De ingressos mais caros aos financiamentos coletivos, festivais mineiros têm buscado novas estratégias para se manter de pé sem o amparo do investimento público. A produção cultural brasileira virou o ano mergulhada em uma crise que teve início devido à Lei complementar federal 160/2017 e ao Convênio ICMS 190/2017. Essas medidas estabeleceram que desde o último dezembro os segmentos de telecomunicações e transporte, principais patrocinadores de projetos culturais, não teriam mais o benefício da desoneração fiscal do ICMS.
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Internado na UTI, Agnaldo Timóteo apresenta confusão mentalEntidades pedem para o presidente Jair Bolsonaro manter a gratuidade no despacho de malas nos aeroportosPabllo Vittar chora ao relembrar preconceito que sofreu na escolaReapresentação da ópera Alma é destaque no festival de ManausCorreção: Paulo Pagni, baterista da banda RPM está na UTIFesta Portuguesa terá pratos que unem as culinárias lusitana, africana e mineiraBH abre programação de festas juninas com muita quadrilha e diversidadeA produtora Patrícia Tavares, Do Brasil Projetos e Eventos, responsável por mais de 400 eventos anuais, incluindo parte da organização do carnaval de rua em Belo Horizonte, é pessimista sobre os desdobramentos. Diz que este é um sinal dos efeitos negativos que os projetos culturais sofrerão em 2019 a partir de limitações impostas pelo poder público.“Temos um governo nacional que não enxerga a cultura como prioridade e um governo estadual que, por sua vez, não enxerga a cultura totalmente como prioridade. Então, quem vive desse subsídio sofrerá o impacto disso”, prevê.
Para o produtor Victor Diniz, um dos organizadores dos festivais Sarará e Sensacional, voltados para apresentação de grupos musicais, a decisão em nível estadual é uma vitória, mas não é suficiente para afastar a atmosfera de instabilidade. “Grandes corporações trabalham com planejamentos longos e projetos anuais.
Victor conta que o Sensacional, cuja sigla significa Simpósio de Empreendedorismo Nada Sensato Articulado no Cenário Internacional e Organizado por Nossos Amigos Legais, está com um projeto aprovado para realizar a 8ª edição neste ano, mas não tem garantia de que conseguirá captar recursos devido ao cenário de indefinição. Até o momento não há confirmação de data para a realização do evento. “Quem tem dinheiro e está querendo investir não tem regras claras, fica em dúvida se as regras atuais serão mantidas ou não, e essa incerteza torna difícil encontrar um patrocinador”. O produtor lembra que a primeira edição, em 2010, foi totalmente independente, viabilizada com a venda de cervejas. Conforme o festival crescia, foi necessária a captação de recursos.
CONSUMIDOR PAGA A CONTA Já a 6ª edição do Festival Sarará será em 31 de agosto sem o auxílio da Lei de Incentivo. Para isso, os ingressos passaram dos R$ 25 (inteira) e R$ 12,50 (meia) do ano anterior para R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia) no primeiro lote da pista. Há ainda a opção da pista premium, por R$ 180, e área open bar a R$ 240.
Financiamento coletivo vira saída
Criado em 1993 por Aída Queiroz, Cesar Coelho, Lea Zagury e Marcos Magalhães, o Anima Mundi já exibiu mais de 10 mil filmes de animação do mundo inteiro a preços populares, entre longas e curtas-metragens. O festival promove também oficinas abertas e gratuitas, debates e exposições sobre o audiovisual.
De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas, a última edição, em 2018, movimentou R$ 26,8 milhões e gerou R$ 2,6 milhões em impostos, tendo público estimado de 50 mil pessoas. Apesar do retorno financeiro, para que o evento seja realizado novamente neste ano foi preciso dar início a uma campanha de financiamento coletivo, que pretende arrecadar pelo menos R$ 400 mil para viabilizar a mostra de filmes no Rio de Janeiro e em São Paulo. As doações vão de R$ 20 a R$ 50 mil, com contrapartidas específicas para cada valor.
Aída Queiroz, uma das criadoras do festival, critica a estigmatização do setor cultural. “No Brasil existe uma percepção errada de que lei de incentivo é ‘dar dinheiro para vagabundo’, e isso precisa mudar.” Victor Diniz sustenta que o incentivo é importante para fomentar uma indústria essencial à economia brasileira, capaz de competir em nível internacional, além de gerar empregos.
Na visão de Aída, o que terá valor no futuro é a indústria criativa. Para ela, os que descobriram isso e apostam na criação de conteúdo, como a Netflix, já estão garantindo seu espaço. “Essa guerra entre as plataformas é por conteúdo. Os americanos descobriram que com o cinema eles conseguiam impor a cultura deles em qualquer lugar por meio da arte. Nós conhecemos Los Angeles e Nova York sem ter ido lá, enquanto não conhecemos nem o interior do nosso próprio país”, avalia.
ANIMA MUNDI
Entre 17 e 21 de julho, no Rio de Janeiro, e 24 e 28 de julho, em São Paulo. A campanha de financiamento coletivo vai até 27 de junho por meio do site www.benfeitoria.com/animamundi.
FESTIVAL SARARÁ
Esplanada do Mineirão. Av. Abrahão Caram, 1.001, Pampulha.
*Estagiária sob a supervisão do subeditor Eduardo Murta