A mensagem é dada logo de cara: “Ações foi feito para ser dado, recebido, trocado, perdido, achado, perdido de propósito, doado, presenteado, emprestado, passado adiante. Nem vendido nem comprado”, escreve a autora Eleonora Fabião no texto que estampa a capa do livro. O design é simples, mas a cor, um amarelo forte, faz o exemplar chamar a atenção em qualquer lugar em que ele estiver. Com venda proibida, o livro poderá estar em cadeiras, mesas, prateleiras ou até no chão de locais como ônibus, metrô, praças, igrejas e supermercados. Um local garantido para encontrá-lo é na sede do grupo de teatro Espanca!, hoje, às 14 horas.
Diferentemente da capa, o conteúdo do livro não é tão direto e pode ser descrito como um convite, uma proposta de união entre leitor e autor por meio da estranheza. Por si só, o livro é uma performance, resultado de experiências teatrais que a pesquisadora realizou nas ruas. A obra descreve situações como uma de 2008, na qual, Eleonora resolveu levar duas cadeiras da cozinha de casa para o Largo da Carioca, um dos locais mais expostos e movimentados no Centro do Rio de Janeiro. Com os móveis dispostos um de frente para o outro, ela ocupava um dos assentos e deixava o outro livre.
“Chega uma hora que você se torna desconhecido de si mesmo”, avalia.Em outra experiência, a pesquisadora usou apenas dois jarros de prata, um cheio d’água e outro vazio. A performance consistia em ficar passando o líquido de um recipiente para o outro até que toda a água evaporasse. “As pessoas chegavam para ajudar. Às vezes demorava horas e horas pra ação ser concluída”, conta.Eleonora Fabião busca a transdisciplinaridade – não por acaso é formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e em Comunicação Social pela PUC Rio. Atualmente, escreve, performa, leciona e vê sempre conexão entre as coisas. “O músculo é que permite escrever, a escrita me leva pra sala de aula, a necessidade de respirar me põe na rua e a rua me leva para a escrita. É um ciclo”, diz a pesquisadora. Em meio a vários artigos, tese de doutorado, esse é o segundo livro da autora, precedido apenas por uma pequena publicação de poemas gráficos.
As histórias não chegam de bandeja para o leitor.
A segunda parte do livro é composta por textos inéditos de outros autores de diferentes gerações e nacionalidades. São eles: Bárbara Browning, Pablo Assumpção B. Costa, Adrian Heathfield, André Lepecki, Felipe Ribeiro, Tania Rivera e Diana Taylor. Os escritores foram convidados pela autora para discutir o trabalho. Ela diz que pediu para que eles escrevessem “com o trabalho” e não “sobre o trabalho”. “Não era uma mera intimação para que eles escrevessem sobre o meu trabalho. Eu queria que eles se levassem pelas linhas de força que ele abre e pegassem questões para fazer seu próprio desenvolvimento”, esclarece. Ela usa o exemplo do britânico Adrian Heathfield para ilustrar o que aconteceu.
Belo Horizonte é a sexta cidade no mundo a receber o evento de lançamento do livro. A experiência já foi testada em Oslo, na Noruega, em Estocolmo, na Suécia, em Nova York, nos Estados Unidos, além do Rio de Janeiro e São Paulo. Em cada local, ela preparou um evento diferente. “Em BH, vamos fazer uma roda de conversa, mas haverá um convite. Não quero dar mais detalhes”, brinca a autora, enquanto mantém o suspense.
Ações
Lançamento do livro de Eleonora Fabião. Hoje, às 14h. No Espanca! (Rua Aarão Reis, 542 – Centro). Entrada gratuita. Haverá distribuição de exemplares da obra .