Ruffato participa do projeto Sempre um Papo debatendo e lançando 'De mim já nem se lembra' (Companhia das Letras), em edição revista e ampliada. “Toda vez que relanço um livro, a ideia é ter a oportunidade de chegar o mais perto possível do leitor. E é sempre uma tentativa, nunca é algo definitivo. Tem mudanças que fiz com relação à primeira edição que são importantes para mim e podem ser para quem vai ler”, explica o escritor de 'Flores artificiai's e 'Eles eram muito cavalos'.
Neste novo/velho livro, Luiz Ruffato recupera a antiga tradição do romance epistolar, numa narrativa sobre família, tempo e memória, e transforma um pequeno episódio familiar em uma oportunidade para falar de seu país e de sua sociedade. Ao abrir uma pequena caixa encontrada no quarto da mãe falecida, na qual ela “abrigara seu coração esfrangalhado”, o narrador se depara com um maço de cartas cuidadosamente atadas por um cordel.
A mistura de ficção e realidade mais uma vez se faz presente em uma obra de Ruffato. O autor mineiro comenta que boa parte de suas publicações tem esse conceito do que é real ou não e que cabe ao leitor tirar suas próprias conclusões. “Nesse livro, além do Flores artificiais e do Estive em Lisboa e lembrei de você, essa questão talvez esteja até mais efetivada. Meu objetivo é sempre colocar o real e o que não é real meio mesclados mesmo; ou o que foi criado e o que está sendo ressignificado. No entanto, faço questão de lembrar que se trata de um romance e, como tal, ele tem como substrato a realidade, mas é uma obra de ficção. Não acho que seja relevante saber se essas cartas existiram ou não, mas sim compreender o que está por trás delas”, analisa o escritor, que participou ontem à noite do encerramento da Bienal do Livro de Minas.
Real x imaginário
Apesar do hiato de nove anos entre a produção e o lançamento, Ruffato assegura que De mim já nem se lembra está bem atual, já que é ambientado nos anos de chumbo da ditadura, um momento bem sombrio da história e que, de acordo com o escritor, é, infelizmente, um sentimento forte nos dias de hoje. “O livro acaba ganhando força porque é um pouco o que estamos vivenciando. Para mim pelo menos, estamos caminhando para o obscurantismo com tudo isso que anda acontecendo”, lamenta.
Em julho, Luiz Ruffato vai até a cidade de Calw, na Alemanha, receber junto com seu tradutor para o alemão, Michael Kegler, o Prêmio Hermann Hesse de Literatura de 2016. Concedida a cada dois anos, a premiação reconhece “uma performance literária de gabarito internacional em conjunto com sua tradução”. “Quando vivo, o Hesse focava nessa tentativa de ampliar o repertório alemão, justamente valorizando o conhecimento de outras culturas e a ideia da Fundação e do prêmio que levam o seu nome é tentar manter esse espírito”, destaca Ruffato.
Sempre um papo com Luiz Ruffato
Lançamento do livro 'De mim já nem se lembra'. Segunda (25), às 19h30, na Sala Juvenal Dias/Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br.