Para amenizar o sofrimento no campo de concentração, prisioneiras dos nazistas compartilhavam confidências e solidariedade em galpões cercados de horror. O diálogo, tão importante no cotidiano dessas mulheres, foi a forma escolhida pela companhia O Trem para discutir a violência de gênero na peça 'Boca cheia d’água', em cartaz no Teatro Bradesco.
A trama fala da rotina de quatro prisioneiras no Ravensbrück, o maior campo de concentração feminino da Segunda Guerra Mundial, que funcionou de 1939 a 1945, na Alemanha. Embora as personagens sejam fictícias, o roteiro é baseado em depoimentos das sobreviventes.
Restrita a 60 lugares, a plateia vai acompanhar tudo de cima do palco, em instalação-cenário criada pelo cenógrafo Ed Andrade. O diretor Marcelo Carrusca explica que o público se sentará em beliches, num corredor. “É como se as pessoas também estivessem confinadas. Queremos que elas se aproximem do que estamos querendo dizer”, afirma. Ele divide a direção com Bruna Longo.
O título se inspira na experiência cotidiana das presas, que enchiam a boca de água ao comentar suas experiências. “Que elas cuspam essa água para falar sobre o que é preciso”, diz Carrusca.
Lívia Gaudêncio, coautora da peça, conta que a montagem foi precedida de muita conversa com as atrizes. “Pelo menos uma das personagens deveria trazer a percepção da atualidade para o espetáculo. A mulher que interpreto é a coringa. Ela problematiza as questões por meio do nosso olhar contemporâneo”, explica Lívia, que divide a autoria do texto com Cecília Bilanski.
As autoras foram à Alemanha visitar o memorial do campo de concentração. “Foi muito pesado e extremamente exaustivo ouvir os depoimentos daquelas mulheres”, conta Lívia. As prisioneiras foram vítimas de estupro, além de submetidas à esterilização e à prostituição forçada. “Costumamos olhar para o Holocausto de forma distanciada, mas o que elas viveram ainda acontece hoje”, desabafa.
Lívia Gaudêncio se surpreendeu com as atitudes das prisioneiras para tentar suportar o horror. Inclusive, elas encenavam comédias para enfrentar a violência. “Levamos essa situação para o espetáculo. Adaptamos um pouco e, em vez de fazer comédia, as personagens falam sobre seus sonhos ao sair da prisão”, conclui.
'BOCA CHEIA D’ÁGUA'
Com O Trem Cia. de Teatro. Hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 19h. Teatro Bradesco. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. R$ 30 (inteira) e R$15 (meia-entrada). Capacidade: 60 lugares.
A trama fala da rotina de quatro prisioneiras no Ravensbrück, o maior campo de concentração feminino da Segunda Guerra Mundial, que funcionou de 1939 a 1945, na Alemanha. Embora as personagens sejam fictícias, o roteiro é baseado em depoimentos das sobreviventes.
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Lívia Gaudêncio, coautora da peça, conta que a montagem foi precedida de muita conversa com as atrizes. “Pelo menos uma das personagens deveria trazer a percepção da atualidade para o espetáculo. A mulher que interpreto é a coringa. Ela problematiza as questões por meio do nosso olhar contemporâneo”, explica Lívia, que divide a autoria do texto com Cecília Bilanski.
As autoras foram à Alemanha visitar o memorial do campo de concentração. “Foi muito pesado e extremamente exaustivo ouvir os depoimentos daquelas mulheres”, conta Lívia. As prisioneiras foram vítimas de estupro, além de submetidas à esterilização e à prostituição forçada. “Costumamos olhar para o Holocausto de forma distanciada, mas o que elas viveram ainda acontece hoje”, desabafa.
Lívia Gaudêncio se surpreendeu com as atitudes das prisioneiras para tentar suportar o horror. Inclusive, elas encenavam comédias para enfrentar a violência. “Levamos essa situação para o espetáculo. Adaptamos um pouco e, em vez de fazer comédia, as personagens falam sobre seus sonhos ao sair da prisão”, conclui.
'BOCA CHEIA D’ÁGUA'
Com O Trem Cia. de Teatro. Hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 19h. Teatro Bradesco. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. R$ 30 (inteira) e R$15 (meia-entrada). Capacidade: 60 lugares.