O boom da produção de musicais que houve no país na última década mascara, ainda que sem intenção, um fato. O mais recente musical brasileiro com músicas inéditas é de 1989: Suburbano coração, montagem de Naum Alves de Souza, com canções de Chico Buarque.
“Não existe hoje musical brasileiro. A menos que uma pessoa me diga que está compondo algo inédito. O que não está”, afirma o produtor e diretor Cláudio Botelho.
Ele fala com conhecimento de causa. A dupla que criou com Charles Möeller é responsável por boa parte da explosão recente que houve do gênero nos palcos. Juntos há 25 anos, montaram desde clássicos importados, como Hair e A noviça rebelde, até espetáculos com cancioneiro brasuca, como Lupicínio e outros amores. Desta seara, encenaram ainda novas versões dos musicais de Chico: Ópera do malandro, Os saltimbancos trapalhões e o já citado Suburbano coração.
Diante disso, têm estofo para reunir a produção teatral, cinematográfica e literária de Chico em um só projeto. Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos estreou em 2014, no Rio de Janeiro, onde cumpriu temporada. Ano passado, foi a vez de São Paulo. Só agora o espetáculo começa a fazer turnê no Brasil. Hoje e amanhã, ele será apresentado no Sesc Palladium.
Quem assistiu a Beatles num céu de diamantes e Milton Nascimento – Nada será como antes, quando da passagem dos musicais por BH, vai encontrar alguma semelhança. Assim como nos trabalhos anteriores, neste não há diálogo. É música do início ao fim.
Mas Botelho afirma que a montagem de Chico Buarque dá um passo além. “Aqueles dois não têm história, são mais em formato de revista. Já o do Chico é mais arrojado, pois ele traz uma dramaturgia.” Que é construída por canções como Tatuagem (de Calabar), Sem fantasia (de Roda viva) e Pedaço de mim (de Ópera do malandro). Há também canções da trilha dos filmes Quando o carnaval chegar, Para viver um grande amor e Dona Flor e seus dois maridos e até menções a livros como Budapeste e O irmão alemão.
TRUPE O cancioneiro é utilizado para contar a história de uma trupe teatral mambembe (algo como a Caravana Rolidei de Bye bye Brasil). Botelho, diretor e produtor na maior parte do tempo, abriu um lugar na agenda para voltar ao palco. Ele é o protagonista do espetáculo, um idoso em início de demência casado há muitos anos (sua mulher é interpretada por Soraya Ravenle, uma das atrizes mais completas e prolíficas de musicais) que se encanta com a chegada de uma jovem à trupe.
Os atores/cantores representam personagens definidos em uma única história que liga uns aos outros através das canções e também são personagens das peças que vão encenando ao longo das praças onde param para apresentar seu espetáculo. O público assiste, desta maneira, ao teatro dentro do teatro.
“Minha participação em palco ocorre mais por gosto. É um prazer que me permito de vez em quando, tanto que canto do meu jeito, sem grandes pretensões”, comenta Botelho. Como já havia trabalhado muitas vezes com Chico, afirma que o processo desta montagem foi muito tranquilo.
“Este é o quinto espetáculo que faço com música dele. Ele é generoso, me dá carta branca. Só pede para assistir antes.” Desta vez, Chico só pôde assistir duas semanas após a estreia. “Ele só me pediu para tirar um trecho de Pedaço de mim e de Bárbara”, acrescenta Botelho, que gravou a trilha sonora para CD lançado pela Biscoito Fino.
Soraya Ravenle confirma a tranquilidade. “Minha maior bagagem musical é brasileira, então tudo eu conhecia muito, mesmo nunca tendo cantado.” Com 30 musicais no currículo, ela comenta que cantar Chico foi uma maneira de redescobri-lo. Exemplifica com a canção Bastidores. “A memória que tenho dela é a da interpretação do Cauby Peixoto. Mas, no espetáculo, ela se transformou numa grande discussão de casal. Isto também ocorre com Gota d’água, quando canto em cena depois de ter sido deixada sozinha.”
Para a atriz e cantora, a maneira como o musical foi concebido acaba recontextualizando a produção de Chico para o público também. Muita gente sai da montagem pensando que não havia reparado em tal letra. E independentemente do local e da plateia, o impacto que a produção buarquiana causa é enorme. Há poucas semanas, a equipe voltou de apresentações para milhares de pessoas no Porto e em Lisboa. “Os portugueses conhecem o Chico de uma maneira maior até que a nossa. Acho até esquisita a paixão, reverência e admiração que têm por ele”, diz ela.
Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos
Hoje, às 21h, e amanhã, às 19h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Ingressos: R$ 25 a R$ 100.
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“Não existe hoje musical brasileiro. A menos que uma pessoa me diga que está compondo algo inédito. O que não está”, afirma o produtor e diretor Cláudio Botelho.
Ele fala com conhecimento de causa. A dupla que criou com Charles Möeller é responsável por boa parte da explosão recente que houve do gênero nos palcos. Juntos há 25 anos, montaram desde clássicos importados, como Hair e A noviça rebelde, até espetáculos com cancioneiro brasuca, como Lupicínio e outros amores. Desta seara, encenaram ainda novas versões dos musicais de Chico: Ópera do malandro, Os saltimbancos trapalhões e o já citado Suburbano coração.
Diante disso, têm estofo para reunir a produção teatral, cinematográfica e literária de Chico em um só projeto. Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos estreou em 2014, no Rio de Janeiro, onde cumpriu temporada.
Quem assistiu a Beatles num céu de diamantes e Milton Nascimento – Nada será como antes, quando da passagem dos musicais por BH, vai encontrar alguma semelhança. Assim como nos trabalhos anteriores, neste não há diálogo. É música do início ao fim.
Mas Botelho afirma que a montagem de Chico Buarque dá um passo além. “Aqueles dois não têm história, são mais em formato de revista. Já o do Chico é mais arrojado, pois ele traz uma dramaturgia.” Que é construída por canções como Tatuagem (de Calabar), Sem fantasia (de Roda viva) e Pedaço de mim (de Ópera do malandro). Há também canções da trilha dos filmes Quando o carnaval chegar, Para viver um grande amor e Dona Flor e seus dois maridos e até menções a livros como Budapeste e O irmão alemão.
TRUPE O cancioneiro é utilizado para contar a história de uma trupe teatral mambembe (algo como a Caravana Rolidei de Bye bye Brasil). Botelho, diretor e produtor na maior parte do tempo, abriu um lugar na agenda para voltar ao palco. Ele é o protagonista do espetáculo, um idoso em início de demência casado há muitos anos (sua mulher é interpretada por Soraya Ravenle, uma das atrizes mais completas e prolíficas de musicais) que se encanta com a chegada de uma jovem à trupe.
Os atores/cantores representam personagens definidos em uma única história que liga uns aos outros através das canções e também são personagens das peças que vão encenando ao longo das praças onde param para apresentar seu espetáculo. O público assiste, desta maneira, ao teatro dentro do teatro.
“Minha participação em palco ocorre mais por gosto. É um prazer que me permito de vez em quando, tanto que canto do meu jeito, sem grandes pretensões”, comenta Botelho. Como já havia trabalhado muitas vezes com Chico, afirma que o processo desta montagem foi muito tranquilo.
“Este é o quinto espetáculo que faço com música dele.
Soraya Ravenle confirma a tranquilidade. “Minha maior bagagem musical é brasileira, então tudo eu conhecia muito, mesmo nunca tendo cantado.” Com 30 musicais no currículo, ela comenta que cantar Chico foi uma maneira de redescobri-lo. Exemplifica com a canção Bastidores. “A memória que tenho dela é a da interpretação do Cauby Peixoto. Mas, no espetáculo, ela se transformou numa grande discussão de casal. Isto também ocorre com Gota d’água, quando canto em cena depois de ter sido deixada sozinha.”
Para a atriz e cantora, a maneira como o musical foi concebido acaba recontextualizando a produção de Chico para o público também. Muita gente sai da montagem pensando que não havia reparado em tal letra. E independentemente do local e da plateia, o impacto que a produção buarquiana causa é enorme.
Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos
Hoje, às 21h, e amanhã, às 19h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Ingressos: R$ 25 a R$ 100.