Em janeiro de 2015, o recém-empossado secretário de Estado da Cultura, Angelo Oswaldo, assumiu a pasta prometendo reformular profundamente o Circuito Cultural Praça da Liberdade. Dois anos depois, o Palácio da Liberdade está fechado à visitação pública. O Palacete Dantas e o Solar Narbona permanecem desativados. Sem-teto se instalaram na entrada da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, dificultando o acesso de frequentadores – sobretudo crianças. As obras no antigo prédio do Ipsemg, futura Escola de Design da Uemg, caminham lentamente.
A atual gestão, que tem mais dois anos pela frente, buscou dar sua própria assinatura ao complexo. O nome já é outro: batizado em 2010 como Circuito Cultural Praça da Liberdade, atende como Circuito Liberdade. “Hoje, falamos em um circuito além da praça. Além disso, os equipamentos já existentes, antes pensados como locais de exposição, ganharam a lógica de centros culturais, com programação (shows, palestras, cursos, encontros) que dinamizou seu uso”, afirma Michele Arroyo, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), que desde 2015 responde pela gestão do complexo.
“Não temos pressa. Espero que pelo menos possamos deixar (prontos) o Centro de Informação ao Visitante e a Casa do Patrimônio”, afirma o secretário Angelo Oswaldo. Segundo a Secretaria de Cultura, em 2016, o público foi recorde nos seis anos do circuito: 1,5 milhão de pessoas (contra 1,371 milhão em 2015). No entanto, analisados separadamente, os números mostram discrepância entre os aparelhos diretamente ligados ao governo estadual e os demais
“No governo anterior, houve grande investimento na restauração e recuperação dos edifícios assumidos pela iniciativa privada. Parte dos equipamentos de responsabilidade direta do governo não teve o investimento devido. E muitos são edifícios com problemas estruturais”, observa Michele Arroyo, citando a Biblioteca Pública, o Museu Mineiro e o Arquivo Mineiro.
Com a decretação de calamidade financeira do estado, as obras de recuperação vêm sendo realizadas de forma morosa. Neste semestre, será entregue o prédio recuperado da chamada Rainha da Sucata, onde vai funcionar o Centro de Informação ao Visitante.
O site de apresentação do Circuito Liberdade cita 14 espaços culturais – 10 estão abertos ao público. Dois novos equipamentos foram agregados recentemente: o BDMG Cultural e a Academia Mineira de Letras (ambos na Rua da Bahia). “Definimos um perímetro maior de ação. A ideia é fortalecer o eixo da Rua da Bahia, com a futura ocupação do antigo Colégio Ordem e Progresso. Dessa maneira, iríamos criar mais um núcleo (de prédios) que faria a ligação com a Avenida João Pinheiro, chegando ao Arquivo e ao Museu Mineiro”, explica Michele.
Por ora, tudo está na base do projeto – como também a pinacoteca, que ocuparia o prédio do Detran, na Avenida João Pinheiro. Há ainda o edifício do antigo Ipsemg, futura Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), obra complicada que sofreu ajuste orçamentário e vem sendo retomada “aos poucos”, segundo o governo
Moradores de rua
Há pelo menos 30 moradores em situação de rua ocupando a região dos prédios da Biblioteca Pública Estadual (foto). “É o principal equipamento (do circuito) afetado, seja em relação à limpeza ou ao conflito com os moradores”, informa Michele Arroyo. O tema é delicado e os governos estadual e municipal discutem a questão. Na semana passada, o secretário Angelo Oswaldo se reuniu com a secretária municipal de Políticas Sociais, Maíra Cunha, para tentar estabelecer uma ação conjunta em relação aos sem-teto. “É uma situação difícil, praticamente consolidada. Não é fazer a higienização da praça, mas criar um programa de apoio às pessoas que moram ali”, explica o secretário.
Visitação em 2016
CCBB
746.315 pessoas
Biblioteca Estadual Luiz de Bessa
294.872 pessoas
Memorial Minas Gerais Vale
154.884 pessoas
Museu das Minas e do Metal
118.656 pessoas
Casa Fiat de Cultura
115.018 pessoas
Espaço do Conhecimento UFMG
64.618 pessoas
Museu Mineiro
12.515 pessoas
Centro de Arte Popular Cemig
12.459 pessoas
BDMG Cultural
3.910 pessoas
Arquivo Público Mineiro
2.994 pessoas
Nos planos
>> Casa do Patrimônio Cultural
É a menina dos olhos da atual gestão. Vai funcionar no chamado “Prédio Verde”, a antiga Secretaria de Viação e Obras Públicas. O projeto arquitetônico foi concluído. A obra será licitada “assim que conseguirmos recursos”, diz Michele Arroyo, presidente do Iepha/MG. Os dois primeiros pavimentos contarão com salas de exposição e reunião, biblioteca e ateliê de restauro aberto ao público. No terceiro e quarto andares ficará a parte administrativa do Iepha. Nesse local, é realizado atualmente o atendimento ao visitante (que voltará para a Rainha da Sucata). Voltado para as artes cênicas, o Centro de Ensaio Aberto (Cena), que seria criado, foi transferido para área próxima à Serraria Souza Pinto.
>> Palácio da Liberdade
De 2013 a 2015, o palácio ficou aberto à visitação. O governador Fernando Pimentel despacha lá e na Cidade Administrativa. Há intenção de reabri-lo ao público. Foram feitas reformas estruturais no prédio e um novo projeto de visitação. Porém, há um entrave: o sistema de combate a incêndio. “A caixa d’água que faz parte do sistema fica no Palácio dos Despachos. Com a ocupação daquele imóvel pela Casa Fiat, isso foi desmembrado. Estamos negociando com o Corpo de Bombeiros um projeto para tentar encontrar a solução”, informa Michele Arroyo. “Se tivéssemos o Despachos, o acolhimento do público (que fosse visitar o Liberdade) usaria aquele espaço.
O jardim e a capela (integrados à Casa Fiat) fazem parte da visitação que a gente propôs. Logicamente, com o Palácio dos Despachos ocupado, isso dificultou o manejo das visitas”, afirma Michele.
>> Museu da Educação
O Palacete Dantas e o Solar Narbona foram anunciados para sediar o Inhotim Escola e o Oi Futuro. Os custos inviabilizaram a ideia. “No caso do Oi Futuro, só no reforço da fundação dos edifícios seriam gastos R$ 40 milhões”, informa o secretário Angelo Oswaldo. A promessa é transferir para lá o Museu da Educação, que funcionou no “Prédio Rosa”. “Ele (o museu) foi desmontado, levado para a Gameleira e é praticamente inacessível”, critica o secretário. Com o retorno à praça,
o espaço seria ampliado.