Jô Soares cria 'francês abrasileirado' para criticar Bolsonaro e o filho Eduardo

Escritor e humorista usou sua coluna no jornal Folha de S.Paulo para atacar, com muito humor, a indicação de Eduardo Bolsonaro, feita pelo presidente, à embaixada dos Estados Unidos

por Estado de Minas 22/07/2019 14:51
Reprodução/TV Globo
(foto: Reprodução/TV Globo)

Se Napoleão nomeou irmãos e parentes como reis da Holanda, Nápoles e Espanha, por que o presidente do Brasil não poderia nomear o filho embaixador dos Estados Unidos? É com esta dose de deboche que o escritor e humorista Jô Soares pautou sua coluna desta segunda-feira no jornal Folha de S.Paulo, sob o nome 'Outra carta aberta ao nosso excelentíssimo presidente da República, senhor Jair Bolsonaro'.

A crítica começa na escolha da língua. Jô cria um 'francês abrasileirado' para falar com o presidente. Com múltiplos erros de grafia e conjugação verbal, ele começa parabenizando Jair Bolsonaro por escolher Eduardo como embaixador às vésperas do aniversário dele de 35 anos (idade mínima requerida para o cargo).

"Que ideia genial! Assim como deve ser, respeitando as regras: primeiro completar a idade correta. Depois, pequena festa, troca de presentinhos, etc. Cantar os parabéns, apagar as velas, comer o bolo! E depois o presente principal: ele, que já tem uma graduação em hambúrguer e talvez uma pós-graduação em cheesburguer?"

O bom humor ácido não para por aí. "Também, se nós já temos um ex-presidente FHC, por que não tentar um embaixador KFC"?, questiona Jô. "Depois disso é preciso tentar um grau de doutorado em pipoca. Afinal de contas, nós devemos aproveitar as oportunidades que a vida oferece", continua, antes de citar inúmeros ditadores e como eles também nomearam familiares, incluindo uma criança de 4 anos para altos escalões do governo.

Leia a carta completa em tradução livre:

Senhor presidente: como sei que, sendo troglodita, o senhor fala múltiplas línguas, eu começo pelo francês, língua da diplomacia munail, para que ninguém duvide: parabéns! parabéns! parabéns! Que ideia genial nomear seu filho Eduardô como embaixador!

Assim como deve ser, respeitando as regras: primeiro, comemorar a idade correta, 35 anos. Depois, pequena festa, troca de presentinhos, etc. 

Cantar os parabéns, apagar as velas, comer o bolo! Comer o bolo! E depois o presente principal: ele, que já tem uma graduação em hambúrguer e talvez uma pós-graduação em cheeseburguer? 

Também, se nós já temos um ex-presidente, FHC, por que não tentar também um embaixador KFC? Depois disso, é preciso tentar um grau de doutorado em pipoca. Afinal de contas, nós devemos aproveitar as oportunidades que a vida oferece. Por exemplo: Vossa Majestade sabe que Leonidas Trujillo Molina, quando assumiu o poder em 1930, na República Dominicana, nomeou seu filho Ramfis, que tinha apenas quatro anos de idade, coronel de salário e privilégios do Exército dominicano?

Em 1938, o presidente Jacinto B. Peynado (presidente que sucedeu Trujillo) promovel o coronel Ramfis Trujllo Martinez, de 9 anos, a general de brigada, promoção que foi outorgada "por mérito em serviço" tornando-o o mais jovem general da história do mundo?

Olha as fotos: não é fofo?

Muito antes, Napoleão, lembra dele? Nomeou irmãos e parentes como rei da Holanda, rei de Nápoles (aquela da pizza), rei da Espanha e rei da Westphalie. (Não conheço Westphalie, mas pesquisei com meus amigos no Twitter para saber onde é que fica).

Enfim, chega de conversa. Agarro no papel, mas sempre para colaborar com Vossa Majestade. 
Assinado: Jô Soares, influencer analógico.
Na verdade: José Eugenio Soares, oficial da Ordem do Rio Branco

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