Lucélia Santos critica intervenção de Temer: 'Desculpa para matar pobre'

'Isso é uma cartada do presidente para dizer que ele está fazendo alguma coisa', disse a atriz, em entrevista no programa 'Mariana Godoy Entrevista'

por Estadão Conteúdo 27/03/2018 09:36
Rede TV!/Reprodução
Lucélia Santos critica intervenção promovida pelo governo de Michel Temer. (foto: Rede TV!/Reprodução)
A atriz Lucélia Santos, conhecida por ter atuado na novela Escrava Isaura (1976-1977), fez duras críticas à intervenção federal que ocorre no Rio de Janeiro no programa Mariana Godoy Entrevista da última sexta-feira (23). "A intervenção foi para matar pobre. Foi um erro de avaliação no País, não deveria ter havido. Isso é uma cartada do presidente para dizer que ele está fazendo alguma coisa. Custa bilhões e não resolve o problema da segurança", opinou, ressaltando que considera a atual situação "fora de controle".

"É uma situação que sempre houve, mas foi se agravando por causa da total incompetência administrativa do Estado e da cidade. São sucessivos governos completamente detratores, incompetentes, irresponsáveis. A segurança se transformou num 'nada'. Isso é um problema do País, mas no Rio de Janeiro é configurado de uma forma extremamente agressiva por causa dessa questão social que envolve a população negra que mora nas comunidades e que é confundida com bandido, por causa do tráfico de drogas", explicou.

Lucélia também deu sua 'solução' para o problema: "Eu pessoalmente considero que a questão passaria por uma reforma política de base, estrutura, onde se mudassem as regras do jogo. A gente repete os mesmos vícios e os mesmos maus hábitos de corrupção desde a fundação da república. Isso está se agravando porque vem um problema cultural do Brasil, onde a corrupção se transformou numa forma de agir, como se fosse normal ser corrupto. Hoje é obrigatório ser corrupto! Isso é uma realidade dramática."

A atriz ainda disse acreditar que o posicionamento político de um artista pode contribuir para afastá-lo das produções na TV: "O Brasil não é um país tão habituado a lidar com pessoas que se posicionam, talvez seja isso".

Por outro lado, Lucélia disse que o fator não foi o principal para sua ausência nos folhetins: "Basicamente, não foi isso que atrapalhou minha carreira. As pessoas ficam cobrando que eu esteja presente nas novelas. O que atrapalhou foi a questão de as pessoas tratarem os atores também como escravos, porque não pagam os nossos direitos conexos, isso foi o que atrapalhou, não o fato de eu estar na rua ao lado do povo ou de eu andar de ônibus".

Em outro momento, quando falavam sobre a primeira versão da novela Sinhá Moça, da qual Lucélia participou, e que é reprisada pelo canal Viva, a apresentadora perguntou se os artistas recebem algo quando seus antigos trabalhos voltam ao ar.

"Não recebemos nada. Não recebemos absolutamente nada. É bom que essas coisas comecem a ser faladas e ficar esclarecidas, porque todo mundo acha que eu não faço novela porque eu sou riquíssima e tenho uma preguiça de ir pra televisão gravar novela, vivo na banheira, nos meus sais e não preciso fazer nada. Não é verdade! Eu ralo pra caramba, preciso ganhar a vida. Não tenho aposentadoria e não recebo um único centavo por todo meu trabalho de quase 40 anos!", desabafou a atriz.

Questionada por Mariana Godoy sobre sua relação com novos atores com quem tem trabalhado em oficinas de teatro, Lucélia respondeu, destacando a necessidade de estudos e dedicação para o mundo da atuação: "O que eu sinto nos atores é um total despreparo, porque essa profissão é uma profissão difícil, não é uma profissão de inspiração, somente. Você tem que ter inspiração, mas é uma profissão de transpiração".

MAIS SOBRE E-MAIS