A obra do poeta, escritor, crítico e pesquisador Mário de Andrade (1893-1945), ícone do modernismo brasileiro, caiu em domínio público, passados 70 anos de sua morte. Com isso, espera-se maior divulgação e valorização do autor dos clássicos Macunaíma e Pauliceia desvairada.
“Vão aparecer mais edições dos livros dele, já que as editoras não pagarão direitos autorais. Fora esse aspecto de mercado, resta saber em que isso contribuirá para o entendimento do autor. Considero muito importante, civilizador, ingrato pelas condições em que se dá e comoventemente heroico o trabalho de professores e agentes culturais que criam pequenas bibliotecas, círculos e redes de leitura pelo país de Macunaíma afora”, afirma o compositor e ensaísta José Miguel Wisnik, que chega amanhã, dia 5, a BH para abrir o evento Letra em cena. Como ler..., no Centro Cultural Minas Tênis Clube.
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“Digo isso para que se tenha uma vaga ideia do que chegou a ser a escola pública antes da sua desqualificação generalizada. A escola tinha o Centro Literário Carlos Drummond de Andrade e um grupo jogral que dizia poemas como A flor e a náusea, José e Dentaduras duplas. Fazíamos excursões a São Paulo para ver teatro. É claro que a nossa escola tinha o privilégio de ter professores muito especiais, mas o importante é que ela dava condições a tudo isso. Foi nesse ambiente que li Macunaíma”, destaca Wisnik.
De acordo com o ensaísta e compositor, Mário de Andrade é uma das expressões do impulso moderno que buscou desfazer a distância entre a cultura letrada brasileira e o povo entre os anos 1920 e 1960. Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, o Cinema Novo e a canção também contribuíram para isso. Figura múltipla, Mário atuou como poeta, ficcionista, crítico, musicólogo, ensaísta e pesquisador do folclore brasileiro.
“Mário é um autor consagrado, se é possivel falarmos isso de um escritor no Brasil, e ao mesmo tempo questionado por aqueles que acham que ele não passa de uma invenção da crítica paulista. A imprensa cultural interessada em vendagem, comportamento, moda e polêmica de superfície criou sensação em torno de revelações sobre sua homossexualidade. Em todo caso, prefiro o autor que provoca polêmica ao autor canônico. Macunaíma é um livro fundamental para o Brasil, ainda lido muitas vezes na superfície e na chave do estereótipo do preguiçoso. É muito, mas muito mesmo, mais que isso”, conclui Wisnik.
Letra em cena, com curadoria do jornalista, editor e escritor José Eduardo Gonçalves, contará com a presença do ator Arildo de Barros, do Grupo Galpão, encarregado da leitura dramática de trechos de Macunaíma.
Os outros convidados do projeto são Antônio Carlos Bueno, encarregado de revisitar a obra de Guimarães Rosa, em 14 de junho; Ítalo Morriconi, que vai falar sobre a poeta Ana Cristina César, em 13 de setembro; e Sandra Nunes, que abordará a obra do escritor mineiro Murilo Rubião, em 25 de outubro.
LETRA EM CENA. COMO LER...
Com José Miguel Wisnik e Arildo de Barros. Amanhã, às 19h. Centro Cultural Minas Tênis Clube. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Inscrições encerradas.