Sob o pseudônimo de Culundria Armada e acompanhado pelo amigo João Perdigão, Navarro dedicou boa parte do seu tempo entre os anos 2000 e 2010 a colar pela cidade uma variada sorte de imagens de sua autoria. Estudioso da história da arte, ele resolveu reunir e investigar o trabalho feito não apenas por ele, mas por vários outros artistas de rua que também davam um movimento especial à capital mineira naquele período, com imagens satíricas, eróticas, políticas, divertidas ou que não diziam nada tão objetivo, afixadas por aí com grude ou adesivos autocolantes. O resultado da pesquisa realizada na Escola Guignard da Universidade Estadual de Minas Gerais está publicado em Pele de propaganda.
“Sempre quis fazer alguma coisa que registrasse essa produção de stickers e lambes, porque, pela própria natureza do formato, é uma linguagem muito efêmera. Mais cedo ou mais tarde, alguém rasga, o papel se deteriora ou pintam alguma coisa por cima.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, Navarro explica e faz uma análise dos lambes e dos stickers sob a luz da história da arte, encontrando relações entre as figuras espalhadas por BH e o dadaísmo e a pop art. Na segunda metade, ele relembra os artistas, coletivos e movimentos que se destacaram na construção dessa cultura. Além do Culundria Armada, Coletivo Azucrina, Mário Rufino, Davaca, JJBZ, entre outros, são lembrados, assim como locais que tiveram grande importância nesse contexto, como o Ystilingue e o Gato Negro, localizados no Edifício Maletta, e também eventos e happenings, como o Rotatória e o Vacas Magras, paródia da intervenção Cow Parade.
INICIATIVA
Mais do que pela arte grafada nas ruas em si, o interesse do autor por esse período se justifica pela forma com que aqueles artistas enfrentaram o ambiente urbano naquela época. Diante das transformações que a cidade sofria, surgiram iniciativas, bem retratadas pelos lambes, que resultaram em interessantes movimentos populares que vemos atualmente. “Era um momento de modificações urbanas em BH, alargamento de avenidas, obras que pensavam estritamente nos automóveis, câmeras Olho Vivo, e isso criou um cenário que revelava o sentimento da juventude que ainda estava na garganta, mas que iria estourar em junho de 2013”, avalia o autor. No livro, ele estabelece uma relação entre movimentos como o Rotatória e a Praia da Estação, além da retomada do carnaval de rua em BH.
Assim como outras expressões artísticas urbanas, como o grafite, os lambes e os stickers também são vistos com desconfiança por parte da opinião pública. No entanto, no entendimento de Luiz Navarro, a sociedade já se mostra bem mais aberta ao debate sobre o tema do que há 10 ou 15 anos. “Esse processo ocorre naturalmente, aos poucos, e o livro é uma tentativa de levar essa discussão para frente. As pessoas veem os trabalhos na rua e, às vezes, até participam desse processo criativo, já que no lambe dá para escrever em cima e rasgar, mas muitas vezes não se sabe da origem, da proposta, a ideia é difundir essas informações”, argumenta o autor, que destinará gratuitamente parte da tiragem de 600 exemplares para escolas municipais, bibliotecas públicas e centro culturais.
No lançamento, hoje, haverá bate-papo, a partir das 19h, com a presença do autor e dos artistas Comum, Davaca, Desali e Xerelll, que também são lembrados na obra. O livro estará à venda por R$ 20 (pagamento somente em dinheiro). Dentro de alguns dias, a versão on-line da publicação estará disponível na íntegra e gratuitamente na internet, no site www.peledepropaganda.com.br.
Pele de Propaganda: lambes e stickers em Belo Horizonte
Lançamento hoje, às 19h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro).
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