessoas devem passar a ter mais consciência daquilo que “jogam” para o mundo. “Se em um discurso você fala mais palavrão do que palavras que acolhem, a coisa está errada. Joguem para o mundo discursos afirmativos para que tenhamos uma onda de amor”, completa.
Ela explica que esse discurso não se refere apenas às palavras ditas, mas ao modo de dizê-las, ao jeito de lidar com o próprio corpo, com a casa e com os desejos. “Fico em casa para o caminhoneiro sair, para os médicos, enfermeiros, farmacêuticos, supermercados terem espaço. Esse vírus está ensinando as pessoas a se cuidarem, lavarem as mãos, as roupas, se alimentarem bem e respeitarem o espaço do outro”, defende.
Durante este período de isolamento social, Dudude está redescobrindo o amor pela culinária. “Estou fazendo muito bolo nessa quarentena, porque a casa fica com cheiro de afeto e eu fico com desejo de espalhar isso pelo mundo. Dou uns pedaços para os meus vizinhos”, conta.“Essa foi a primeira vez que fiz um feijão e ele não ficou aguado. Desta vez, me dediquei: botei louro e pimenta, naquelas panelas de barro”, comemora sobre sua última aventura na cozinha.
FOME DE LEITURA
A bailarina e professora está passando a quarentena ao lado do filho, Frederico, na casa onde moram em Casa Branca (Brumadinho). É ele quem a está ajudando a lidar com os desafios do meio on-line. “Olhava o computador de longe e agora estou tendo que amá-lo. Mas tomando cuidado para não ficar dependente, porque é perigoso e faz mal para a saúde”, alerta.
Todo primeiro sábado do mês, desde abril, Dudude ministra aulas on-line pelas redes sociais de ecologia humana, denominadas “Vivência prática do sensível”. “Os nossos assuntos rodeiam este lugar: até onde vamos chegar? Como posso somar? E elas estão sendo uma alegria, por meio do virtual você pega pessoas do mundo”, comemora.
Apaixonada pela leitura, Dudude aproveita o tempo ocioso para ler cinco livros ao mesmo tempo: O oráculo da noite, de Sidarta Ribeiro; As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano; Pela supressão dos partidos políticos, de Simone Weil; A arte cavalheiresca do Arqueiro Zen; e O livro do desassossego, de Fernando Pessoa.
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro