'Maquiagem' não elimina graves problemas estruturais do Mineirinho

Para receber o Cirque du Soleil, ginásio ganhou cadeiras e reparos emergenciais. Porém, continua subutilizado. Anunciado em 2017, projeto de revitalização fracassou

por Mariana Peixoto 18/03/2019 08:22
Leandro Couri/EM/D.APress
Ginásio recebeu 4.650 cadeiras para temporada do Cirque (foto: Leandro Couri/EM/D.APress)
Tem início nesta segunda-feira (18) a desmontagem da estrutura que a produção do Cirque du Soleil implantou no Mineirinho para a temporada do espetáculo Ovo, encerrada ontem à noite. A parte móvel (palco, luz, ar-condicionado, etc.) vai embora, mas as melhorias realizadas no ginásio ficam. Para que a companhia canadense se apresentasse durante duas semanas, reparos urgentes foram realizados no espaço, que completa 40 anos em 2020.

Havia paredes e banheiros quebrados, buracos e goteiras no teto – sinais de abandono do ginásio. Foram providenciadas melhorias nos banheiros e bares, a demolição de paredes para novas saídas de emergência, a troca de luminárias e a pintura da área de circulação. Foram adquiridas 4.650 cadeiras – 4,5 mil instaladas na parte superior, nas arquibancadas (até então em alvenaria), e 150 trocadas na parte de baixo.

O custo da obra, de acordo com a Subsecretaria de Esportes, vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, foi de R$ 612.436,12. “As melhorias, bancadas pelo espetáculo, serão integradas ao patrimônio do complexo esportivo, representando grande ganho de conforto e segurança”, afirma, por meio de nota, a assessoria da pasta responsável pela gestão do ginásio.

As melhorias são inegáveis, mas insuficientes. “Um dos maiores ginásios da América do Sul, o Mineirinho foi abandonado pelo poder público”, afirma o produtor Gegê Lara. Responsável pela produção local do Cirque du Soleil, ele promove eventos ali, desde a inauguração do espaço. Realizou, por exemplo, shows de Jethro Tull, Deep Purple, Iron Maiden, Guns N’Roses, High School Musical e Creedence.

“Em todos os shows, temos de fazer maquiagens, pois a situação é degradante do ponto de vista estrutural. Nunca houve uma obra no Mineirinho, a não ser o pedido do Corpo de Bombeiros para elevar o guarda-corpo. O ginásio poderia ser espaço multiuso, com várias coisas funcionando simultaneamente, mas está parado”, lamenta Lara.

MINEIRÃO
Outro produtor que realiza eventos no espaço, Lúcio Oliveira lembra que houve mobilização para que o Mineirinho foisse incluído no projeto da reforma do Mineirão. A cada dois anos, Oliveira produz o show de Roberto Carlos no ginásio – o mais recente, em abril de 2018, atraiu 15 mil pessoas.

“Na verdade, temos de fazer improvisadamente o que o Cirque du Soleil fez de forma definitiva. Em todos os shows do Roberto, usamos tecido para cobrir as paredes. Temos que alugar ar-condicionado”, comenta Oliveira. A péssima acústica sempre foi o calcanhar de aquiles do Mineirinho. “O Cirque provou que dá para fazer um acabamento acústico mais barato, uma das primeiras reivindicações dos produtores”, acrescenta Gegê Lara.

Como espaço de shows, o Mineirinho só tem agendada para 2019 a apresentação de Sandy & Júnior, em 17 de agosto. Por ora, estão marcados dois eventos esportivos: a primeira etapa do estadual de jiu-jítsu, no domingo que vem (24), e o BH Open, competição de jiu-jítsu amador, em 13 e 14 de julho. Com agenda ínfima, o espaço tem uma única atração fixa: a feira de artesanato realizada nas noites de quinta-feira e aos domingos, na área externa.

Em dezembro de 2017, no aniversário de 120 anos de Belo Horizonte, um grupo de empreendedores anunciou a criação do Mercado Central do Mineirinho, que ocuparia o sexto e sétimo andares, com investimento de R$ 6 milhões e a criação de 150 lojas. Em fevereiro de 2018, houve até solenidade oficial para o lançamento do projeto, que deveria ser inaugurado em maio do ano passado. A proposta foi abortada e os responsáveis por ela, procurados pelo EM, não falam sobre o assunto.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, por “razões jurídicas”, o contrato foi rescindido. “A atual gestão está estudando possibilidades para uso do Mineirinho, entre elas a nova licitação para a concessão de áreas”, afirma a secretaria. Há também conversas sobre a privatização do espaço. “O governo está analisando possibilidades de vendas de ativos, mas ainda não há nada concretizado”, diz a nota oficial.

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