O corpo do cantor Jerry Adriani, que morreu neste domingo (23) aos 70 anos, está sendo velado na manhã desta segunda-feira (24), no Cemitério Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio. O enterro será nesta tarde.
Adriani, um dos ídolos da Jovem Guarda no anos 1960, estava internado no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, para se tratar de um câncer. A morte foi anunciada pela família em um dos perfis do cantor no Facebook. “A família de Jerry Adriani tem o doloroso dever de comunicar aos seus amigos o seu falecimento. Agradecemos a todos pelo enorme carinho”, diz o post publicado.
Desde o início de março, o cantor vinha relatando, por meio das redes sociais, seus problemas de saúde. Ele foi internado logo após o carnaval. Em 4 de março, publicou um vídeo em que afirmou ter sentido “problemas físicos” no fim do período carnavalesco. Por isso, consultou seu médico e foi orientado a se internar. Submetido a uma pequena intervenção, que não detalhou, o cantor disse que a situação estava sob controle.
Após a primeira internação, ainda em março, o diagnóstico era de trombose nas pernas. Em 14 de março, Adriani voltou a se manifestar no Facebook, desta vez por um texto: “Como muitos sabem, fui surpreendido por problemas de saúde que me levaram a uma internação e à constatação de que havia passado por uma trombose profunda que acabou provocando embolia pulmonar”, dizia o post. Na ocasião, Adriani teve que cancelar shows, o que também anunciou em seu Facebook.
saiba mais
Após o anúncio da morte, os perfis de Adriani no Facebook receberam várias manifestações de pesar, de fãs e músicos. O guitarrista Rick Ferreira, que integrou bandas de Raul Seixas e Erasmo Carlos, publicou uma foto ao lado de Adriani em 2001, em Liverpool, na Inglaterra, em que os dois se apresentavam durante a “Beatle Week”.
O sangue rock and roll de Jerry Adriani possuía um comprometimento maior com a gênese do estilo do que algumas de suas próprias canções demonstraram. Reconhecê-lo por apenas Doce doce amor ou Tarde demais é conhecê-lo pela metade, reduzir sua importância.
Jerry não sofria por fazer o jogo do mercado. Era bonito, tinha charme e tinha voz. Uma tríade que nem Roberto, Erasmo ou Wanderléa conseguiam reunir individualmente. E lá se foi o garoto nascido no Brás, com uma banda de rock no currículo chamada Os Rebeldes, se meter a cantar como galã italiano. Italianíssimo, o disco, fez sua estreia em 1964, ajudando a regar a terra na qual nasceria a Jovem Guarda.
O ano em que a juventude brasileira foi descoberta, 1965, foi também o que confirmou Jerry como um quadro viável no novo mundo da música pop. Gravando agora em português, Um grande amor faria sua estreia como ídolo de massa, preparando-o ainda mais para 1967, quando sairia um de seus discos mais vitoriosos, Vivendo sem você.
Jerry Alves de Sousa foi o homem que descobriu Raul Seixas na Bahia, selando seu faro e sua determinação. Raul era Raulzito, que fazia bailes grã-finos de Salvador com seu grupo, Os Panteras, quando Jerry passou com seu show pela cidade. Ao saber de Raul (uma das versões diz que Raul não estava nesse dia com o grupo, que só viria a ser conhecido por Jerry depois), o cantor encafifou com a ideia de que aquele baiano deveria não só ir para o Rio de Janeiro como também se tornar produtor de seus discos. Saiu-se cheio de argumentos pra cima do poderoso Evandro Ribeiro, da gravadora CBS, e o convenceu: de 1969 a 1971, os discos de Jerry seriam produzidos por Raul, e com muitas músicas de sua autoria.
Jerry se foi no ano em que passaria todas as suas histórias a limpo. Ajudado pelo amigo, o pesquisador Marcelo Fróes, ele previa uma biografia de muitos causos e o lançamento de um disco cantando músicas de Raul. A bio será lançada por Fróes, que já colheu os depoimentos de Jerry. O disco, que teria 22 músicas feitas por Raulzito, não chegou a ser gravado.