Pioneira da dança afro em Minas Gerais, Marlene Silva, de 83 anos, morreu nesta segunda-feira (13), no Rio de Janeiro, de infarto.
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Segundo ela, Marlene estava buscando patrocínio para apresentar seu novo projeto em BH. Baseado no livro 'Casa-grande e senzala', de Gilberto Freyre, o espetáculo seria lançado no final de 2020 ou início de 2021.
Mineira de Belo Horizonte, nascida no Bairro Concórdia, Marlene Silva era bailarina, coreógrafa, pesquisadora e professora respeitada, com mais de quatro décadas de carreira.
“Marlene ousou colocar o negro na cena cultural de Belo Horizonte, fazendo a integração também das periferias, criando uma relação diferente entre as classes sociais”, afirmou o coreógrafo e bailarino Rui Moreira ao Estado de Minas, em 2018, quando a artista recebeu homenagem na capital.
Ainda criança, Marlene se mudou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como cabeleireira. Garota, fez aulas de balé clássico – era a única negra na sala, no Bairro do Catete. na Zona Sul. Ao ver a filha discriminada pela professora, a mãe tirou a menina de lá. Aos 21 anos, Marlene assistiu a um espetáculo comandado pela coreógrafa Mercedes Baptista, pioneira da dança afro no país. Decidiu o seu futuro ali.
A trajetória de Marlene teve início na década de 1970, quando chegou a Belo Horizonte e passou a dar aulas no estúdio de Dulce Beltrão. A mineira e sua dança já haviam chamado a atenção no filme 'Xica da Silva', de Cacá Diegues, rodado em Diamantina. “Quando eu cheguei aqui a BH, em 1974, não tinha nada”, contou ela em entrevista ao Estado de Minas, lembrando que Dulce se encantou com o trabalho de dança afro e propôs que ela desse aulas em sua escola.
Nos anos 1980, Marlene montou sua própria escola de dança, no Bairro Santo Antônio. Um de seus espetáculos, 'Raízes da nossa terra', fez história em BH. Mas ela e seu trabalho foram alvo de racismo na capital mineira. “Tinha um projeto com a Belotur de apresentar nas periferias, ir lá mostrar o nosso trabalho. Mas muita gente ria, apontava e nos chamava de macacos. Inclusive, macaco era das coisas mais leves que eu ouvia. Só que não podia deixar isso me abater. Então, lutei muito contra isso, para nossa cultura ser reconhecida. Hoje, mesmo longe do que eu queira, a situação já está bem melhor do que era”, disse ela ao EM, em 2018, ao ser homenageada na Mostra Benjamin Oliveira, em BH.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria