A transgressão, no sentido de desobedecer e ir além dos juízos normativos, é um aspecto que reúne as obras dos cariocas José Damasceno e Victor Arruda, e o estilista mineiro Ronaldo Fraga.
O primeiro apresenta um conjunto de peças que formam uma instalação cujo mote é fazer pensar sobre os objetos e espaços. O conjunto recebe o título de É pura épura. Sob o nome de Caleidoscópio, Arruda mostra desenhos e pinturas de épocas diversas, que fustigam ideais de beleza, tranquilidade e harmonia.
E Ronaldo Fraga mostra desenhos das peças criou para sua coleção inverno 2016, além de video que relata seu processo de criação inaugurando o espaço Pensando da dotART Galeria de Arte.
José Damasceno mostra conjunto de obras criadas com folhas de chumbo, madeira, granito, lã e texto.
A proposta é criar “uma situação” que, tendo nascido da articulação de matérias e espaço, escape das noções de representação, peça com sentido único, reconhecimento imediato etc. “Gosto de complicar”, brinca. “Trabalho com o não saber e como ele age construindo o mundo”, observa, vendo nos trabalhos um pensar sobre as coisas. E defende a criação de “um lugar” em que ideia e objeto, pensamento e espaço se confundem. “Sou escultor”, recorda.
O artista evita explicações que enfatizem aspecto simbólicos ou figurativos. No máximo, considera que as peças remetem “à condição inerente do ser humano” (o convívio com o não saber), posta em evidência de forma intensa e considerando os batimentos do inconsciente.
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Victor Arruda, de 70 anos, mostra desenhos, pinturas e lança livro sobre sua obra, com texto de Adolfo Montejo. Todos os trabalhos são atravessados por visualidade, definida pelo próprio artista, como agressiva, de crítica social e política, construída com discurso que articula sexo e poder. “É trabalho autobiográfico, narrativo, que não segue o cânone moderno, permeável à sociologia e à psicanálise, transgressivo, transgênero e transversal”, afirma.
E, para que não fique dúvida de seu gosto por arte popular, traz à cena um artista fundamental para a construção de sua linguagem: o pornógrafo Carlos Zéfiro (1921-1992). “Ele era romântico, não tenho nada de ingênuo”, provoca.
“Pinto o que penso, o que me perturba”, observa Victor Arruda, evocando desde relações entre patrões e empregados até a tortura durante a ditadura militar. Os primeiros trabalhos com essa perspectiva datam dos anos 1970 e vieram depois de ter se dedicado ao expressionismo. “E, desde então, foram ficando cada vez mais agressivos. Hoje está mais elaborado, mas o conteúdo permanece o mesmo e até quem acha agressivo pode dialogar com as obras”, conta.
“Minhas imagens são como cenas de filme que ficaram congeladas, sem antes nem depois”, afirma o artista, citando comentário do crítico Paulo Sérgio Duarte sobre seu trabalho.
Arruda é uma referência, particularmente contundente e singular, da visualidade que se afirmou a partir dos anos 1980, que abriu espaço tanto para maior presença da subjetividade (seja falando da política ou de temas existenciais) quanto novas abordagens dos meios tradicionais das artes visuais.
O que ele faz foi abrigado, nos anos 1990, pelo crítico italiano Achille Bonito Oliva, no contexto da chamada transvanguarda. O termo é usado para definir o trabalho de artistas que iam além da discussão formal da vanguarda. Então, em muitos casos, voltadas para práticas que fustigavam as noções convencionais de arte.
Ronaldo Fraga, por sua vez, apresenta imagens de sua última coleção (inverno 2016), que teve o amor como eixo conceitual e temático. “Em tempos de guerra não há maior transgressão do que falar de amor”, justificou Fraga. Um documentário apresenta o modo de trabalhar do estilista
É pura épura, de José Damasceno, Caleidoscópio, de Victor Arruda e Ronaldo Fraga
Instalação, pinturas e desenhos. dotART Galeria de Arte – Rua Bernardo Guimarães, 911, Funcionários, (31) 3261-3910. De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; sábados, das 9h às 13h. Entrada franca.