O sentido histórico da igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes, ganhou novos significados no encerramento da 4ª edição do festival Tiradentes em cena.
A atração foi disputada. Mais de duas horas antes do início da distribuição das senhas a fila já estava formada no adro da Matriz. Como nem um terço do público presente poderia ser contemplado – a capacidade era de 200 espectadores -, meia hora antes da estréia o ator anunciou que faria uma sessão extra, logo após a primeira. Para Matheus Nachtergaele, o teatro é o primo rebelde das religiões, arena livre para pensar quem somos. Aquele raro encontro do sagrado e do profano não deveria ser para poucos.
Católico não praticante, morador esporádico de Tiradentes, o artista sabe da relação que a população da cidade tem com a religião. Por isso, sempre teve em mente que Processo do conscerto do desejo, dentro da matriz, deveria ser uma invasão delicada. “Não queria fazer nada que pudesse magoar alguém, mas utilizar aquilo como uma cerimônia. Sabia que o que seria feito já era, de certa maneira, uma revolução: falar em suicídio dentro de uma igreja”. Mais que interprete, Nachtergaele foi mestre de cerimônias de uma oração pagã.
Apesar de tratar de tema tão pessoal, Processo do conscerto do desejo não é nada egocêntrico.
“As poesias são lindas, mas as pausas me emocionaram. Tudo fazia sentido no silêncio”, disse o estudante Robson Engelhartz de Moura. “Matheus interpreta de uma forma muito tocante. Cria expressões que inspiram qualquer ator. É uma escola, todo mundo que quer ser ator deveria assistir a esse espetáculo porque é muito impactante”, recomendou o Gustavo Teixeira, estudante de artes cênicas na Universidade Federal de São João Del Rey.
Em tempo: Matheus Nachtergaele está à procura de palcos que possam acolher uma temporada de Processo do conscerto do desejo em Belo Horizonte. O ator prefere não fazer uma passagem rápida pela cidade. Ainda bem.
TIRADENTES EM CENA
A quarta edição do Tiradentes em cena promoveu na cidade 27 espetáculos, de diversos gêneros. A idealizadora e coordenadora geral do evento, que tem o apoio do jornal Estado de Minas, Aline Garcia acredita que evento já demonstra maturidade na sua adaptação à cidade. Como há apenas um palco convencional em Tiradentes, peças foram encenadas em sobrados e outros espaços. “Todos os espetáculos que vem para cá sabem que não temos o formato de caixa preta tradicional. Tem que estar disposto a fazer em um lugar novo”, ressaltou.
Assim, além da igreja e dos sobrados, o Tiradentes em cena investiu em montagens itinerantes que espalharam o teatro pelas ruas da cidade. O plano de Aline Garcia é continuar com atrações gratuitas capazes de dialogar com a população da cidade e com os desafios que os espaços de Tiradentes oferecem.
A repórter viajou a convite do Tiradentes em Cena
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