Depois do prefeito Alexandre Kalil cancelar a performance Coroação de Nossa Senhora dos Travestis durante a Virada Cultural de Belo Horizonte, coletivo de artistas Academia TransLiterária divulgou uma nova nota em rede social dizendo que a "censura é um fato e que não há o que fazer por parte da Secretaria de Cultura, da Fundação Municipal de Cultura e de nossa parte."
O coletivo esteve nesta manhã na Secretaria Municipal de Cultura em reunião com representantes da Fundação Municipal de Cultura, incluindo o secretário Juca Ferreira e responsáveis pelo Instituto Periférico. Durante o encontro, o grupo teria contextualizado a trajetória e as ações artistico-sociais promovidas pelo coletivo numa tentativa de reverter a proibição, que o grupo considera "censura pelo prefeito Alexandre Kalil e Arquidiocese de Belo Horizonte."
Mais cedo, uma das integrantes da Academia TransLiterária escreveu no Facebook que o grupo estava sendo atacado e que manteria a apresentação. "Mas, isso foi antes de sermos barrados e censuradas", disse ao Estado de Minas.
“É importante ressaltar que Minas Gerais continua sendo o estado que mais mata travestis no país e pessoas trans no mundo. Mas, nós seguimos na luta! E vamos vencer no amor”, acrescentou a nota. Veja a íntegra do documento:
A PETIÇÃO
Mais de 15 mil pessoas haviam assinado uma petição, até o fim da manhã desta sexta-feira, na que pedia a anulação do evento "Coroação da Nossa Senhora das Travestis", programado para acontecer neste sábado, durante a Virada Cultural de Belo Horizonte. "Senhor Prefeito Alexandre Kalil, os cristãos e todos os homens de boa vontade vêm pedir o cancelamento do evento 'Academia TransLiterária', previsto para acontecer no dia 20/07, sábado, na Virada Cultural de Belo Horizonte. A razão é que foi autorizada pela Secretaria de Cultura de Belo Horizonte, a realização de uma blasfêmia 'Coroação da Nossa Senhora das Travestis'. Tal ato é uma afronta grave e direta contra o sentimento religioso dos cristãos, majoritários no Brasil e em Belo Horizonte", diz o texto. A petição também informa que o ato, se realizado, poderá ser tipificado como crime, previsto no artigo 208, do Código Penal.
Ainda segundo o documento, a "referida coroação, financiada com dinheiro público, envergonha e assusta os belo-horizontinos, os cidadãos ordinários e católicos. Autorizar tal vilipêndio mancharia a história da cidade e tornaria criminoso o uso de verbas públicas que, obtidas pelo suor dos cidadãos, seriam empregadas em favor de um grupo truculento que chama de arte o desrespeito, a blasfêmia, o acinte, a gozação, enfim, o brincar com o sagrado".
a Arquidiocese de Belo Horizonte emitiu nota, dizendo que toda a comunidade, incluindo o arcebispo e presidente da CNBB, dom Walmor, bispos auxiliares, padres, diáconos, religiosos e religiosas, ministros e evangelizadores "rebatem, com indignação, a ação preconceituosa e criminosa de desrespeito à fé cristã católica, o evento de título 'Coroação a Nossa Senhora dos Travestis'".
O texto diz ainda que se exige e se espera por parte das autoridades a suspensão do evento, "por ser incontestável fomento ao preconceito e à discriminação, desrespeito aos valores da fé cristã católica, devendo saber que estão comprometendo gravemente a paz e o exigido relacionamento cidadão respeitoso".
"Não é admissível instrumentalizar Nossa Senhora, desrespeitando-a para se promover um evento que se diz cultural, mas, na verdade, configura-se em agressão à fé cristã católica. Não se cultiva tolerância a partir do desrespeito", prossegue a nota, que ainda faz uma convocação para os católicos se manifestarem, exigindo respeito e a suspensão imediata do espetáculo.
POSICIONAMENTO DO KALIL
Por volta das 11h30, o prefeito Alexandre Kalil se manifestou no Twitter, a respeito da polêmica: "Defendo todas as liberdades. Sou católico, devoto de Santa Rita de Cássia. Fiquem tranquilos, ninguém vai agredir a religião de ninguém. Isso não é cultura".
Por meio da assessoria de imprensa, o Instituto Periférico, organização da sociedade civil (OSC) selecionada por edital para realizar a Virada Cultural junto com a Prefeitura, informou: "A organização da Virada Cultural de Belo Horizonte informa a suspensão da performance da Academia Transliterária, uma das 447 atrações previstas na programação. Ao ser selecionada por meio de um chamamento público, em nenhum momento houve intenção de ferir a crença religiosa de qualquer pessoa ou grupo. Mas na medida em que uma parte da sociedade sentiu-se duramente ofendida, optou-se, então, pela suspensão da atividade. A Virada Cultural de Belo Horizonte é um evento que preza pela pluralidade e que tem como objetivo a convivência pacífica e harmônica entre todos os cidadãos".
Durante coletiva que ocorrida nesta quinta-feira (18) sobre a Virada Cultural, o comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar (PM), o tenente-coronel Micael Henrique informou que “não terá restrição este ano." O secretário Municipal de Cultura, Juca Ferreira, também pontuou que: “não tratamos de censura.
Cancelada pelo prefeito Alexandre Kalil na Virada Cultural, a performance já foi realizada em um evento também promovido pela PBH. Em 22 de setembro de 2018 ela foi apresentada no Festival Internacional de Teatro (FIT-BH). A performance foi vista no chamado Ponto de Encontro, espaço criado no Parque Municipal para receber apresentações de teatro e música do evento.
KALIL NA 22ª PARADA LGBT
Diante da multidão que curtia a programação da 22ª Parada do Orgulho LGBT em Belo Horizonte, na tarde do último domingom (14), o prefeito disparou três conselhos, como mensagem final de seu breve discurso sobre igualdade e ocupação da cidade. "Primeiro, (digam mais) 'não sei', porque isso é libertador. Depois, virem para quem está ao seu lado e diga 'eu te amo'. E terceiro: 'F...-se' os que pensam o contrário. F...-se eles todos", disse, arrancando aplausos do público.