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Baixo Centro Cultural fecha as portas e se despede hoje com festa

Em outro sinal de encolha na oferta cultural de BH, casa de shows encerra suas atividades depois de dois anos e mais de 140 shows. No último fim de semana foi a vez da Gruta

Pedro Galvão
Madrugas eram concorridas na porta do estabelecimento - Foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A.PRESSNos últimos anos, a Rua Aarão Reis, nas imediações da Praça da Estação, foi destino constante da população notívaga interessada na vida cultural da capital mineira. O Baixo Centro Cultural, ou somente Baixo, tornou-se reduto alternativo na região da cidade que lhe dava o nome pelos shows, festas ou simplesmente pela reunião de gente que tomava conta da calçada, em frente ao local. No entanto, as noites concorridas terminaram. O estabelecimento encerrou suas atividades e se despede hoje com uma grande festa no Mercado das Borboletas.

Sobre os motivos que ocasionaram o fechamento do local, os responsáveis pelo empreendimento preferem se resguardar. “Eram seis sócios, dois saíram e, então, os quatro restantes acharam melhor não continuar”, resume Rafael de Souza, um dos seis proprietários. Durante o período de atividade, a casa se caracterizou pela frequente aglomeração de pessoas do lado de fora, na porta, muitas vezes superior ao número de pagantes na parte interna. O mesmo já acontecia no antecessor Nelson Bordello, casa de shows que funcionou no mesmo local entre 2010 e 2011.

Mas, segundo Souza, isso não foi decisivo para o encerramento da casa. “O pessoal entrava muito, depende do show, tivemos muitos eventos lotados. Nossa capacidade era de 250 pessoas e passavam 400 em algumas noites. Em alguns shows, sim, ficava vazio, mas não era o problema. A porta sempre teve uma vida maior que o bar, vem da época do Bordello
. Já prevíamos isso, tanto que até tínhamos nosso bar na rua”, diz ele, lembrando que, nos dias em que não havia evento, o espaço funcionava como “boteco”, com mesas na calçada, e vendia suas bebidas do lado de fora nas noites de shows e festas.

Sem sinais de ressentimento ou frustração, os responsáveis pelo Baixo se orgulham dos 148 shows de 111 bandas diferentes realizados em pouco mais de dois anos – a casa foi aberta em dezembro de 2014. Um total de 290 eventos, 30% deles gratuitos, de acordo com os responsáveis pela casa. “Quando abrimos, nosso objetivo era trabalhar com nomes autorais, e o único cover foi a Orquestra Mineira de Música Brega. Não precisamos em momento algum apelar para o cover, foi muito satisfatório”, afirma.

Entre as noites mais empolgantes nesses dois anos de atividades, Souza destaca o show da banda paulista Bixiga 70, em abril de 2015, e as apresentações do cantor alagoano Figueroas, além da Festa do Migrante, evento multicultural que reuniu música e gastronomia de vários países que têm comunidades de imigrantes em BH. “Montamos o Baixo porque a gente estava sentido com o fim do Bordello. Foram amigos que juntaram as forças. O objetivo não era fazer grana, até porque todos tinham seu segundo trabalho, e aí conseguimos isso que queríamos”, diz.

Para se despedir do público, o Baixo prepara sua última festa, porém a alguns quarteirões dali. Nesta sexta-feira, no Mercado das Borboletas, algumas das atrações mais presentes na casa se reúnem para o encerramento. O evento terá shows das bandas Kill Moves, Pequena Morte, além do bloco Toca Raul Agremiação Psicodélica. Os DJs Dedé Lover, Palomita, além do time da Alta Fidelidade, completam a programação musical, que ainda inclui o Forrozim do Baixo, em outro espaço do Mercado
. Os ingressos custam R$ 20.

A GRUTA O Baixo Centro Cultural não foi o único reduto alternativo da cidade a fechar as portas em abril.  

Após seis anos de shows, festas, performances, intervenções e outras manifestações artísticas que tinham em comum a busca pela liberdade, A Gruta, localizada na Rua Pitangui, ao lado do Galpão Cine Horto, também se despediu no último fim de semana.

O grupo que administrava o espaço resolveu interromper as atividades e repensar as estratégias. “Não é à toa que chamamos Casa de Passagem, vamos entendendo as coisas na vivência, desejamos construir novos lugares, novas histórias e sempre pensando no como, como se ocupar, a Gruta transbordou, o público hoje é maior do que cabe nela, temos a necessidade de repensar esse ponto, repensar a localização, para não gerar incômodo para os vizinhos, é repensar o hoje”, afirma Joyce Malta, que, ao lado de Admar Fernandes, comanda o coletivo Casa de Passagem, idealizador da casa.

Vanguarda na cidade em eventos culturais atrelados às causas LGBT e femininas, entre outras temáticas ligadas à liberdade sexual e individual, a Gruta ganhou notoriedade por fomentar iniciativas culturais e oferecer espaço para ensaios, oficinas e realização de eventos.

“Quando a gente começou, era bem diferente, não existia uma noite como a da Gruta, nem esse espaço de liberdade na madrugada com uma programação mais independente. Isso é meio recente, fizemos parte dessa transformação, de se sentir à vontade para ocupar espaços e ir para a rua. Estamos nesse movimento juntos com o carnaval, colaboramos com isso como um espaço de resistência”, diz Joyce, destacando alguns trabalhos artísticos que usaram a Gruta para se financiar, como os coletivos Bacurinhas, Toda Deseo e Dengue, que realizou ali algumas das primeiras edições do Duelo de Vogue, além de artistas da música como Iconilli e Veronez.

Hasta La Vista Baixo!

Festa de despedida do Baixo Centro Cultural, hoje, às 22h, no Mercado das Borboletas (Av. Olegário Maciel, 742, 3º piso, Centro). Com shows de Kill Moves, Pequena Morte e Toca Raul Agremiação Psicodélica e os Djs Palomita, Dedé Lover, Alta Fidelidade, Yugga & Vhinny (Forrozim do Baixo). Ingressos: R$ 20. Mais informações:www.facebook.com/baixocentrocultural.