“O mineiro é um combinado de coisas que estão em Belo Horizonte”, afirmou, em fevereiro de 2014, ao Estado de Minas, Luís Otávio de Melo Carvalho. Para os belo-horizontinos, Luís Otávio será sempre o Tavito da Rua Ramalhete. A rua de cinco quarteirões, que tem início no Anchieta e termina na Serra, o inspirou a compor (em parceria com Ney Azambuja) os versos “De uma rua e seus ramalhetes/O amor anotado em bilhetes/Daquelas tardes”.
Longe da rua que tanto cantou, Tavito morreu nesta terça-feira (26), aos 71 anos. Ele estava internado no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, para se tratar de um câncer no pescoço. Seu corpo será cremado amanhã (27) na capital paulista.
Ao longo de uma carreira que teve início na década de 1970, ele compôs muitas outras canções – Casa de campo, com Zé Rodrix, eternizada na voz de Elis Regina, é a mais conhecida delas. Nascido em Belo Horizonte, Tavito foi integrante do Clube da Esquina. Foi violonista do Som Imaginário, grupo criado ainda nos anos 1970 para acompanhar Milton Nascimento.
Mais tarde, migrou para a publicidade – criou 3 mil peças, entre jingles e trilhas para emissoras (como o SBT/Alterosa) e comerciais, como Vem pra Caixa/Você também. Muita gente não sabe, mas o jingle Marcas do que se foi, composto para o governo federal em plena ditadura militar, foi criado por ele. “Este ano/ Quero paz no meu coração/ Quem quiser ser meu amigo/ Que me dê a mão. O tempo passa/ E com ele caminhamos”, dizem os versos, uma espécie de hino do réveillon de 1976 (e ainda cantado até hoje), em pleno governo Geisel.
Tavito admitiu, anos mais tarde, que não gostava de assumir a autoria da música. “Já estávamos no período de distensão política. Se não fizesse, outros fariam”, disse o compositor, que chegou a ser preso durante a ditadura militar.
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Mesmo que a publicidade o tenha afastado da carreira na música, Tavito retomou recentemente a produção autoral. Em 2014, a convite do cantor e compositor Affonsinho, lançou o álbum Mineiro, com repertório que mesclou canções inéditas e regravações.
Amigos e parceiros de Tavito lamentaram a morte do músico nas redes sociais. O compositor e maestro Wagner Tiso, companheiro de Som Imaginário, prestou sua homenagem. "Partiu Tavito! Meu grande amigo do tempo do Som Imaginário! Cumpriu bela missão na terra com trabalhos musicais de altíssimo nível e grande beleza! Viveu com duas famílias maravilhosas, a do seu pai e a que formou com Celina e filha! Jamais te esquecerei meu amigo!".
Outros artistas mineiros e, principalmente, do Clube da Esquina, como Beto Guedes, também se manifestaram. "Dia de uma tristeza imensa com a partida do amigo Tavito Carvalho. Grande amigo, parceiro, músico e poeta extraordinário. Você fará muita falta neste mundo com sua alegria, simplicidade e generosidade. Meus sinceros sentimentos à Celina, Júlia e toda a família. Vai na paz, amigo!", escreveu Beto no Twitter.
O cantor e compositor Lô Borges publicou um texto ao lado de uma foto com Tavito. "Partiu hoje meu grande e talentoso amigo Tavito, que tanto contribuiu para a Música Popular Brasileira e, em especial, para a música do Clube da Esquina. Descanse em paz, querido amigo!"
Já seu irmão Márcio Borges declarou que era uma "terrível perda" enquanto Guarabyra afirmou que esse era um dos dias mais tristes de sua vida. "Tavito, companheiro de uma vida inteira, acaba de nos deixar cantando sem a sua companhia no palco da vida. Muito, muito, muito triste", lamentou.
Luiz Carlos Sá também lembrou o amigo e o último encontro, que ocorreu no Natal. "Adeus, amigo querido, parceiro, companheiro, produtor, causador, cabeça única, adeus Octávio, adeus Tavito. Ainda no Natal estávamos todos aqui em casa, pensando em novas músicas e agora esse golpe. Não vamos te esquecer, não vamos recusar a lembrança para evitar o sofrimento, vamos segurar a barra e tocar sempre suas músicas. Você estará aqui perto de nós, sempre..."
O velório de Tavito será no Cemitério do Araça.