Escritora vítima de estupro descarta BO por não confiar no 'sistema'

Clara Averbuck relatou em redes sociais que foi vítima de estupro por um motorista de Uber em São Paulo

29/08/2017 17:16

Reprodução/Facebook
(foto: Reprodução/Facebook)
A escritora Clara Averbuck, de 38 anos, que relatou nas redes sociais nesta segunda-feira (28), ter sido vítima de estupro e agressão física cometidos por um motorista do Uber, declarou no seu Facebook que o fato a deixou mais forte e que ninguém irá derrubá-la.  As informações são da Agência Câmara. 


"Sabe aquele ditado que 'o que não me mata, me torna mais forte'? Estou mais forte, vou ficar mais e ninguém me derruba", disse Clara.
 
A escritora também revelou no vídeo que muitas pessoas estão a pressionando para ir à delegacia fazer um boletim de ocorrência, mas descarta por não confiar no 'sistema'.

 

"Estão me pressionando para fazer denúncia, pra ir à delegacia; não me encham o saco, essa decisão é minha, eu não confio no sistema", afirmou Clara.

No relato, Clara Averbuck diz que não tem como provar o crime de violência sexual porque não tem provas. "BO não é um documento mágico do Harry Potter que vai te defender. Como é que eu vou provar? Eu não tenho sêmen em mim, eu não tenho nada em mim. Eu só tenho essa marca (no rosto) de quando ele me derrubou no chão"

No vídeo, Clara avisa para aqueles que estão duvidando que ela sofreu violência sexual que o estupro não é apenas um coito. "Não se estupra apenas com o pênis, estupro não é só isso, vão ler a lei, vão estudar", disse Averbuck.


Íntegra do relato

"Eu fiz um relato de uma agressão que eu sofri e isso viralizou de uma forma que eu não estava esperando. Como sempre vai ter gente duvidando da vítima, como sempre vai ter gente dizendo por que não foi à delegacia? Por que não fez BO? É que a pessoa fica super bem depois de ser agredida, tudo que ela quer é ir na Polícia.

A informação estava virando uma coisa sensacionalista de 'a famosa foi estuprada'. Então eu resolvi tentar dar uma revertida e fiz um texto em primeira pessoa.

E aí é claro que isso atraiu bolsominion, eles sempre estão na minha cola; pra mim não é novidade nenhuma e eu preciso falar disso. Eles realmente acreditam que castração química é uma solução.

Primeiro que para acreditar nisso a pessoa tem que achar que estupro é só quando enfia um pênis em algum lugar.

Eu tenho novidades queridos: não se estupra apenas com o pênis, estupro não é só isso, vão ler a lei, vão estudar.

Segundo: duvidar da vítima não é nenhuma novidade.

Terceiro: estão me pressionando para fazer denúncia, para ir à delegacia. Não me encham o saco, essa decisão é minha, eu não confio no Sistema.

Já fui mil vezes à delegacia, já levei amiga, já levei desconhecida, já levei um monte de mulher, já vi o tratamento que é dado.

BO não é um documento mágico do Harry Potter que vai te defender Não significa que vai acontecer alguma coisa com o cara. Como é que eu vou provar? Violência sexual é o único crime que quem tem que provar é a vítima.

Eu não tenho sêmen em mim, eu não tenho nada me mim. Eu só tenho essa marca de quando ele me derrubou no chão. Como é que eu vou provar alguma coisa?

Não tenho como! Não tenho como! e isso pode se voltar contra mim O cara sabe onde eu moro, não me deixou na frente da minha casa, senão teria câmera e seria muito mais fácil identificar; ele parou na rua ao lado da minha casa porque já estava mal intencionado.

Então, antes de entrar nessa ação punitiva, parem e pensem um pouco sobre o sistema, sobre como ele funciona e como ele não funciona.

Não adianta espancar estuprador, não adianta matar estuprador, não é assim, não é assim.

Os homens reproduzem a violência que eles conhecem, a masculinidade que eles conhecem.

Estuprador não é monstro, estuprador pode ser o teu vizinho, o teu tio, inclusive a maioria dos estupros acontece dentro de casa.

Então é isso! A decisão é minha! Eu agradeço as pessoas que estão mandando amor e apoio e aqueles que estão me xingando eu quero que vão cuidar das suas vidas.

E assim: eu vou apenas em um programa de TV só, porque eu fui escolhida para falar de feminismo e dessa questão e eu não vou ficar fazendo sensacionalismo com violência da mulher.

Então agradeço se pararem de me procurar. Não vou a Jornal, ao SBT, a Record, não vou, não quero, não tem sentido.

Tudo o que eu tinha que dizer está dito no meu texto da Claudia Muito obrigada.

Só mais uma coisinha: sabe aquele ditado que o que não nos mata nos faz mais fortes? tô mais forte, vou ficar mais e ninguém me derruba. É isso."

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