Sobre os motivos que ocasionaram o fechamento do local, os responsáveis pelo empreendimento preferem se resguardar. “Eram seis sócios, dois saíram e, então, os quatro restantes acharam melhor não continuar”, resume Rafael de Souza, um dos seis proprietários. Durante o período de atividade, a casa se caracterizou pela frequente aglomeração de pessoas do lado de fora, na porta, muitas vezes superior ao número de pagantes na parte interna. O mesmo já acontecia no antecessor Nelson Bordello, casa de shows que funcionou no mesmo local entre 2010 e 2011.
Mas, segundo Souza, isso não foi decisivo para o encerramento da casa. “O pessoal entrava muito, depende do show, tivemos muitos eventos lotados. Nossa capacidade era de 250 pessoas e passavam 400 em algumas noites. Em alguns shows, sim, ficava vazio, mas não era o problema. A porta sempre teve uma vida maior que o bar, vem da época do Bordello
Sem sinais de ressentimento ou frustração, os responsáveis pelo Baixo se orgulham dos 148 shows de 111 bandas diferentes realizados em pouco mais de dois anos – a casa foi aberta em dezembro de 2014. Um total de 290 eventos, 30% deles gratuitos, de acordo com os responsáveis pela casa. “Quando abrimos, nosso objetivo era trabalhar com nomes autorais, e o único cover foi a Orquestra Mineira de Música Brega. Não precisamos em momento algum apelar para o cover, foi muito satisfatório”, afirma.
Entre as noites mais empolgantes nesses dois anos de atividades, Souza destaca o show da banda paulista Bixiga 70, em abril de 2015, e as apresentações do cantor alagoano Figueroas, além da Festa do Migrante, evento multicultural que reuniu música e gastronomia de vários países que têm comunidades de imigrantes em BH. “Montamos o Baixo porque a gente estava sentido com o fim do Bordello. Foram amigos que juntaram as forças. O objetivo não era fazer grana, até porque todos tinham seu segundo trabalho, e aí conseguimos isso que queríamos”, diz.
Para se despedir do público, o Baixo prepara sua última festa, porém a alguns quarteirões dali. Nesta sexta-feira, no Mercado das Borboletas, algumas das atrações mais presentes na casa se reúnem para o encerramento. O evento terá shows das bandas Kill Moves, Pequena Morte, além do bloco Toca Raul Agremiação Psicodélica. Os DJs Dedé Lover, Palomita, além do time da Alta Fidelidade, completam a programação musical, que ainda inclui o Forrozim do Baixo, em outro espaço do Mercado
A GRUTA O Baixo Centro Cultural não foi o único reduto alternativo da cidade a fechar as portas em abril.
Após seis anos de shows, festas, performances, intervenções e outras manifestações artísticas que tinham em comum a busca pela liberdade, A Gruta, localizada na Rua Pitangui, ao lado do Galpão Cine Horto, também se despediu no último fim de semana.
O grupo que administrava o espaço resolveu interromper as atividades e repensar as estratégias. “Não é à toa que chamamos Casa de Passagem, vamos entendendo as coisas na vivência, desejamos construir novos lugares, novas histórias e sempre pensando no como, como se ocupar, a Gruta transbordou, o público hoje é maior do que cabe nela, temos a necessidade de repensar esse ponto, repensar a localização, para não gerar incômodo para os vizinhos, é repensar o hoje”, afirma Joyce Malta, que, ao lado de Admar Fernandes, comanda o coletivo Casa de Passagem, idealizador da casa.
Vanguarda na cidade em eventos culturais atrelados às causas LGBT e femininas, entre outras temáticas ligadas à liberdade sexual e individual, a Gruta ganhou notoriedade por fomentar iniciativas culturais e oferecer espaço para ensaios, oficinas e realização de eventos.
“Quando a gente começou, era bem diferente, não existia uma noite como a da Gruta, nem esse espaço de liberdade na madrugada com uma programação mais independente. Isso é meio recente, fizemos parte dessa transformação, de se sentir à vontade para ocupar espaços e ir para a rua. Estamos nesse movimento juntos com o carnaval, colaboramos com isso como um espaço de resistência”, diz Joyce, destacando alguns trabalhos artísticos que usaram a Gruta para se financiar, como os coletivos Bacurinhas, Toda Deseo e Dengue, que realizou ali algumas das primeiras edições do Duelo de Vogue, além de artistas da música como Iconilli e Veronez.
Hasta La Vista Baixo!
Festa de despedida do Baixo Centro Cultural, hoje, às 22h, no Mercado das Borboletas (Av. Olegário Maciel, 742, 3º piso, Centro). Com shows de Kill Moves, Pequena Morte e Toca Raul Agremiação Psicodélica e os Djs Palomita, Dedé Lover, Alta Fidelidade, Yugga & Vhinny (Forrozim do Baixo). Ingressos: R$ 20. Mais informações:www.facebook.com/baixocentrocultural.