Dona Ivone Lara era a cara do Rio de Janeiro, mas seu legado marcou todo o cenário da música brasileira. A morte da Dama do Samba repercutiu entre os artistas mineiros, como Dudu Nicácio, que teve o privilégio de tocar com a veterana algumas vezes. “Alguns dos momentos mais importantes da minha carreira foram nas ocasiões em que cantei ao lado dela. A primeira foi há cerca de oito anos, em Campinas. Quando a gente saiu do palco, todo o grupo de artistas, o público e a equipe técnica estavam emocionados com a presença dela. O show tinha hora para acabar, mas ninguém queria deixá-la ir embora”, lembra o cantor.
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DESENVOLTURA
O músico Warley Henrique também teve a honra de trabalhar com Dona Ivone. Ele a conheceu na festa de aniversário de um amigo e a convidou para participar de seu primeiro disco, Delicado, lançado em 2008. Ele lembra que o show daquele disco foi o último em que a sambista esteve em boa forma física, surpreendendo todos por sua desenvoltura, apesar da idade já avançada.
“Chegamos a fazer algumas músicas no camarim. Ela foi a maior compositora de melodias da música popular brasileira de todos os tempos. Em toda a minha carreira, nunca conheci outra pessoa com tanta capacidade e facilidade de compor. Não cheguei a registrar nada do que fizemos juntos, foram coisas de momento, mas pretendo lançar esse material futuramente”, revela Warley.
Mineiro que fez sua carreira no Rio de Janeiro, Toninho Geraes também teve relação próxima à Dama do Samba. Ele deve a ela sua paixão pelo estilo musical, algo que nasceu na infância, quando ainda vivia em BH e escutava as canções da artista todas as manhãs pelo rádio. Ao se mudar para o Rio, onde frequentou o Cacique de Ramos e a Império Serrano, o fã virou parceiro artístico. “Ela deixou uma marca muito forte na cultura brasileira enquanto mulher negra, da periferia, que conseguiu atingir e conquistar os grandes nomes da MPB e da crítica especializada. O Brasil não perde Dona Ivone Lara, porque ela não morre nunca”, diz Toninho.
FRUTOS EM MINAS
Confira a repercussão de artistas
“Dona Ivone tem a força da mulher sambista e compositora como nenhuma outra. Eu poderia dizer que ela é ‘uma das maiores’, mas não, ela é a maior. Como diz o samba, Dona Ivone Lara é ‘joia rara’. Muita gente canta, até nas rodas de samba, as músicas de Dona Ivone Lara e não sabe da existência dela. Ela nasceu para a arte e conseguiu sobreviver, como mulher negra, dentro desse nosso universo. Não com o reconhecimento que merecia, mas passou bem pela Terra e deixou sua marca.”
. Maurício Tizumba, cantor, compositor e ator
“Nessas horas, a gente costuma dizer ‘o Brasil perde mais uma pérola’, mas eu fico questionando se o Brasil valorizou essa pérola enquanto ela esteve viva. Não sei se ela teve o crédito merecido por ser a artista maravilhosa e, principalmente, a grande compositora que era. Por ser mulher, por ser negra... Ela passou a ser reconhecida tarde, o que a fez começar a carreira já com o nome de Dona. Dona Ivone era muito espiritualizada, conectada com seus ancestrais. Agora ela deve estar tendo um encontro muito bonito com toda a ancestralidade que ela cantava em suas músicas.”
. Sérgio Pererê, cantor e compositor
“Ela foi símbolo de resistência numa época em que o samba era muito dominado pelos homens. Além da obra enorme e de nível excelente, ela foi
um exemplo de luta quando a inserção da mulher na área era bem mais complicada, principalmente como compositora – um sexismo que existe até hoje. Dona Ivone Lara, com certeza, foi um grande incentivo às compositoras e intérpretes da atualidade.
. Thiago Delegado, cantor e compositor