De seus 52 anos de vida, Aluizer Malab tem 27 dedicados à produção cultural. Foi por muitos anos o Aluizer do Giramundo (produziu o grupo de teatro de bonecos); o Aluizer do Pato Fu (é empresário da banda desde sua formação); o Aluizer do Eletronika (é um dos realizadores do festival de novas tendências musicais criado em 1999).
Há 12 anos, ele deixou de ser Aluizer. Passou a ser o Malab – reconhecido pela empresa de produção de eventos que leva seu sobrenome. Em 12 anos de existência, a Malab Produções realizou eventos de grande porte em Belo Horizonte.
Foi uma das produtoras dos shows de Beyoncé, Iron Maiden e Elton John, todos no Mineirão pós-reforma. Neste mês, leva a veterana banda de progressivo Renaissance ao Palácio das Artes e o cantor britânico Ed Sheeran ao Gigante da Pampulha. A empresa ainda tem um braço para o agenciamento de artistas. Além do Pato Fu, a Malab atualmente empresaria a banda Jota Quest.
Os dois shows citados acima – em 28 e 30 de maio, respectivamente – ainda que tenham a Malab como produtora, não terão o Malab como produtor. Desde 13 de janeiro, Aluizer Malab é o presidente da Belotur, a Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte. Na entrevista a seguir, ele fala sobre sua estreia no serviço público, os desafios da cidade e, também, sobre como dividir público e privado.
Por que deixar a iniciativa privada e abraçar o serviço público?
Nunca pensei nisso. Sou um produtor independente e sempre me vi fazendo as coisas que tenho vontade de fazer. Gosto dessa liberdade. Quando recebi o convite (para a Belotur), fiquei um pouco assustado. Ao final de 2016, já tinha meu desenho de 2017 (para a Malab Produções) pronto. Deu um nó. Como funcionaria isso? De certa forma, sempre fui muito crítico com o serviço público. Poxa, talvez seja uma oportunidade de poder trabalhar isso, de mostrar alguma diferença. E, sendo uma empresa, você tem algumas liberdades para fazer a gestão. Outro ponto que pensei foi no desafio. De repente, estou iniciando uma atividade. É novo, pois o turismo nunca foi meu norte, apesar de a área de eventos ser uma boa ferramenta para ele. Quando cheguei, já peguei o carnaval. Sou acostumado a fazer megaeventos em estádios. Mas eles sempre tiveram uma dimensão do número de pessoas que cabem no espaço. O evento da cidade é outra história, pois a fronteira não é visível. E tive a oportunidade, enquanto servidor público, de fazer o maior evento da minha vida. O carnaval foi um evento para 3 milhões de foliões.
Como fica a Malab Produções, já que é uma empresa privada que também atua com eventos, mesmo que não sejam ligados ao turismo?
Montei uma estrutura para suportar a minha ausência. No ano passado, direcionei a empresa para voltar novamente para o agenciamento artístico. Assumi, no fim do ano, o Jota Quest. Ainda tem os projetos do Pato Fu. Vamos lançar, por exemplo, o Música de brinquedo 2. E há também um trabalho sendo desenvolvido com o Sideral. Tenho uma diretora-executiva que assumiu tudo e um diretor artístico que está tocando os eventos. Mas meu local de trabalho é a Belotur. Não respondo pela Malab neste momento.
O prefeito Alexandre Kalil anunciou a intenção de enxugar a máquina e citou especificamente a área da Cultura. Esse enxugamento já chegou à Belotur?
Temos uma estrutura de 140 funcionários. É muita gente. A gente também vai sofrer cortes. O que o prefeito tem dito faz sentido. A gente tem um custeio muito alto e sobra pouco dinheiro para a conta. Quanto mais enxuto e eficiente, mais recurso poderá ser destinado à atividade. E o poder público sofre muito com as máquinas inchadas. Aqui também teremos (cortes). Fui um dos últimos a entrar, mas, até agora, fiquei sozinho. Não houve mexidas. Agora que estou com o trabalho mais desenvolvido de planejamento para a gestão, trabalho já entregue e aprovado pelo prefeito, é hora de montar a equipe. A maior questão é entender a Belotur como uma empresa pública. Temos que correr atrás de mecanismos que nos permitam ampliar o investimento. Não é só cortar. O norte é o investimento na gestão. Não temos que diminuir projeto. Pelo contrário, temos que ampliá-los. Nosso orçamento é em torno de R$ 24 milhões. É ínfimo para investimento. Mas temos que ter a possibilidade de viabilizar os projetos. Estamos indo atrás da iniciativa privada para tentar recursos – financeiros ou de serviço.
Após o carnaval, o próximo grande evento da Belotur é a festa junina. O que será feito neste sentido?
A ideia é desenvolver uma grande festa junina, juntando as festas tradicionais existentes (como o Arraial de Belô), com as de clubes, igrejas e festas privadas. Estamos mobilizando também bares e restaurantes para transformar a cidade numa megafesta. Em Belo Horizonte existem 38 quadrilhas. Tem festa junina que existe desde a origem de BH, mas que não é reconhecida como festa tradicional, como existem os São Joãos de outros cantos. A intenção é que se possa promover isto por aqui, pois queremos ter a fatia deste momento misturado com os atrativos turísticos, a gastronomia e tudo o que há no entorno da cidade.
Neste curto período na Belotur, você sente que tem um bom grau de autonomia proporcionado pelo prefeito?
Tenho autonomia. O prefeito é superaberto a boas ideias. Só que boas ideias têm que vir com uma forma de ser viabilizadas, têm que vir com um cheque. Temos que nos esforçar, então, porque a prioridade da gestão da prefeitura no primeiro ano será educação e saúde.
O título que a Pampulha ganhou da Unesco em 2016, de Patrimônio Cultural da Humanidade, foi uma das vedetes da gestão passada. O que a Belotur pretende fazer em torno do conjunto moderno da Pampulha?
O processo da eleição se deu ao longo de um tempo. Foi um trabalho coletivo, com vários atores. Foi um grande legado da antiga gestão. E o que tem agora? Um oceano azul, porque nada foi feito de concreto. Iniciamos agora o Circuito Pampulha Noturno, em que toda terça-feira a região funciona à noite. Para BH, a conquista do título foi fantástica, mas o título sozinho é muito pouco. O interessante disso é o que se pode desenvolver a partir dele. O mundo mudou e a contemplação não é mais o que a gente busca. Você já não viaja mais para ficar contemplando, você quer viver aquilo, ter uma experiência. Então queremos fazer aquele patrimônio se tornar algo interessante. Já foram três terças-feiras em que todo o equipamento ficou aberto à noite. Você pode visitar o aquário, ir a shows no Museu de Arte da Pampulha, na Casa do Baile, na Casa do Juscelino. A jardineira está circulando... Ou seja, você tem vida naquele espaço.
A Belotur e a Fundação Municipal de Cultura (FMC) são muito próximas e chegaram a ter o mesmo presidente na administração passada, Leônidas de Oliveira, a quem você sucedeu na Belotur e que pediu exoneração da FMC no mês passado. Como vê a transição na FMC, que ainda não teve novo presidente nomeado?
Vamos continuar próximos, independentemente de quem fique à frente. O turismo é transversal, ele precisa do que todas as áreas geram. A cultura é a irmã mais próxima do turismo, que prescinde da produção cultural. A saída do Leônidas foi uma pena. Ele é extremamente competente, integrado com sua equipe, mas sua saída foi pessoal. Não somos de lugar nenhum. Estamos aqui por algum tempo. Daqui a pouco o Malab também vai sair. Vai entrar o Joaquim, depois o Manoel...