"Se eu ligar pro Sílvio Santos, ele me atende". Dita em agosto de 2017 a Fábio Porchat, então funcionário da Rede Record, a afirmação é de Gugu Liberato. Trata-se de uma boa definição para o relacionamento de 35 anos entre os dois ícones da TV nacional.
Gugu e Sílvio não chegaram a ser amigos – prerrogativa que, segundo o astro paulista, o homem do baú reserva exclusivamente ao cabeleireiro Jassa. A convivência entre eles, por outro lado, não se restringia às formalidades inerentes aos papeis de patrão e empregado. "Trabalhei com meu ídolo, isso foi o presente que Deus me deu", afirmou o apresentador a Porchat – pouco antes de dar ao humorista um testemunho de sua devoção ao chefe: Gugu relembrou o dia em que, a pedido de Silvio Santos, desistiu de migrar para a Globo e foi com o dono do SBT ao Rio de Janeiro para pedir a Roberto Marinho a anulação de seu contrato.
Segundo Gugu Liberato, o convite da TV carioca veio em 1987, no auge de popularidade do Viva a Noite, programa que ele comandava na época. "A Globo me prometeu um programa aos domingos e investiu para que eu aprendesse um pouco mais do formato, fiz cursos na Alemanha e Estados Unidos. Montaram o cenário, estava tudo pronto para estrear. Então o Silvio me chamou para conversar", contou na entrevista.
De acordo com o apresentador, Sílvio revelou que estava com um problema de garganta e temia não poder mais apresentar seu tradicional programa de domingo. Diante disso, planejava dividir o palco da atração com Gugu. "Argumentei que não podia dizer 'não' para a Globo, mas ele disse: 'se você não pode, eu vou pessoalmente falar com o Roberto Marinho e dizer que você não vai'", relembra. Os dois então pegaram uma ponte aérea de São Paulo para o Rio naquele mesmo dia. O aeroporto de Congonhas, naturalmente, parou para ver Silvio Santos. "Chegamos no Rio e, de táxi, fomos pro Jardim Botânico, direto para a sala do Boni, que tinha ido almoçar. A essa altura a Globo inteira sabia que o Silvio estava lá", relata o astro paulista.
Gugu recorda que, tão logo viu Boni, Sílvio o abordou sem rodeios: "vim aqui dizer que o Gugu não vai pra Globo, vai continuar comigo", teria dito o homem do baú. A canetada que o liberaria do compromisso com a emissora, no entanto, caberia apenas ao magnata Roberto Marinho, que aceitou negociar com o proprietário do SBT. Liberato, porém, afirma não ter presenciado a conversa entre os tubarões. "O Silvio orientou que eu o esperasse no aeroporto, daí eu peguei um táxi de volta pra lá. Como eu tinha pago a ida, não tinha dinheiro em cash nem para o táxi - naquela época, ninguém aceitava cartão de crédito. Silvio então me deu o dinheiro e eu segui para o Santos Dumont. Fique ali fiquei umas duas horas esperando", afirmou.
Para a surpresa de Gugu, Marinho acabou cedendo ao pedido de seu patrão. "Eu não me arrependo de nada. Fiquei mais 21 anos no SBT, foram anos muito felizes. Eu nasci e cresci no SBT, trabalhei lá 38 anos, de 1974 a 2009. Tive anos maravilhosos. Trabalhar com o Silvio foi um privilégio que eu tive", celebrou.