Até chegar aos aracnídeos, os cientistas coletaram cerca de 2 mil espécimes adultos durante uma série de viagens de campo, que durou cinco anos. As aranhas foram classificadas como espécies troglófilas edáficas, o que significa que são capazes de completar o ciclo de vida longe da luz solar. Apesar de preferirem ficar nas sombras subterrâneas, nenhum dos novos animais tem as adaptações características de organismos que vivem exclusivamente em cavernas, como perda de pigmentação e olhos reduzidos ou ausentes. Por isso, podem ser vistos também do lado de fora.
“Seus membros (os Ochyrocera) vivem entre lixos ou em cavernas, não excedem 2mm de tamanho total e têm seis olhos. O grupo atualmente inclui 175 espécies, distribuídas em 15 gêneros. Nenhuma revisão foi realizada até a data. Portanto, a diversidade da família é mal compreendida”, ressaltam, no artigo científico, Antonio Brescovit, Igor Cizauskas e Leandro Mota, pesquisadores do Instituto Butantan.
Os cientistas escolheram personagens de obras literárias famosas para nomear as novas espécies. Ochyrocera varys ganhou o nome por causa de Lorde Varys, da série As crônicas de gelo e fogo, escrita por George R. R. Martin e que serviu de inspiração para a série Game of thrones. Apelidado de aranha, o personagem é conhecido pelas habilidades de manipulação e pela “rede de olhos”, os espiões, em todos os continentes.
A segunda espécie chama-se Ochyrocera atlachnacha e homenageia a “aranha deusa” Atlach-Nacha, personagem que pertence ao universo criado pelo autor H. P. Lovecraft, um dos grandes nomes do gênero do terror, na obra O chamado de Cthulhu.
Duas espécies fazem referência a aranhas de obras clássicas de J. R. R. Tolkien, autor de Senhor dos anéis. Ochyrocera laracna é uma aranha gigante que ataca os personagens principais, Frodo e Sam, no segundo volume. Já Ochyrocera ungoliant é a mãe de Laracna. A série Harry Potter também foi lembrada. A espécie Ochyrocera aragogue é uma referência ao Aragog falante, que faz parte da saga do bruxo criado por J.K Rowling.
A Ochyrocera misspider homenageia Os amigos da Miss Spyder, livro do americano David Kirk. Já a espécie Ochyrocera charlotte refere-se a Charlotte, a aranha do clássico A teia de Charlotte, escrito por E. B. White e um dos contos infantis mais conhecidos mundialmente. Os pesquisadores acreditam que é altamente provável que existam muitas outras espécies e populações desse grupo de aranhas que ainda não foram descobertas.