Por R$ 500 mensais, um estudante paranaense de 22 anos tem mantido, há seis meses, sua própria Netflix. De graça para quem quiser. Leva o nome de Libreflix a plataforma de streaming criada por Guilmour Rossi, aluno de engenharia de computação e sistemas de informação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Curitiba.
No ar há pouco mais de seis meses (libreflix.org), a plataforma “aberta e colaborativa” exibe produções audiovisuais independentes. Estão lá, ao acesso de um clique, filmes clássicos como Metropolis, de Fritz Lang (1927), e Limite, de Mário Peixoto (1931). Ou então a série Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura (seus 90 episódios foram exibidos entre 1994 e 1997), e o documentário Muito além do Cidadão Kane, de Simon Hartog (1993), produção do Channel 4, do Reino Unido, que mostra a relação da mídia e o poder no Brasil, com ênfase na presença de Roberto Marinho, criador da Rede Globo.
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A plataforma não exige cadastro para os usuários terem acesso ao conteúdo – basta apenas clicar no filme escolhido. Mesmo assim, em seis meses, 12 mil contas foram criadas. “O número de usuários que fizeram o acesso ao menos uma vez é de quase 200 mil, mas apenas 40% desses voltaram novamente ao site. Nossa tarefa agora é ter uma relação mais próxima com quem usa a plataforma, para que, mesmo depois do entusiasmo inicial, eles voltem quando estiverem procurando alguma produção audiovisual para assistir”, comenta Rossi.
O campeão de audiência da Libreflix é o documentário Observar e absorver, de Júnior SQL (2016), sobre a trajetória do artista de rua Eduardo Marinho. Foi assistido 7 mil vezes. Hoje já com aplicativo para Android, o Libreflix tem uma curadoria muito simples. “É feita uma verificação para confirmar se as obras têm licenças permissivas que as autorizem a ser, no mínimo, transmitidas de graça pela internet. Outros critérios também são analisados, como a não existência de discurso de ódio e que o formato se encaixe próximo ao de um filme, seja documentário, de curta ou longa-metragem.” Clipes, vlogs e videocasts não entram na programação.
A iniciativa criada pelo estudante paranaense incorpora trabalhos de grandes plataformas em que o autor publicou sua obra, como YouTube ou Vimeo. “É legal porque o projeto segue a filosofia do software livre. Iniciei o Libreflix com a ajuda de ferramentas criadas por outros. Por isso dá para dizer que ele é feito por todo mundo.”
PRODUÇÃO NACIONAL Para quem acha que o mundo se limita aos gigantes Netflix, Amazon Prime Video e iTunes, basta dizer que ao lado do Libreflix há uma série de outras iniciativas semelhantes – algumas gratuitas, outras pagas (veja destaque). De uma maneira geral, tais plataformas se destinam a exibir obras independentes.
A Spcine, empresa da Prefeitura de São Paulo para o desenvolvimento do audiovisual, uniu-se à O2 Play, braço da O2 Filmes para a distribuição, e ao laboratório de soluções digitais Hacklab para criar a Spcine Play (spcineplay.com.br). No ar há pouco mais de dois meses, a plataforma exibe conteúdo audiovisual brasileiro.
Ainda na fase beta (que vai até maio), a plataforma atualmente tem em seu catálogo 10 longas nacionais. O conteúdo é pago: R$ 3,90 por filme, que fica disponível ao usuário por uma semana. Passado o período experimental, a plataforma vai agregar mais conteúdo.
Atualmente, estão no ar Mãe só há uma (2015), de Anna Muylaert; O menino e o mundo (2013), de Alê Abreu; Uma noite em Sampa (2016), de Ugo Giorgetti; A batalha do passinho (2012), de Emílio Domingos; Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista (2012), de Riba de Castro; Ausência (2014), de Chico Teixeira; Califórnia (2015), de Marina Person; De menor (2013), de Caru Alves de Souza; Paratodos (2016), de Marcelo Mesquita; e As fábulas negras (2015), de Rodrigo Aragão, José Mojica Marins, Petter Baiestorf e Joel Caetano.
Nestes dois meses, a plataforma teve quase 2 mil cadastros. Indicado ao Oscar de animação em 2016, O menino e o mundo é o título mais visto. “Nossa janela – tempo que o filme sai do cinema e migra para outras plataformas – é um pouco diferente da praticada pelo mercado. Trabalhamos com um recorte de filmes recentes, lançados nos últimos cinco anos, embora os títulos brasileiros históricos também estejam no radar”, afirma o gerente de políticas operacionais da Spcine, Thiago Taboada.
• Outras iniciativas
» Porta Curtas (portacurtas.org.br)
Destinado ao formato do curta-metragem, o site funciona tanto para catalogação de filmes quanto para exibição. Atualmente, tem 11,7 mil curtas catalogados – o que inclui ficha técnica, foto, roteiro, premiações e participações em festivais. Destes, 1,23 mil estão disponíveis para exibição on-line gratuita.
» Curta o Curta (curtaocurta.com.br)
Criado em 2000, o site também exibe filmes gratuitos pela internet, além de trazer publicações sobre o meio do curta-metragem nacional.
» Afroflix (afroflix.com.br)
Criada em 2016, a plataforma colaborativa que disponibiliza gratuitamente conteúdo audiovisual traz como pré-requisito pelo menos um profissional negro nos créditos de suas áreas técnica e artística. Exibe filmes, séries, programas, vlogs e clipes.
» Curtadoc (curtadoc.tv)
O catálogo do site traz exclusivamente documentários latino-americanos. O conteúdo exibe, gratuitamente, filmes e edições do programa homônimo lançado em 2009 pelo Sesc TV.