O ator Claudio Botelho reativou nesta terça, 22, sua conta no Facebook para se desculpar pelo incidente de sábado, em Belo Horizonte, quando um comentário improvisado por ele, chamando o ex-presidente Lula e a presidente Dilma de "ladrões", revoltou parte da plateia, o que interrompeu a peça "Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos". "Não tenho nenhum direito de inferir, pressupor, fazer ilações com nada que se refira ao autor, seja Chico ou qualquer outro artista que me autorize a trabalhar com sua obra", anotou. "Falhei com minha responsabilidade, com Chico, falhei com o teatro e com a música."
Leia a íntegra do texto:
Os incidentes do último sábado em Belo Horizonte durante a sessão do musical "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos" são do conhecimento de todos, eu suponho. Emiti uma opinião pessoal que causou reação negativa de uma parte da plateia. Mais do que isso, o espetáculo foi interrompido e a sessão não chegou ao final.
Deste acontecimento infeliz, que me tem causado enorme desgosto desde então (ameaças à minha integridade física pelo Facebook, telefone, trotes, acusações diversas sobre meu caráter e minha honra, insinuações sobre meu pensamento a respeito de temas delicados como racismo, autoritarismo, censura, entre outros) - desde aquele momento, apenas sofro, penso e repenso, estou muito triste. Porém minha tristeza é o que menos interessa neste momento.
Mas há algo fundamental e definitivo: peço desculpas a Chico Buarque. Nada do que vier de mim, nenhuma palavra, gesto ou pensamento, poderá jamais servir para desagradá-lo. Ele é o autor, o compositor, e estou trabalhando com sua obra.
Errei. Erro muito. Sou humano, mas isso não me desculpa. Aos 51 anos, sendo também autor e sendo um homem de história longa no teatro, eu tinha por obrigação preservar o autor e sua obra, não permitir que nada partindo de mim resvalasse nele, seja da forma que fosse. Por ser um admirador apaixonado e mais que isso, um pretenso "buarquiano" de carteirinha, minha responsabilidade é ainda maior. Dirigi e produzi "Ópera do malandro", "Suburbano coração", "Os saltimbancos trapalhões" (peça e filme que acaba de ser realizado com minha direção musical), "Na bagunça do teu coração", "Ópera do malandro em concerto", e idealizei "Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos" como uma maneira de reverenciar o artista, o compositor, o autor. Mas falhei com minha responsabilidade com Chico, falhei com o teatro e com a música.
Um áudio clandestino, gravado em meu camarim, me flagra num momento de enorme nervosismo, de destempero, de raiva. Nada justifica que invadam minha privacidade, considero a gravação um ato criminoso e a divulgação dela pelas mídias sociais é uma agressão à minha intimidade. Portanto, isto está sendo tratado em esfera policial e jurídica.
Minha exaltação e qualquer menção à obra do autor naquele dia são motivo de vergonha para mim neste momento. De qualquer forma, ouso crer que, por mais desatroso que tenha sido o acontecimento, o teatro ainda é um espaço que pode levantar debates nacionais de extrema relevância e repercussão. O teatro é sagrado e será sempre um espaço livre, de troca de ideias e de respeito às diferenças. Assim espero e por isso torço.
Envergonhado por ferir um estatuto sagrado do Teatro - respeitar o autor e público -, tenho obrigação de invocar novamente a única palavra que me parece oportuna neste momento: perdão.
A assessoria de imprensa de Chico Buarque informou que ele "aceitou a retratação".
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