A cerca de nove meses do próximo carnaval, o bloco Unidos do Samba Queixinho ainda não deu início à produção fantasias, adereços e outras alegorias típicas da festa de Momo, mas quem quiser já pode entrar no barracão. O convite – não necessariamente para uma batucada – é feito pelo idealizador do grupo, Gustavo Caetano. A partir das 19h desta quarta (20), a agremiação carnavalesca promove em sua sede no Bairro Carlos Prates uma roda de conversa. O tema é o futuro da folia belo-horizontina, bem como discussões pertinentes às bandeiras e lutas que marcam a festa na cidade desde o seu reflorescimento, em 2009.
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“A ideia é convidar as pessoas para debater o modelo de carnaval que queremos para BH. A festa cresceu muito nos últimos anos, e a gente precisa pensar nos rumos que ela vai tomar, em como fortalecê-la, preservando seu caráter democrático”, diz Gustavo Caetano. O fundador do Queixinho destaca também a relevância da conversa coletiva sobre as questões políticas que atravessam a folia na capital, sobretudo aquelas ligadas às minorias. “Quem vai pôr essas discussões na roda são as pessoas que militam nesses movimentos. Convidamos, no total, seis representantes para participar do evento, como a Júhlia Santos, travesti negra integrante do bloco Corte Devassa; a presidente da Associação dos Blocos Afros de Minas Gerais, Nayara Garófalo, e o fundador do Mamá na Vaca, Guto Borges”, conta Gustavo.
Borges, que além de “pai” do Mamá na Vaca é historiador e pesquisador da velha-guarda do samba da capital mineira, diz que partilhará com os participantes do encontro suas inquietações quanto à sobrevivência cultural do carnaval belo-horizontino, diante de seu estrondoso crescimento. “O poder público sempre aborda o carnaval sob uma perspectiva econômica, das cifras. E o que percebo é que, com isso, a folia vem ganhando um ar ‘programado’, em que atuam agentes programadores e cerceadores. No ano passado, por exemplo, veio a polícia querer nos dizer o que é e o que não é carnaval. Isso não é papel deles. Há também a pressão comercial que, se a gente deixar, vai acabar engolindo o evento, como aconteceu em outras cidades do interior, que, no passado, assim como nós, faziam uma festa culturalmente viva e hoje estão em declínio. A questão que pretendo colocar na roda então é esta: o formato de carnaval que queremos construir daqui pra frente.”
LIVRO Novo poder – Democracia e tecnologia, publicação de autoria do ativista cultural e comentarista da rádio CBN Alê Youssef, é baseada em sua dissertação de mestrado, defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2017. Na obra, Youssef faz uma reflexão crítica sobre a relação entre tecnologia e poder, delineando dois possíveis cenários para esses elementos: um deles, harmônico, em que os avanços tecnológicos favorecem a democracia. O outro, sombrio, em que as oligarquias tecnológicas monopolizam recursos e plataformas visando ao controle social.
Diretor-executivo da Associação Cultural Acadêmicos do Baixo Augusta, em São Paulo, Yousef ressalta a pertinência das discussões de hoje em BH. “O carnaval é um espaço de resistência política contra esse momento em que o discurso fascista nos ameaça. Ele é mais que uma instituição: é uma grande arma política, é a continuidade do Brasil”, afirma.
RODA DE CONVERSA SOBRE MODELOS DE CARNAVAL DE RUA E DE LUTA
Com lançamento do livro Novo poder – Democracia e tecnologia, de Alê Youssef (Letramento, 152 p., R$ 31,40). Hoje (20), às 19h, no Barracão do Queixinho (Rua Conquista, 254, Carlos Prates). Entrada franca. Mais informações:https://www.facebook.com/pg/sambaqueixinho.