Beatriz Segall exibia um talento múltiplo ao representar. "Ela disseca cada papel que interpreta", disse o diretor Eduardo Tolentino em 2009, quando estreou Retratos Falantes. "Tem consciência das nuances de cada personagem", completou Charles Möeller, que a dirigiu no musical Nine, em 2015. Mas, mesmo com talento reconhecido, Beatriz era sempre lembrada pelos papéis de mulheres dominadoras, implacáveis, eternamente mal humoradas. Em outras palavras, Odete Roitman.
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Morre, aos 92 anos, Beatriz Segall, a eterna Odete RoitmanGrande papel de Beatriz Segall foi a icônica vilã Odete RoitmanBeatriz Segall exibia um talento múltiplo ao representarFamosos lamentam morte de Beatriz Segall Relembre frases de Odete Roitman, vilã de Beatriz Segall em 'Vale Tudo'Uma injustiça que, com o tempo, diminuiu mas não aplacou. Afinal, desde sempre, Beatriz tornou-se célebre em peças que tratavam de mulheres que enfrentavam a vida com sensibilidade sem autocomiseração e autodisciplina severa. Por trás da aparente rispidez daquela, havia um toque de solidão. Basta lembrar de sua delicada interpretação em Emily, peça baseada na vida da poetisa americana Emily Dickinson e dirigida pelo então pouco conhecido Miguel Falabella.
Sua disposição em trabalhar com jovens talentos ainda desconhecidos, aliás, tornou-a uma espécie de madrinha de importantes grupos, como o Tapa, dirigido por Tolentino e que a comandou na maravilhosa montagem de O Tempo e os Conways, de J. B. Priestley.
Ciente de seu talento, Beatriz não convivia bem com defeitos, especialmente durante suas apresentações. Chegou a interromper uma representação para encarar um homem que atendia o celular. "Vamos esperar que ele termine a conversa", disse ao público. Em outra oportunidade, presenciada por este repórter, também parou a encenação para reclamar do operador de luz. Para alguns, um ataque de estrelismo. Mas, quem conhecia um pouco daquela mulher, que largou momentaneamente a carreira em seu início para cuidar dos filhos, que abrigou perseguidos pela ditadura em sua casa, que estabeleceu uma programação de rara qualidade quando dirigiu o Teatro São Pedro ao lado do marido Maurício (período marcada por encenações memoráveis de Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo, Frank V, de Friedrich Dürrenmatt, e À Margem da Vida, de Tennessee Williams), enfim, quem conheceu um pouco de Beatriz Segall sabia estar diante de uma senhora do palco..