A mensagem é dada logo de cara: “Ações foi feito para ser dado, recebido, trocado, perdido, achado, perdido de propósito, doado, presenteado, emprestado, passado adiante. Nem vendido nem comprado”, escreve a autora Eleonora Fabião no texto que estampa a capa do livro. O design é simples, mas a cor, um amarelo forte, faz o exemplar chamar a atenção em qualquer lugar em que ele estiver. Com venda proibida, o livro poderá estar em cadeiras, mesas, prateleiras ou até no chão de locais como ônibus, metrô, praças, igrejas e supermercados. Um local garantido para encontrá-lo é na sede do grupo de teatro Espanca!, hoje, às 14 horas.
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“Chega uma hora que você se torna desconhecido de si mesmo”, avalia.Em outra experiência, a pesquisadora usou apenas dois jarros de prata, um cheio d’água e outro vazio. A performance consistia em ficar passando o líquido de um recipiente para o outro até que toda a água evaporasse. “As pessoas chegavam para ajudar. Às vezes demorava horas e horas pra ação ser concluída”, conta.Eleonora Fabião busca a transdisciplinaridade – não por acaso é formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e em Comunicação Social pela PUC Rio. Atualmente, escreve, performa, leciona e vê sempre conexão entre as coisas. “O músculo é que permite escrever, a escrita me leva pra sala de aula, a necessidade de respirar me põe na rua e a rua me leva para a escrita. É um ciclo”, diz a pesquisadora. Em meio a vários artigos, tese de doutorado, esse é o segundo livro da autora, precedido apenas por uma pequena publicação de poemas gráficos.
As histórias não chegam de bandeja para o leitor. A autora usa várias vozes, entre as que escuta durante as performances e a própria. Por vezes, as impressões ficam sobrepostas e é impossível distingui-las. “São fragmentos de cadernos de trabalho onde a palavra não acontece depois da ação realizada, ela é parte da prática”, define a pesquisadora.
A segunda parte do livro é composta por textos inéditos de outros autores de diferentes gerações e nacionalidades. São eles: Bárbara Browning, Pablo Assumpção B. Costa, Adrian Heathfield, André Lepecki, Felipe Ribeiro, Tania Rivera e Diana Taylor. Os escritores foram convidados pela autora para discutir o trabalho. Ela diz que pediu para que eles escrevessem “com o trabalho” e não “sobre o trabalho”. “Não era uma mera intimação para que eles escrevessem sobre o meu trabalho. Eu queria que eles se levassem pelas linhas de força que ele abre e pegassem questões para fazer seu próprio desenvolvimento”, esclarece. Ela usa o exemplo do britânico Adrian Heathfield para ilustrar o que aconteceu. “Ele disse que não conseguiria escrever sem que participasse de uma dessas experiências ao meu lado. Depois de ir para as ruas do Rio de Janeiro comigo, ele escreveu sobre as performances misturando terceira e primeira pessoa, falando como se fosse eu, Eleonora”, conta.
Belo Horizonte é a sexta cidade no mundo a receber o evento de lançamento do livro. A experiência já foi testada em Oslo, na Noruega, em Estocolmo, na Suécia, em Nova York, nos Estados Unidos, além do Rio de Janeiro e São Paulo. Em cada local, ela preparou um evento diferente. “Em BH, vamos fazer uma roda de conversa, mas haverá um convite. Não quero dar mais detalhes”, brinca a autora, enquanto mantém o suspense.
Ações
Lançamento do livro de Eleonora Fabião. Hoje, às 14h. No Espanca! (Rua Aarão Reis, 542 – Centro). Entrada gratuita. Haverá distribuição de exemplares da obra