De hoje até domingo, vão ser celebradas duas datas que, independentemente de filiações religiosas, comovem: a morte, violenta e brutal, de Jesus e, no domingo pascal, sua ressurreição. A recordação dos dois episódios, em imagens ou narrativas, será realizada em todas as igrejas cristãs. A força das narrativas dos cristãos, em Minas Gerais, está inscrita em templos, alguns deles com história que remete aos primórdios da colonização do território mineiro. Uma igreja importante na história da capital de Minas Gerais está sendo completamente restaurada há mais de quatro anos: a São José, inaugurada em 1904.
O padre Flávio Leonardo, vigário paroquial do templo desde 2011, vê na empreitada não só resgate de patrimônio material, mas da cultura e arte de Belo Horizonte. Ele explica que a morte de Jesus, recordada hoje, integra algo maior: “O mistério pascal. A Paixão, a morte e a ressurreição de Jesus, como um todo, sem separar as partes”. Celebração que não remete só à vida de Jesus, frisa, mas de todos.
“A cada dia, morremos e ressuscitamos. Não só no sentido biológico, mas nos nossos projetos, ideais.
O padre evita a palavra luto, para definir o espírito da data. “É mais um momento de silêncio, de recolhimento. E o ser humano precisa de silêncio para repensar a vida e a sua caminhada neste mundo”, argumenta. “A ressurreição é mais importante, é a vitória da vida sobre a morte. Mostra que a morte não é a palavra final, que existe vida, futuro”, observa. “Então, é convite à esperança do novo, no sentido de deixar para trás as mágoas, ressentimentos”, explica. “O mais importante, nesta data, é o mistério que está sendo celebrado, não importa se em igreja monumental
ou debaixo de uma árvore”, acrescenta.
Restauração
Maria Regina Ramos, do grupo Oficina de Restauro, responsável pela restauração do templo, conta que a parte interna está pronta e ainda está por ser concluída a face externa. Um aspecto que deu vibração nova ao templo, explica, foi a recuperação de todas as pinturas. Elas estavam escurecidas pelo pó de asfalto, com verniz oxidado, várias muito estragadas e sem iluminação. A restauradora conta que o trabalho coloca em evidência o artista que fez praticamente tudo no templo: o alemão Guilherme Chumache, que executou a decoração interna, entre os anos de 1911 e 1912. O projeto é do arquiteto Edgar Nascente Coelho. Na decoração da igreja, Guilherme Chumache misturou os mais diversos estilos artísticos, explica Maria Regina Ramos. Cenas com maior realismo estão ao lado de flores, figuras, animais estilizados que parecem ilustrações de livros.
“Restauração completa é muito importante. Permite que você interprete o todo de forma correta e assim comece a entender a cabeça do artista”, explica Maria Regina. A tarefa, feita a partir de pesquisa, foi facilitada porque a Ordem (dos Redentoristas) tem diário que narra cada iniciativa tomada. A restauração teve impacto sobre o público. Cresceu o número de pessoas que frequentam a São José e anda cheia a agenda de casamentos no local.
Endereço: Rua Sergipe, 175, Funcionários, (31) 3222-2361.
Funcionamento: Sábado, das 9h às 14h, e segunda-feira, das 9h às 6h, o templo está fechado para limpeza.
Sua história teve início em 1709, quando o português Francisco Homem del Rey se estabeleceu na região onde hoje se encontra Belo Horizonte.
Aqui, construiu em suas terras pequena capela para abrigar imagem da padroeira dos navegantes portugueses, Nossa Senhora da Boa Viagem. Com o passar dos anos e a enorme devoção dos fiéis, a capelinha ficou pequena e foi erguida uma igreja maior. Outro templo, o atual, foi inaugurado em 1923, em contexto de implantação da nova capital.
IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS (1943)
Endereço: Avenida Otacílio Negrão de Lima, 3.000, Pampulha, (31) 3427-1644
Funcionamento: Aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábados, das 11h às 14h.
Inaugurada em 1943, é considerada uma das obras-primas da arquiteturamoderna do mundo. O projeto é de Oscar Niemeyer e o cálculo estrutural, de Joaquim Cardoso. Em seu interior, abriga pinturas de Portinari e os baixos-relevos, em bronze, de Alfredo Ceschiatti.
Os jardins são de Burle Marx. O painel, uma imagem de São Francisco, na face externa, é de Portinari – alvo de pichadores nesta semana, deverá ser restaurado até segunda-feira, de acordo com a Fundação Municipal de Cultura. A ousadia de formas e a decoração fizeram com que as autoridades eclesiásticas não permitissem, por 14 anos, a consagração da capela.
Endereço: Praça Getúlio Vargas, s/nº, Siderúrgica, Sabará.
Funcionamento: Aberta de terça a sexta, das 8h às 17h; Sábados, domingos, feriados e segundas, das 8h às 12h e das 14h às 17h. Ingressos: R$ 2.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, de Sabará, é exemplar da arte barroca brasileira. É popularmente chamada de ''Igreja Nova'' ou ''Grande'', tradição que vem da época de sua construção, em substituição à capela primitiva existente no mesmo local.
É uma das mais antigas igrejas do estado de Minas Gerais, mas a data precisa de sua construção não é conhecida, pois a documentação que sobrevive é muito escassa. Tampouco sabe-se quem foi o autor do projeto.
IGREJA NOSSA SENHORA DO Ó (1720)
Endereço: Largo do Ó, s/nº, Sabará.
Funcionamento: Aberta de terça a sexta, das 8h às 17h; sábados, domingos, feriados e segundas, das 8h às 12h, e das 14h
às 17h. Ingressos a R$ 2.
É outra das mais antigas igrejas mineiras. Tem estrutura pequena e simples, mas um interior ricamente decorado, sendo uma pequena joia do período colonial.
O nome remete à designação alternativa para Nossa Senhora da Expectação do Parto ou do Bom Parto, e o ''Ó'' evoca o suspiro oh!, das antífonas cantadas durante as cerimônias..