Diante desse cenário, quais são suas palavras de ordem? Austeridade? Luto? Resguardo? Pois tire esse pretinho básico do espírito. Pode parecer estranho, mas a vida dura, o dinheiro que some, as notícias desanimadoras são, para muita gente, bons motivos para planejar… uma festa! A alegria, acredite, pode ser uma maneira bem saudável de resistir às tristezas e adversidades.
Motivos para comemorar? A bancária Fabíola Guedes, por exemplo, muitas vezes, até dispensa. Reunir os amigos em casa com algumas cervejas e petiscos caseiros para dar boas risadas costuma ser suficiente. A moça de de 32 anos, no entanto, é do tipo que inventa moda.
Adepta de festas temáticas, já armou farras memoráveis de carnaval, “arraiás” juninos e celebrações do dia das bruxas. “Costumo investir na decoração e digo para as pessoas virem a caráter. Também planejo tudo com antecedência. O halloween que fiz agora em outubro já tinha data em julho!”, conta a belo-horizontina.
Receber Anfitriã nata, ela fala do prazer que sente em receber e em estar perto dos amigos. “O pessoal às vezes vem aqui para casa às 21h e sai às 7h. É uma delícia! O marido é menos afeito a planejamento de festa que eu, mas faço ele me ajudar assim mesmo!”, brinca.
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A jovem destaca ainda que o programa caseiro, além de tudo, sai mais em conta se comparado a esticadas em bares e restaurantes. “De quebra, todo mundo faz uma economia. Os custos são geralmente rateados. A decoração e outras coisas básicas, como gelo e algumas bebidas, ofereço por minha conta. Mas, no mais, as pessoas participam do orçamento da festa. Fora que também economizam no transporte, pois podem dormir no meu apartamento mesmo, se quiserem. Assim, acabam evitando também a tentação de beber e dirigir depois, na volta para suas residências. Aqui está todo mundo em casa”, diz.
De espírito festeiro aflorado, Gabriela Pires, de 33 anos, vê as mesmas vantagens. Exigente, ela talvez empenhe um pouco mais de tempo e dinheiro em suas recepções, também planejadas com antecedência, para pelo menos 25 pessoas.
“Não sei fazer nada pouco. Isso de cozinhar para dois ou três não é pra mim. Gosto de casa cheia”, relata a arquiteta, cujo gosto pelas reuniões caseiras vem de família. Na infância, tinha um privilégio e tanto: docinhos personalizados, em forma de bichos e personagens, e bolos incrementados preparados pela mãe e pelas tias habilidosas.
“Casa cheia, para mim, é um aconchego, pois me remete a isso. Meus aniversários, quando eu era pequena, eram megafestas, mas tudo preparado pela família.”
Nos encontros que promove na cobertura e que mora, quase sempre Gabriela é quem vai para a cozinha. Só recorre a algum bufê quando sente que vai ficar muito cansada – consequentemente, impossibilitada de aproveitar a companhia dos convidados. Para outros itens da organização da festa, contudo, aceita ajuda de bom grado.
“A experiência foi me ensinando que, no dia de receber, não se pode ficar saindo muito de casa. Então, faço listinhas e peço aos amigos para comprarem coisas na rua para mim. Outra coisa muito importante que eu delego é a playlist. Festa sem música não é festa! Logo, sempre escolho alguém que vai estar presente e gosta de ficar com essa tarefa para me ajudar”, diz a jovem
A criatividade para pensar a diversão, geralmente, vem de suas viagens. Gabriela voltou há pouco tempo do México, onde morou por oito meses. Assim que retornou, chamou a turma para curtir uma amostra da tradicional festa do Dia dos Mortos, celebrado em outubro, para honrar quem já se foi com muita animação. “Teve altar, oferenda, comida típica e convidados fantasiados, claro. Mas já fiz também réveillon, brunch de aniversário, festa junina e um milhão de festinhas sem tema nem motivo, exceto estar perto das pessoas de que gosto mesmo. Para mim, elas são a coisa mais importante da festa. Convidados chatos resultam em festa chata!”, ressalta a moça, que mantém uma caixa com objetos de decoração em casa, reciclados e aproveitados a cada happy hour.
Decoração “Esses eu mesma compro, porque gosto de decorar. Mas não banco tudo sempre, não. Só os meus aniversários é que pago 100%. As despesas são geralmente rachadas. Todo mundo bebe à vontade, come o quanto quer e, em muitas ocasiões, desembolsa pouco mais de R$ 30”, afirma.
Muita alegria pelo menor preço é, definitivamente, o lema de Elizete Malaquias, de 48 anos. Também pudera: ela e as primas se reúnem, em média, a cada 40 dias para o que chamam de “chá das primas”. Trata-se de um encontro só de mulheres, que começou há cerca de dois anos. Além das primas, sobrinhas e algumas agregadas também são admitidas. Homens são “convidados a se retirar” dos locais eleitos para o evento (elas se alternam enquanto anfitriãs).
“Tudo começou porque sou a prima mais velha, com quem as mulheres da família desabafam. Elas sempre me procuravam para reclamar de alguma coisa ou contar segredos. Um dia eu falei: vou reunir todas elas aqui em casa, para a gente rir e chorar junto. Deu certo. É muito divertido. Já fizemos festa brega, hippie e até com o tema infância ou só um encontro simples mesmo. Isso reforça os nossos laços. É bom demais”, afirma a auxiliar administrativa.
Improviso Toda a produção, porém, é feita na base do improviso. O cardápio vai sendo composto à medida que as convidadas vão chegando: cada uma se responsabiliza por um prato ou bebida. Os gastos com os apetrechos decorativos são, segundo Elizete, mínimos. “A gente usa o que tem em casa, faz as próprias fantasias. O negócio é a simplicidade aliada à criatividade”, ensina. Atividades – brincadeiras, gincanas ou dinâmicas – também não podem faltar.
Mal acabaram de se reunir, as primas já planejam as próximas algazarras. “No último domingo, fizemos um ‘chá emergencial’ assim, de supetão, para uma prima que resolveu ir morar com o namorado no Espírito Santo. O próximo encontro vai ser na casa de uma outra prima nossa, no estilo country. Quando for minha vez de receber a turma de novo, já estou pensando no tema: moda praia. A maneira como a casa vai estar enfeitada é sempre surpresa”, diz.
Para arrasar na balada
Pessoas de alma festiva que buscam se aperfeiçoar na arte de receber não estão desamparadas nesse árido mundo. Apaixonada por um fuzuê caseiro, a jornalista e blogueira Chris Campos elaborou um guia para orientar os passos de anfitriões e anfitriãs: Almanaque das festas instantâneas (Editora Memória Visual). “Festas são momentos de felicidade. Um presente que a gente dá pra si mesma e para os outros. É também a hora em que podemos exorcizar os problemas e mostrar que somos mais fortes que eles. Especialmente nas atuais circunstâncias difíceis e confusas que o país atravessa, confraternizar é muito saudável”, acredita. Leia as dicas de Chris Campos para ser um festeiro de primeira:
>> A primeira coisa a ser definida em uma festa é a lista de convidados. É importantíssimo saber se as pessoas que você pretende chamar têm a ver umas com as outras.
>> Definir um tema não é obrigatório, mas, às vezes, ajuda muito. Dá o tom do cardápio e da decoração, por exemplo.
>> Faça tudo com antecedência, especialmente, se for cozinhar. Se possível, vá produzindo os pratos e congelando. Isso reduz o cansaço do anfitrião no dia de receber.
>> A maneira de convidar as pessoas é muito importante. Não marque simplesmente um evento no Facebook. No mínimo, crie um grupo de Whatsapp com os convidados. É importante que as pessoas sintam que você faz questão da presença delas.
>> Esteja preparado para a bagunça. Se você realmente fica muito estressado com louça quebrada e vinho derramado no sofá, melhor não fazer festa.
>> Vizinhos: seja fofo. Antes do evento, deixe um vinho com um bilhetinho pedindo desculpas prévias pelo barulho. No dia seguinte, agradeça a compreensão.