“Percebemos que a questão da democratização, da pluralidade e a necessidade de diálogo com os outros era fundamental para se repensar o circuito e legitimar uma lógica mais democrática”, afirma Michele Arroyo, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
Com o objetivo de suprir essa demanda, começa hoje no Teatro da Biblioteca Pública Luiz de Bessa o Observatório Circuito Liberdade. A iniciativa pretende desenvolver uma dinâmica de escuta entre as mais diversas manifestações que ocupem o projeto cultural.
O formato de observatório, com discussões menos formais, foi considerado adequado por debater questões pontuais. O plano é que seja realizada uma edição a cada três meses, sempre com convidados. Considerando que transculturalidade é um tema latente tanto no cenário local como no internacional, o professor francês Jacques Poulain é o primeiro convidado do observatório. Ele deve proferir a palestra “Políticas públicas (Trans) culturais e a arte como meio de transformação social”.
FILOSOFIA
Colaborador do filósofo Jean François Lyotard na elaboração da pesquisa que culminou no livro Crítica à razão pragmática, Poulin é hoje uma referência no pensamento contemporâneo da filosofia.
Segundo Poulain, as políticas transculturais não apenas colaboram, mas são necessárias para gerar transformação na sociedade. “Atualmente, todo diálogo social se tornou impossível devido a uma mundialização na qual os Estados de direito encontram-se paralisados por grandes dívidas acumuladas”, analisa.
Para o pensador, o neoliberalismo criou uma situação em que os pobres e excluídos tornaram-se incapazes de se expressar com as próprias vozes. As políticas transculturais são alternativas para se resolver esse impasse. Transculturalidade, pela perspectiva de Poulain, se contrapõe a interculturalidade. O segundo conceito prevê diálogo entre culturas diferentes, pressupondo a ideia de tolerância. A transculturalidade propõe uma contaminação bilateral entre culturas diferentes, num processo dialógico.
Uma política pública transcultural, portanto, depende de parcerias. “Para restabelecer a participação de todos na construção de um mundo que não seja apenas justo em nível social, mas que saiba também respeitar a capacidade de julgamento das diferentes culturas enquanto formas de vida”, afirma o professor.
1º OBSERVATÓRIO DO CIRCUITO LIBERDADE
“Políticas públicas (Trans) culturais e a arte como meio de transformação social”. Palestra inaugural com Jacques Poulain, Miguel Arroyo e Evandro Ouriques. Hoje, às 9h, na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Praça da Liberdade). Entrada franca..