Em 'Nós' Grupo Galpão propõe uma discussão inédita sobre a dimensão política da vida cotidiana - Foto: Guto Muniz / Divulgação Por mais que o teatro seja político em sua essência, essa dimensão poucas vezes frequentou o primeiro plano do discurso nas montagens do Grupo Galpão.
Nós é um passo inédito na história de 34 anos da companhia. Évez questões contemporâneas norteiam a criação. O 23º espetáculo da trupe tem direção de Márcio Abreu, criador da Cia Brasileira de Teatro, de Curitiba. A montagem estreia no próximo dia 16 de abril para uma a temporada de um mês no Galpão Cine Horto.
“Falar de uma nova criação é sempre complexo”, afirma o diretor. A dramaturgia de Nós foi criada por Abreu e Eduardo Moreira a partir dos improviso dos atores. Ou seja, quando começaram a criar a peça, em outubro de 2015 não tinham noção para onde iam. É uma jornada bastante diferente na trajetória do Galpão, repleta de clássicos da dramaturgia mundial.
Desde 2005 Márcio Abreu é parceiro frequente do Galpão Cine Horto. Participou de diversos de projetos como Sabadão e Festival de Cenas Curtas com os companheiros na Companhia Brasileira. A experiência faz o diretor pensar sobre a função pública desempenhada pelo centro cultural mantido pelo grupo que tem ecos no novo espetáculo. “O entendimento do que é público ou privado influenciou muito este trabalho”, conta.
Em cena, Antonio Edson, Chico Pelúcio, Eduardo Moreira, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André e Teuda Bara lançam ao debate questões pertinentes com o mundo de hoje. Nós tem angústias, violência, intolerância, ao mesmo tempo em que carrega esperança. É uma montagem para espaços fechados (sem chance de ir para a rua, como é tradição do Galpão), mas propõe uma relação diferente com a plateia.
Os atores Júlio Maciel e Paulo André em cena do espetáculo 'Nós' com direção de Márcio Abreu - Foto: Guto Muniz / Divulgação “É uma sorte poder fazer o trabalho nessa dimensão de risco, de investigação, de mergulho em uma experiência no desconhecido que nem sempre a gente tem a chance de fazer. Muitas ocasiões nos vemos pressionados pelo tempo, por expectativas, por alguma coisa que talvez equivocadamente a gente chame de mercado e até por desejos de realização. Sinto que eliminamos o quanto pudemos esse tipo de pressão e nos colocamos em uma espiral mais vertical de relação com o trabalho”, detalha Márcio Abreu.
As cenas acontecem em um grande quadrado montado no centro do palco. A plateia se acomoda em arena, bem próxima dos atores. É intencional.
Márcio Abreu e o Grupo Galpão propõe ao público noções de proximidade e convivência.
Nós não tem uma trama linear. São sete pessoas, que se reúnem em torno de uma mesa, durante a preparação de uma sopa. Enquanto descascam batatas, cortam cenouras e outros legumes, cidadãos falam e pensam sobre o estar no mundo.
“O exercício teatral que o Márcio propõe é muito da permeabilidade e da concretude. Isso é um risco permanente”, comenta o ator Eduardo Moreira. “O Márcio é um artista sem fronteiras. Esse espetáculo também não tem fronteiras muito definidas. Estamos deixando de ser menos atores e mais performers”, diz o ator Paulo André. “É uma fronteira muito desafiadora”, resume Eduardo.
Nós 16 de abril a 15 de maio.
Quinta a sábado, 21h, domingo, 19h. Galpão Cine Horto. Rua Pitangui, 3.613, Horto, (31) 3481-5580. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Venda a partir de 7 de abril pelo endereço www.sympla.com.br/galpaocinehorto ou na bilheteria do teatro, duas horas antes do início do espetáculo. .