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'Elefante branco' discute o teatro e a conjuntura do país

Drama marca a primeira vez em que todos os integrantes do grupo Mamãe Tá na Plateia sobem juntos ao palco

Ana Clara Brant
Pela primeira vez desde que surgiu, em 2012, todos os integrantes do grupo teatral Mamãe Tá na Plateia estarão reunidos no palco.
Até 3 de abril, a trupe vai estar em cartaz no Teatro Espanca! com seu mais novo espetáculo, Elefante branco. Com direção de Gustavo Bones e Mariana Maioline, a montagem tem como pano de fundo as relações pessoais.

Encerradas em uma pequena sala, cinco pessoas vivem afundadas em mesmice e desempenham seus papéis de um corriqueiro cotidiano. Uma novidade, porém, rompe o cotidiano tomado pela inércia e coloca em xeque a lógica dessas relações. Unindo banalidades cotidianas a elementos surrealistas e fabulares, Elefante branco faz emergir reflexões sobre o fazer artístico nos tempos atuais.
- Foto: Nancy Mora/Divulgação
Ator e autor da produção, Raysner de Paula conta que, para os artistas, tem sido experiência muito significativa estar todos em cena e que é uma possibilidade de se identificar enquanto grupo. “É uma coisa muito forte estarmos nós cinco juntos. A gente se reconhece também como ator e criador. Em todos os espetáculos anteriores, sempre era um de nós que dirigia.
E agora convidamos a Mariana e o Gustavo justamente porque achávamos importante ter esse olhar externo”, observa.

O elenco conta também com Charles Valadares, Fabrício Trindade, Helaine Freitas e Vânia Silvério. Raysner de Paula acrescenta que já há um bom tempo  o Mamãe Tá na Plateia tinha a intenção de fazer algo com uma certa “pegada”. Analisando o rebuliço das eleições de 2014 e o caos político que se instaurou no país depois disso, os atores decidiram que era a hora de dar resposta aos acontecimentos do presente através do teatro. Inicialmente, eles começaram a estudar e a ler sobre diversos assuntos. Um dos livros que passaram pela mão do elenco foi Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago. “Até que um dia, eu estava em São Paulo, no Bairro Liberdade, e vi a alegoria imensa de um elefante branco. Era para um ritual de celebração do budismo. Nessa filosofia, o elefante tem uma significação toda sagrada, além de ser um símbolo da boa sorte, da sabedoria, da persistência e da determinação”, revela.

Outro simbolismo do elefante branco refere-se a algo de posse valiosa, da qual seu proprietário não pode se livrar e cujo custo (em especial o de manutenção) é desproporcional à sua utilidade ou valor. O termo é bastante utilizado na política para se referir a obras públicas sem utilidade. “A representação do elefante branco transita em vários lugares e por isso é possível fazermos leituras bem distintas sobre ele. O sagrado, o precioso, o oneroso que não sabemos para que serve. No fim das contas, a gente percebe que está falando do próprio teatro porque é uma arte que envolve todos essas significações”, ressalta Raysner.

ORIGEM Criado dentro da graduação em teatro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Mamãe Tá na Plateia busca produzir trabalhos teatrais que materializem esteticamente questões contemporâneas e que atravessem as relações de seus artistas com o outro e com o mundo. O nome da companhia expressa o desejo dos  integrantes de conceber um teatro que se implica com a democratização do acesso à arte, direcionando seu foco a um público que não é frequente nas casas de espetáculo.
Por isso, aos poucos, o Mamãe Tá na Plateia vem desenvolvendo ações de formação de público e criando diferentes formas de acesso às suas atividades artísticas. “O nome é uma brincadeira, porque temos toda uma ação voltada para pessoas que não costumam frequentar teatro. E, geralmente, essa figura é a mãe da gente, que passa a ir justamente em virtude dos filhos que estão encenando”, complementa.

O grupo já apresentou duas montagens – O menino que sonhava demais (2012) e João-de-barros (2014) – e quatro cenas curtas – Antes do fim (2012), Aurora (2013), Café das três (2014) e o próprio João-de-barros, concebido como uma cena antes de se desdobrar em uma peça. Depois da temporada em Belo Horizonte, Elefante branco irá circular pelo interior de Minas Gerais.

AJUDA

O público vai poder escolher, a partir de R$ 10, quanto quer desembolsar pelo ingresso de Elefante branco. Quem quiser, pode pagar mais e ajudar o grupo a cobrir os custos da criação do espetáculo, que não contou com apoio de patrocinadores ou de leis de incentivo à cultura.

Elefante branco
Espetáculo com o grupo Mamãe Tá na Plateia Até domingo, às 20h, no Teatro Espanca! (Rua Aarão Reis, 542, Centro): Ingresso: a partir de R$ 10. Duração: 60 minutos. Classificação: livre.
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