Segunda fase do projeto 'Telas urbanas' espalha painéis e pinturas em áreas de grande circulação da cidade

Sob o tema 'A cidade que vibra', projeto reuniu 42 artistas e promoveu diálogo do poder público com grafiteiros

por Ana Clara Brant 11/04/2016 08:51
O cinza e o concreto agora dão lugar a um emaranhado de cores e letras. Algumas das principais avenidas da região Norte de Belo Horizonte – Pedro I, Antônio Carlos e Portugal – estão de cara nova.

A Fundação Municipal de Cultura, em parceria com a Associação Cultural dos Amigos do Museu de Arte da Pampulha, concluiu no último domingo a segunda etapa do Telas urbanas, projeto de requalificação de áreas urbanas a partir da ocupação de espaços públicos com murais e grafites.
7 Meio Filmes/Divulgação
Obra do grafiteiro Gud homenageia Jim Morrison, da banda The Doors (foto: 7 Meio Filmes/Divulgação)

A primeira fase ocorreu em novembro de 2015 e reuniu 42 artistas, e a segunda, 41, entre selecionados via edital e convidados, de BH e outros estados. Já famosa na cidade por estampar mais de 600 cupcakes nos muros da cidade, Maria Raquel Bolinho, de 30 anos, foi uma das participantes.

A artista de Itabira elogia a iniciativa: “É a primeira vez que a gente tem um diálogo entre o poder público e os grafiteiros. Ainda temos uma relação meio delicada, mas já é um primeiro passo e isso é muito importante”.

Raquel diz que a população tem começado a ver com outros olhos a arte urbana. “Muita gente já sabe distinguir grafite de pichador. Somos artistas e já há um respeito bem maior com relação ao nosso trabalho desde que comecei.

O grafite tem se popularizado muito e isso é extremamente positivo”, aponta. Ela destaca a possibilidade de trabalhar com apoio institucional, com andaimes e segurança e diz que “qualquer oportunidade de pintar sempre é válida”.

O artista convidado Alexandre Rato, de 34, também ressalta a integração cada vez maior da street art com a cidade. Durante sete dias ele trabalhou em seu Transição vespertina, obra que ocupa um muro de aproximadamente 72m² no Viaduto José de Alencar.

“Quando a gente estava fazendo e quando finalizamos, teve gente que veio agradecer por deixar BH mais alegre e vibrante. Essa região é meio fria, cinzenta e, de repente, tudo mudou. Isso ajuda até na qualdiade de vida das pessoas. A rua tem essa coisa democrática. Permite a gente fazer uma exposição de arte para todos”, salienta.

Mais do que ver o trabalho pronto em si, acompanhar a feitura dele é o aspecto mais significativo na opinião do artista plástico Alessandro (Dinho Bento), de 36 anos. Ele foi um dos 34 artistas que se inscreveram no edital e dividiu o espaço com o colega Michel Testa. “A parceria funcionou muito bem. O Testa trabalha mais com o wild style (forma de letras intrincadas de grafite) e eu tenho uma coisa mais expressionista, de muita cor. Mas ficou parecendo uma obra de um artista só”, revela.

Dinho Bento ressalta que o processo de produção permite o contato dos cidadãos com a arte e o momento criativo. Mesmo a gente chegando com o esboço, é ali que acontece tudo. As pesquisas, as mudanças. E a pessoa que está de passagem acaba presenciando isso tudo. É único”, opina.

Luciana Feres, presidente do Conjunto Moderno da Pampulha, observa que, mesmo com estilos diferentes, os participantes conseguiram captar a essência do projeto e seu tema A cidade que vibra.

“Todos conseguiram dar uma outra energia para a cidade e humanizá-la através da arte”, analisa. “Muita gente tem um certo receio de entrar num museu e não entender nada. Esse tipo de inciativa mostra o contrário. Você está no meio da rua, se depara com uma pintura como essas e aquilo já gera um impacto que te faz refletir, pensar. Ainda mais nessa vida caótica que levamos, a gente se deparar com uma arte no muro já nos permite um momento de pausa, de apreciação. Isso é muito importante”, sintetiza Luciana.

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