“Com as pesquisas arqueológicas que trouxeram à luz os vestígios do cais, imediatamente percebemos que estávamos diante de um local de memória único nas Américas, porque não há outro vestígio de desembarque”, explica o antropólogo Milton Guran, responsável pela candidatura do sítio carioca a patrimônio mundial da humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A candidatura foi oficializada em março de 2016. Em 2012, a cidade do Rio de Janeiro já havia sido declarada patrimônio mundial da Unesco em razão de suas riquezas naturais, entre o mar e a montanha.
SENEGAL O reconhecimento do sítio permitirá ao Rio ser incluído na mesma lista em que está a Goreia. Declarada patrimônio mundial em 1978, essa ilha senegalesa é reconhecida como o ponto de partida simbólico dos escravos africanos para as Américas. A milhares de quilômetros de distância, do outro lado do Atlântico, os vestígios do Valongo permitem reconstruir o final de uma terrível viagem.
“Aqueles que sobreviviam à travessia tinham que percorrer apenas mais alguns passos para chegar a seu próximo destino, o mercado dos escravos, formado por várias lojas espalhadas em torno da praça”, informa o historiador Cláudio Honorato.
Os escravos não permaneciam muito tempo no Rio de Janeiro. Uma vez vendidos, eram rapidamente levados para as plantações de cana-de-açúcar do Nordeste, as minas de ouro de Minas Gerais ou para as plantações de café da região de São Paulo.
É difícil estabelecer números com precisão, mas historiadores acreditam que o Brasil recebeu mais de quatro milhões de escravos vindos da África – 40% do total das vítimas do tráfico para as Américas.
JOGOS OLÍMPICOS Principal porta de entrada dos escravos no Rio de Janeiro entre o final do século 18 e meados do século 19, o Cais do Valongo desapareceu progressivamente, sob várias camadas de coberturas. O sítio arqueológico foi revelado em 2011, durante escavações realizadas antes das obras de revitalização da Zona Portuária, um dos projetos faraônicos para os Jogos Olímpicos de 2016.
“Sabíamos que o Cais do Valongo se encontrava neste local, mas não esperávamos achar muita coisa. Foi absolutamente surpreendente a forma como ele se preservou, em função da grande profundidade em que está”, explica a arqueóloga Tânia Andrade Lima, responsável pelas escavações.
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