

Bibi Ferreira se apresentou em Belo Horizonte pela última vez em fevereiro de 2017, com o espetáculo 4XBibi. A apresentação, no Palácio das Artes, ocorreria semanas antes, mas teve que ser adiada, como relembra a produtora Tatyana Rubim. Bibi passou mal no dia do espetáculo e acabou sendo internada, por volta das 10h, com problemas cardíacos. Às 16h, queria fugir do hospital e honrar seu compromisso com o palco e o público. A sessão, entretanto, foi remarcada.
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“Ela representa a resiliência e a perseverança nessa luta pelo teatro brasileiro. Quando a víamos interpretando ou cantando, éramos tomados por uma emoção inesquecível. Bibi vai deixar saudade, mas não ausência. O estado dela é sempre de presença, na vida e no palco”, afirma Tatiana, empreendedora do Teatro em Movimento.
“Bibi era uma mulher de imensa vitalidade e eterna surpresa. Quando pisava com seu pé direito no palco, ela passava de 90 anos para 19. Quando saía do escuro da coxia para a luz do palco, remoçava pelo menos uns 50 anos. Bibi Ferreira era um milagre”, afirma o também produtor Afonso Borges.
Afonso e Tatyana ressaltam que a artista era singular em seu trabalho e também na rotina. Aos 90, saía do teatro às 3h, ávida pelo joelho de porco de um restaurante alemão na região Centro-Sul da capital.
O ator, diretor e produtor Ílvio Amaral também trabalhou diretamente com ela. “Você é ator? Não quer cometer uma loucura comigo? Estou com um canastrão no elenco. Você tem coragem de entrar no espetáculo?”, perguntou Bibi a ele, que aceitou de imediato o convite. Eles ensaiaram durante três dias, exaustivamente, e estrearam na mesma semana a peça Deus lhe pague, em São Paulo.
Amaral conta que caiu nas graças da primeira-dama do teatro brasileiro. Tanto que Bibi veio a BH, em 1998, para conferir o sucesso de Acredite! Um espírito baixou em mim. “Ela me falava diversas vezes: 'Precisamos fazer uma peça para você estourar no Rio da mesma forma que estourou em Belo Horizonte'”, lembra.

Já o diretor Pedro Paulo Cava comentou que, dos diversos espetáculos de Bibi a que assistiu, na década de 1970, dois o impressionaram: a primeira montagem de Piaf e O homem de La Mancha. “Nesses tempos de mediocridade, com tanta notícia ruim, o Brasil fica mais pobre de inteligência e talento. Suas inteligências estão indo embora”, afirma.
Cava ressalta que a estrela herdou o talento do pai, Procópio Ferreira (1898-1979), que ele define como o maior ator brasileiro. “Bibi viveu e morreu como artista: trabalhando. Ela foi uma referência para todos do ramo, porque era uma artista integral: cantava, dançava e interpretava.”
O dramaturgo, ator e diretor Jota D'Angelo diz que Bibi “era uma artista perfeita, que dominava de maneira excepcional todo o palco, seja como atriz, diretora, cantora e dançarina”.
Sua lembrança mais marcante de Bibi nos palcos vem de Gota d'água, de Paulo Pontes e Chico Buarque, que estreou em 1975. “Guardo na minha memória, nitidamente, a beleza daquele espetáculo. Foi uma montagem que, em pleno regime militar, tinha uma clara conotação antiditadura.”